A presidente da Junta de Freguesia de Pernes, Salomé Vieira (CDU), diz que não tinha condições para se recandidatar ao cargo devido ao processo judicial que lhe foi movido por não ter apresentado atempadamente ao Tribunal de Contas as contas da junta referentes a 2009. A posição da autarca contou com a solidariedade dos restantes eleitos da CDU e essa força política ficou sem condições para apresentar candidatura a uma autarquia que gere há mais de 20 anos.O atraso na entrega das contas de 2009 da junta de freguesia resultou numa coima de 586 euros que inicialmente foi liquidada pela junta de freguesia. Após ter sido advertida pelo Tribunal de Contas que esse não era o procedimento correcto, a autarca assumiu a despesa sanando a irregularidade, mas o caso acabou por ser comunicado pelo Tribunal de Contas ao Ministério Público de Santarém. Daí resultou o processo judicial que se encontra a decorrer, nos termos da lei de responsabilização dos titulares de cargos políticos.“Com o processo em tribunal achei que não devia candidatar-me porque quero as coisas clarinhas. Não queria meter-me noutra sem ter as coisas esclarecidas”, diz ao nosso jornal Salomé Vieira, referindo que a decisão foi “mais ou menos pacífica” no seio da CDU e que, por outro lado, também tem alguns assuntos de natureza pessoal que vai aproveitar para tratar agora que vai ter mais tempo livre.Salomé Vieira diz no entanto que este não é um ponto final na sua participação na política e que continua a identificar-se com a ideologia da CDU. “Daqui a uns tempos cá estarei, caso me queiram”, diz a autarca, referindo que vai continuar atenta aos problemas da sua freguesia.Quanto ao mandato que agora termina, diz que o mesmo foi “bastante complicado” em termos financeiros e administrativos e confessa que leva alguma desilusão por não ter visto as obras do Mouchão de Pernes concluídas. A empreitada está suspensa há muito e o anunciado recomeço das obras, prometido pela Agência Portuguesa do Ambiente para meados de Julho, ainda não se cumpriu. “Até à data não nos foi dito mais nada”, afirma.CDU diz que não havia alternativaA CDU de Santarém reconhece que a não apresentação de lista à freguesia de Pernes, situação inédita no seu historial, vai causar alguns prejuízos eleitorais, desde logo nessa freguesia governada pela coligação há muito tempo, mas José Luís Cabrita, dirigente dessa força política, diz que não havia alternativa à actual situação.“Nestas circunstâncias a alternativa era muito complicada, porque as pessoas que nos últimos anos têm estado envolvidas com a CDU na gestão da Junta de Freguesia de Pernes estão totalmente solidárias com a presidente”, afirma ao nosso jornal José Luís Cabrita, acrescentando que se a CDU decidisse apresentar uma lista com nomes alternativos tal poderia ser entendido como uma afronta à posição tomada pela presidente e a quem se solidarizou com ela.O dirigente da CDU entende ainda que “o processo em tribunal não criava condições à presidente da junta para se recandidatar”, deixando também uma crítica velada à legislação em vigor. “Achamos que é uma incongruência da lei, que persegue os autarcas das freguesias mesmo nos casos em que não se regista qualquer dolo, pois tratou-se de um lapso que foi prontamente corrigido”.