Especial 25 de Abril | 16-04-2014 15:17

“Não podemos ser um país que maltrata os idosos e incentiva os jovens a emigrar”

Para quem nasceu em 1974 falar do 25 de Abril é falar do que se leu, viu na televisão e ouviu contar a pessoas mais velhas. As minhas primeiras percepções, ainda muito jovem, sobre a importância do 25 de Abril resultaram da visualização de slides e fotografias tiradas pelo meu pai, ex-combatente em Moçambique.Como todos os miúdos, gostava de ver aquelas imagens apesar de não ter a verdadeira noção do que tinha sido a realidade daquela guerra. Acho que para uma geração o 25 de Abril, mais do que a liberdade, representou o fim de um pesadelo de ver partir os seus amigos e familiares para a Guerra.Passados 40 anos e apesar de muitos erros que cometemos, e cometemos muitos enquanto povo, a verdade é que Portugal é hoje outro País. Aquilo que outros fizeram em cem anos nós fizemos em poucas décadas. Na educação, na saúde, no apoio social, pilares base de um Estado social, as diferenças são abismais, apesar do ataque que tem sido perpetuado nestes últimos anos contra estas áreas. Como todos dizem, 25 de Abril é liberdade. E liberdade só existe, só pode existir e só faz sentido, com justiça, justiça social e desenvolvimento económico. Um povo sem pão nunca pode ser um povo livre. Com um desemprego perto dos 20% e um desemprego jovem ainda mais elevado. Com gente a sobreviver em vez de viver para que uns quantos banqueiros recuperem o que perderam numa “economia de casino”. Um País que maltrata os seus idosos e incentiva os seus jovens a emigrar corre o sério risco de ser um País que, no futuro, regressa ao passado. Muitos têm sido aqueles que dizem que necessitamos de um outro 25 de Abril. Eu sou dos que entendo que Portugal necessita de pessoas com os ideais de quem fez o 25 de Abril. De gente com sentido de Estado. De gente que se preocupe menos consigo e muito mais com a sociedade. De gente que saiba assumir as mudanças com a convicção de que essas mudanças são fundamentais para melhorar um País ainda a necessitar diminuir diferenças entre quem muito tem e quem nada espera. 40 anos depois necessitamos de acordar todos os dias e recordar Sophia de Mello Breyner Andresen - “Esta é a madrugada que eu esperava/ O dia inicial inteiro e limpo/ onde emergimos da noite e o silêncio/ E livres habitamos a substância do tempo.” Que aqueles que, fruto de comportamentos indignos e egoístas, preocupados apenas consigo e com os seus lóbis nunca mais obriguem ninguém a dizer “…nesta noite solene vamos acabar com o estado a que chegámos. De maneira que quem quiser, vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. …”Saibamos nós, sociedade, mudar, melhorar e reavivar os sonhos de quem esteve disponível a perder a vida pela liberdade. Esta será com toda a certeza a maior homenagem que podemos fazer ao Homem que um dia saído de Santarém prendeu um ditador e regressou ao seu quartel sem nada pedir em troca. Apenas com um sentimento enorme do serviço cumprido.

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