“A seguir a um vale vem sempre uma montanha”
António Martins, 49 anos, proprietário do restaurante O Forno de Almeirim
António Martins, 49 anos, é casado e tem um filho. Os seus dias de trabalho são passados no restaurante de que é proprietário onde, entre outras tarefas, é responsável pelos grelhados. Diz que só vai a casa para dormir. No único dia de folga semanal aproveita para andar de bicicleta, correr ou passear com a família. Diz que gosta do que faz e trabalha por gosto. Servir o cliente sempre da melhor maneira possível é o seu lema. Não se lembra de alguma vez ter perdido a cabeça com um cliente mais difícil.
Estudava o mínimo para poder passar de ano. Só até ao 9º ano é que fui bom aluno e cumpridor. Depois comecei a descambar e ainda chumbei alguns anos. Era um rapaz traquina. Os meus pais não eram rígidos, davam-me liberdade. Tive uma infância normal, com muitas brincadeiras na rua. Nasci e cresci em São Salvador, em Santarém. Tirei a universidade dentro do restaurante “O Forno”. Tinha 18 anos quando o pai da minha namorada me convidou para ir trabalhar para o Forno, que tinha aberto. Era empregado de mesa e tomava conta do armazém. Mais tarde encarreguei-me dos grelhados. Depois o meu sogro avançou para a construção da Quinta da Feteira e eu assumi ainda mais responsabilidade dentro do restaurante. Há oito anos acabei por comprá-lo. É importante passar por todas as tarefas dentro de um negócio para estar dentro de tudo. Trabalho naquilo que gosto e dedico-me de corpo e alma. Um restaurante é uma vida difícil e exigente, mas tenho a sorte de gostar daquilo que faço. Não sinto que venho cumprir mais um dia ou ando a contar os dias para chegar à folga. O cliente é o nosso patrão. Só existimos porque eles existem e precisamos de lhes prestar o melhor serviço possível. A restauração vive momentos difíceis. As pessoas não têm poder de compra. Vêm menos vezes comer fora. Temos de arranjar estratégias para dar a volta a esta situação. Não podemos também estar sempre em baixo. A seguir a um vale vem sempre uma montanha. É preciso é empenho e trabalhar com gosto. Nunca perdi a cabeça com um cliente. Num momento difícil respiro fundo, conto até dez e tento ser agradável. O cliente por natureza é exigente e existem sempre os mais difíceis. Mas como se diz, o cliente tem sempre razão. Das 11h30 às 15h30 o ambiente é stressante na cozinha. Discutimos por vezes e dizemos coisas que não queremos. É preciso passar uma borracha por cima, conversar depois e esquecer o que aconteceu.Há alguns anos que estou responsável pelos grelhados. A carne e o peixe são preparados por mim. Gosto que as coisas me passem pela mão, não porque não confie no meu pessoal mas porque gosto de saber o que vai para o cliente. Se estamos a fazer, temos de fazer bem feito para defendermos o nosso posto. No dia de folga liberto-me por completo do trabalho. Vou andar de bicicleta com a minha esposa ou vamos correr. À tarde saio com a família, tento passear um pouco. Durante a semana tento correr duas vezes por semana. Gosto de andar ao ar livre, ajuda-me a aliviar do stress. Tiro normalmente oito dias de férias, duas vezes por ano. No Verão vou para o Algarve ou Sesimbra e no Inverno vou para o Norte. Duas vezes por semana regresso a casa às 4h00. Vou com a minha esposa ao Mercado Abastecedor da Região de Lisboa (MARL) buscar peixe fresco, depois de encerrarmos o restaurante, à meia-noite. Gosto de escolher o peixe fresco, de melhor qualidade. Às 8h30 já estamos novamente no restaurante. São poucas horas de sono, mas o corpo já se habituou com o tempo. Só falta trazer a cama para o restaurante. Gostava de abrir um restaurante em Lisboa. É um projecto adiado tendo em conta a actual conjuntura. Mas quero crescer e logo que as coisas melhorem vou tentar algo de novo para ver no que dá. O que quero de momento é manter esta casa. A galinha do vizinho não é melhor do que a nossa. É mentira. Todas as profissões têm problemas. Quando nos dedicamos, deixamos de ter liberdade total e passamos a levar os problemas da profissão connosco para casa. Existem sempre contrariedades na vida a que é preciso dar a volta. Eduarda Sousa
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