Especial 25 de Abril | 16-04-2014 15:18

“Foi o 25 de Abril que me deu a oportunidade de tirar um curso superior”

Eu tinha 10 anos quando foi o 25 de Abril. A minha infância foi toda ela marcada pela guerra colonial, visto que o meu pai era militar de carreira e fez várias comissões nas antigas colónias. Quando eu tinha apenas seis dias de vida o meu pai partiu para Angola. Quando voltou, dois anos depois, eu não o conhecia e recusava o seu colo. Para mim, então, o meu pai era o meu avô porque este, sim, estava presente, via-me crescer, ensinava-me a ser gente todos os dias. Tinha eu 7 anos, em 1971, a guerra colonial separou a nossa família quando a minha mãe, levando a minha irmã, abalou para África, para junto do meu pai, e eu e o meu irmão ficámos cá, entregues aos cuidados dos avós. Para a criança que eu era, o 25 de Abril foi, antes de mais, o primeiro dos três D’s do programa do MFA – Descolonizar. O fim da guerra colonial, após 13 longos anos de um esforço imposto, injusto e inútil, significou o regresso definitivo do meu pai a casa e a estabilização da nossa vida familiar. Por outro lado, o 25 de Abril abriu portas aos outros D’s – Democratizar e Desenvolver. A democracia chegou logo e foi-se depois consolidando, num processo complexo que se encontra, ainda hoje, longe de estar concluído, faltando aprofundá-la de modo a que, mais do que representativa, ela seja, acima de tudo, uma democracia participativa. Mas ultrapassou-se a ditadura e passámos a viver num país livre, sendo o poder local democrático uma das maiores conquistas e das maiores construções do Portugal destes últimos 40 anos. O desenvolvimento é o que sabemos. Cometeram-se muitos erros e houve muitas atitudes reprováveis, mas o país está hoje outro, a todos os níveis. Basta pensar em três aspectos dos tantos que mudaram a nossa vida colectiva: as infra-estruturas (vias de comunicação, hospitais, escolas, saneamento básico, rede eléctrica, instalações desportivas, equipamentos de apoio à infância e à terceira idade, espaços de lazer, etc, etc, etc.) e nas outras duas conquistas maiores destes anos de democracia – o ensino universal e gratuito até ao 12.º ano e o Serviço Nacional de Saúde. O concelho de Constância, pequeno pedaço do Portugal interior, é bem o espelho dessa transformação imensa e sem precedentes. Eu própria sou testemunho vivo da mudança que Abril permitiu. Foi o 25 de Abril que abriu à rapariga que eu era a possibilidade de prosseguir estudos e alcançar um grau superior. Foi o 25 de Abril que me deu, como às outras mulheres, o direito de votar e de ser cidadã de corpo inteiro. E foi o 25 de Abril – e o voto livre e democrático do povo do concelho de Constância – que me deu a maior honra da minha vida: a de ser a primeira mulher a presidir à câmara municipal da minha terra.

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