“A restauração é um negócio sensível que vive de detalhes”
Fernando Carneiro, 58 anos, sócio-gerente do restaurante O Forno, Vila Franca de Xira
O primeiro trabalho de Fernando Carneiro foi num restaurante e desde então não se vê a fazer outra coisa. Um dia, à conversa com um amigo, decidiu arriscar e abrir O Forno, um dos restaurantes mais famosos de Vila Franca de Xira. Diz que tenta fazer sempre o melhor e que aposta sempre na qualidade. Tudo o que serve é comprado em Vila Franca. À mesa não dispensa uma espetada de carne do lombo ou um bacalhau assado com batatas à murro.
O meu primeiro emprego foi como empregado num restaurante. Comecei por fazer recados aos clientes, comprava os jornais, cigarros, arrumava uns casacos e limpava os cinzeiros. Foi depois, em 1973, que um conhecido me recomendou para vir trabalhar num restaurante de Vila Franca de Xira.Apaixonei-me por Vila Franca de Xira assim que cheguei, em 1973. A cidade recebeu-me lindamente, tive pessoas que me ensinaram a conhecer a terra, porque era diferente das outras localidades por onde tinha passado. Sou natural de Vila Verde, concelho de Braga e comecei a trabalhar em Monte Estoril. Vila Franca de Xira era mais castiça quando vim para cá, convivia-se mais, havia muita alegria à noite e acabei por fazer algumas amizades com a rapaziada dos toiros, gostava muito do ambiente e isso ajudou-me a enraizar-me muito mais em Vila Franca.Ainda trabalhei na estalagem do Gado Bravo, antes de abrir O Forno. Em Janeiro de 1984 um sócio, José Gomes, sugeriu-me a ideia de abrir um restaurante nosso. Não hesitei. Abrimos a 20 de Junho de 1984. Isto era uma adega de vinhos, quase como uma tasca. Reparámos o edifício, mantivemos a traça original e assim continuámos. Somos hoje uma sociedade de três pessoas - José Gabriel, José Gomes e eu próprio. Dormi bem na primeira noite do negócio. Quando se é novo e se está mais imaturo tem-se mais dinâmica, pensa-se positivo porque se algo correr mal ainda temos tempo para recuperar e emendar. Isso dá uma certa tranquilidade. Quando se começa a ser maduro começamos a ser mais ponderados. O mais importante é servir qualidade aos clientes. Para mim é muito gratificante quando chegamos a uma mesa e ouvimos os clientes a elogiar-nos. A comida é quase como uma peça de arte. Não há duas peças iguais.A restauração é como uma droga e seria difícil viver sem isto. Quando criámos este restaurante pensámos em fazer algo diferente. Construímos um forno a lenha para cozer o pão à vista do cliente. Somos um restaurante vocacionado para os grelhados, tanto de peixe como de carne e trabalhamos só com brasa de lenha. Temos pratos que são a nossa referência, como a espetada de carne do lombo e arroz de tamboril com gambas. A restauração é difícil e vive muito de pormenores. É um negócio muito sensível, é preciso ter cuidado e exige muita sensibilidade. Não está na restauração quem quer, é mesmo só para pessoas vocacionadas para isto. Ocupa muito tempo e requer muita dedicação. Dedico a isto muitas horas da minha vida. Já se nota uma recuperação, ainda que muito lenta, na restauração. Passámos anos difíceis, agora nota-se que as coisas estão a melhorar um pouco, mas continua muito inconstante. Ficamos contentes quando os clientes nos entram pela porta. É bom para nós e sinal que as pessoas começam a poder vir novamente ao restaurante. Para nós é difícil gerir dias em que se trabalha bastante bem e depois outros dias em que quase não se trabalha nada. Prefiro vender melhor qualidade do que oferecer pratos muito baratos. Durante anos o nosso concelho tinha um grande potencial e empresas enormes, como a Tudor, Metal-Ferro, a Ter-Tir, Mague ou as OGMA, para citar algumas. Havia sempre gente a comer fora e a dinamizar o comércio. Mas tudo isso se alterou e o consumo diminuiu.Sinto-me mal quando estou a servir o melhor que pode haver a um cliente e ele me diz que não está grande coisa. É como uma facada mas temos de estar preparados para ouvir e calar. A nossa espetada de carne do lombo ou o bacalhau assado com batata à murro são os meus pratos favoritos. Gosto de comer de tudo um pouco, desde que as minhas papilas gustativas estejam a gostar e a sentir-se bem com o que estou a provar.Filipe Matias
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