Especial 25 de Abril | 16-04-2014 15:18

“Eu e a minha irmã nascemos em França por o meu pai estar envolvido na luta contra a ditadura”

Onde estava no 25 de Abril e o que sentiu quando soube o que se estava a passar? Eu tinha pouco mais de um ano de idade quando se deu o 25 de Abril. Por motivos políticos, uma vez que o meu pai esteve envolvido na luta contra o fascismo, nasci em França. Regressámos a Portugal em Junho de 1974, dois meses após a revolução.O que significou para si o 25 de Abril? Proporcionou à minha geração viver em liberdade. Aos militares de Abril e a todos aqueles que, ao longo de décadas, sofreram na pele as adversidades da ditadura, devemos uma palavra de agradecimento. É nossa responsabilidade honrar a memória daqueles que fizeram Abril.Precisamos de outro 25 de Abril? A revolução de Abril será sempre uma obra inacabada. Todos os dias temos que cumprir os ideais de Abril. Todos os dias temos que trabalhar por uma sociedade mais justa, mais livre e mais solidária.Tem alguma memória que queira partilhar, da vida antes de 25 de Abril de 1974, seja sua ou relatada por familiares ou amigos? Tenho a memória transmitida pelos meus pais e avós. Muitos desses meus familiares tinham militância no Partido Comunista Português, espaço político que encontraram para lutar contra o fascismo. Face a essa luta, eu e a minha irmã nascemos em França e a história das nossas vidas também é contada por Abril.Quem é a pessoa que melhor simboliza o 25 de Abril? Salgueiro Maia. Um homem determinado que teve a capacidade de mobilizar mulheres e homens corajosos, para dar início à revolução de 25 de Abril. A humildade com que pautou a sua vida constitui um exemplo para todos nós.Vivemos em democracia? Sim. Com todas as suas imperfeições, próprias da natureza humana, existe a liberdade de escolha dos nossos representantes. Existe a liberdade de escolha, em regime de igualdade, para escolhermos aqueles que nos representam. Reconheço que existe ainda muito por fazer para aumentar a transparência das decisões públicas e para reforçar os níveis de participação e o envolvimento dos cidadãos nas tarefas colectivas. Que avaliação faz dos partidos políticos ao longo dos últimos 40 anos? Os partidos políticos são, na sua base, associações constituídas por mulheres e homens, reflectindo os defeitos e as virtudes dessa nossa condição humana. Cada um deles defende diferentes modos de organização social e económica, em função dos seus pressupostos ideológicos. Julgo que um certo descrédito que paira na nossa sociedade sobre os partidos políticos resulta da falta de respostas aos reais problemas das pessoas, das empresas e das instituições.Que avaliação faz da forma como funciona a justiça? Um conjunto de processos mediáticos, que envolvem pessoas e instituições com poder económico, dão a percepção pública de que existe uma justiça para ricos e uma justiça para pobres. Penso que os operadores judiciais também são vítimas do ineficaz e complexo quadro legal, criado pelo legislador, em que trabalham. O país tem a obrigação de assegurar uma justiça mais próxima e célere para todos os cidadãos. A justiça é um pilar fundamental de um Estado democrático.Que testemunho pode dar da forma como tem sido atendido no Serviço Nacional de Saúde? Eu sou um utente que recorre muitas vezes ao Serviço Nacional de Saúde. Fui transplantado e sou acompanhado apenas em hospitais públicos. Sou defensor de um maior investimento no Serviço Nacional de Saúde, que não deixe ninguém de fora em função do seu rendimento.Quem melhor serve os cidadãos e usa os recursos disponíveis? O poder local ou o poder central? Tenho, para mim, comprovado em diversos estudos técnicos, que quem está mais próximo, gere com maior eficiência os recursos que tem à sua disposição. Nesse sentido, considero que, em determinadas áreas, a descentralização de competências da administração central para a administração local tem sido positiva, nomeadamente para facilitar o acesso dos cidadãos aos serviços públicos.Tem algum testemunho pessoal relacionado com o 25 de Abril, a democracia e a liberdade que queira partilhar com os leitores?​ Há cerca de quinze anos, juntamente com outras forças partidárias, criámos a iniciativa “Filhos de Abril”, que teve por objectivo principal promover o envolvimento dos mais jovens do nosso concelho na temática da revolução de Abril, através de um conjunto de actividades culturais, desportivas e recreativas. É importante fazer Abril, é assegurar que as gerações vindouras continuem a cumprir o sonho de uma sociedade mais livre, mais igual e mais fraterna.

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