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“Orgulho-me de ter conseguido resolver processos complexos”

“Orgulho-me de ter conseguido resolver processos complexos”

Sérgio Salvador, 49 anos, solicitador, Santarém

Em criança queria ser piloto de aviões comerciais. Afastada essa hipótese entrou para Direito mas acabaria por ser Solicitador onde se sente realizado profissionalmente apesar de, actualmente, considerar que trabalha “na selva da concorrência”. Não faz projectos a longo prazo e aprendeu a desligar do trabalho ao fim-de-semana e nas férias para se dedicar ao que é mais importante: o filho, a família e os amigos. Acredita que com saúde, força de vontade e trabalho se consegue alcançar a maioria dos objectivos.

Quando era criança dizia que queria ser piloto de aviões comerciais. Fascinava-me carregar num botão e levantar um “monstro” daqueles. Nasci em Moçambique mas vim para Portugal, após o 25 de Abril, com dez anos. Ainda vivi alguns meses na Amadora mas depressa vim para Santarém. Os meus pais eram professores e foram aqui colocados. Tenho raízes na Golegã por parte do meu pai e da Covilhã por parte da minha mãe. O Ribatejo prevaleceu em relação ao Norte. Desisti no segundo ano do Curso de Direito. Era muito difícil e não havia ambiente para estudar. Mais tarde, quando pensei em voltar à escola, fui tirar o curso de Solicitador uma vez que tinha muito em comum com o Direito. Frequentei o Centro de Estudos Judiciários dois anos e fiz estágio outros dois anos. Sempre gostei mais de letras do que Ciências e achei que era capaz de ter jeito para ajudar a resolver os problemas dos outros. Temos que saber ouvir os desabafos dos clientes. Temos que ter a capacidade de saber ouvir, aconselhar o melhor que sabemos e tentar depois a melhor solução. Quando terminei a formação fiquei a estagiar com um colega de Santarém. Depois comecei a trabalhar com um advogado e com outro colega e consegui ter o meu próprio espaço. Santarém foi uma escolha natural, pois é aqui que moro. Actualmente, fruto da legislação, vivemos na selva da concorrência. A profissão sofreu muitas alterações. Sou solicitador há 26 anos. Já estava na altura de me reformar (risos). Esta actividade registou grandes alterações, fruto da legislação. Há 20 anos, existiam escritórios de solicitadores em Santarém que eram mais procurados do que os advogados. Nos locais onde estagiei existiam muitas avenças com as grandes casas agrícolas de Santarém.A vida ensina-nos que temos que enfrentar barreiras para chegar a bom porto. Lido bem com o imprevisto. Por norma acordo às oito da manhã, despacho as coisas para estar no escritório pelas nove e meia. Demoro pouco mais de meia hora a almoçar e regresso ao trabalho, ficando até ser necessário. Ao fim-de-semana e nas férias desligo mas durante muitos anos levava trabalho todos os dias para casa. A vida ensinou-me a pensar de outra maneira. O cliente não é apenas um número para as estatísticas. Há um mês fui fazer uma escritura a uma Casa Pronta em Lisboa e aquilo são aviários de ganhar dinheiro e fazer papéis. O atendimento faz-se num espaço aberto, sem qualquer privacidade, apenas com divisórias amovíveis. Dizem assine aqui e dê cá o cheque. O que se devia fazer numa hora em Santarém ali decorre em quinze minutos. A diferença está na qualidade e no atendimento personalizado. Aqui acompanhamos os processos do início ao fim.Orgulho-me de ter conseguido resolver processos complexos. Há dois anos, tivemos um processo muito complicado em Santarém referente à Escola Prática de Cavalaria, sendo necessário tratar dois ou três assuntos para a câmara que tinham que estar concluídos até Dezembro de 2011. Foi trabalhar de dia e de noite, ao sábado e domingo. Houve muito empenho e trabalho mas orgulho-me de dizer que foi feito no meu escritório e dentro dos prazos que nos pediram. Trabalhamos para transformar o que era o antigo quartel em fracções autónomas ou prédios que podem ser arrendados individualmente. Também me recordo de um processo que tive, há 14 anos, o das partilhas dos Infantes da Câmara de Vale Figueira. Foi das escrituras mais complicadas que tivemos que fazer e envolvia valores muito altos. Durante a semana tentamos resolver os problemas dos outros, ao fim-de-semana tento resolver os meus. Os problemas dos clientes vão connosco para casa. Quando conseguimos acabar um processo, ficam os clientes satisfeitos e ficamos nós. Ao fim-de-semana e nas férias tento desligar e ocupar o tempo com outras coisas. Não vale a pena levarmos todos os dias trabalho para casa. A família, os amigos, os filhos são mais importantes. Gosto muito de andar de bicicleta e de barco a motor. E ando muito tempo entretido no quintal que tenho em frente a casa, a fazer jardinagem. Vivo a 14 quilómetros de Santarém. Gosto muito do campo. Por vezes saio à sexta-feira e só regresso na segunda. Gosto de passar tempo com os amigos e o meu filho de 12 anos e vou gravando esses momentos no computador. Em criança fiz equitação, natação, ginástica, basquetebol e joguei muito à bola com os meus amigos. Na vida conseguimos normalmente atingir a maior parte dos nossos objectivos se tivermos saúde e muita força de vontade. Temos que ter vontade de vencer. A vida é um espectáculo. Temos que saber aproveitá-la e desfrutar o dia a dia com a maior intensidade que possamos. Antes fazia projectos a vinte e a trinta anos. Agora faço projectos para semanas, no máximo, a meses. Dispenso a gravata. Não preciso dela para impor respeito. Precisamos é de apresentar resultados. Não se resolve os problemas das pessoas com gravatas mas sim com a cabeça. Sou uma pessoa organizada e metódica. Quem mexe com papéis e tem muitas respostas para dar sabe que tem que se ter muita organização, método, agenda e calendário. Não gosto que me mexam nos papéis. Sei sempre quando é que alguém trocou um processo de sítio. Gostava de ir a Moçambique, onde nasci, nem que fosse apenas para umas férias de quinze dias. Passear e viajar é o que levamos de bom desta vida. Mas também gostava de ir às Ilhas Seychelles, à Jamaica, à Polinésia Francesa. Se me saísse o euromilhões eram destinos garantidos. Não sei cozinhar, nem gosto. Normalmente só aprendo aquilo de que gosto (risos).Elsa Ribeiro Gonçalves
“Orgulho-me de ter conseguido resolver processos complexos”

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