Especial 25 de Abril | 16-04-2014 15:19

“Precisamos de uma revolução mas com recurso às armas da participação cívica”

Sou daqueles que não posso responder à pergunta: Onde estavas no 25 de Abril?. Não posso pela simples razão de ter nascido no início de 1975, em pleno PREC. Mas ouvi, li, estudei, aprendi o significado e a importância da revolução. O exemplo vinha do seio da família, onde um familiar directo tinha sido perseguido e preso pela PIDE, pelo simples facto de ter opinião, de discordar e de dizê-lo frontalmente. Em 1975 tornou-se militante do PPD, seguindo Francisco Sá Carneiro por todo o lado.O 25 de Abril foi um marco de viragem na sociedade portuguesa. Não podemos, contudo, esquecer outros marcos importantes no pós 25 de Abril, como o Golpe Militar de 25 de Novembro de 1975 e a constituição de Abril de 1976, datas muitas vezes esquecidas – uma sondagem recente demonstra que 25% dos portugueses não sabem o que foi o PREC, e não têm opinião sobre as nacionalizações e o processo de descolonização.É de especial relevância que as nossas crianças e jovens possam estudar este processo de viragem histórica. Mas é muito mais importante que o possam fazer numa perspectiva evolutiva, estudando o desenvolvimento, ao longo de 40 anos, da nossa “recente” democracia, que nos trouxe a liberdade, mas que ainda tem um longo caminho para fazer.Abril trouxe-nos um conjunto de pilares democráticos que muitos sub-40 desconhecem. A liberdade de expressão, as eleições livres, a liberdade de imprensa, os partidos políticos, são de conhecimento mais abrangente, mas as questões mais concretas para o nosso dia-a-dia como o poder local democrático, o salário mínimo nacional, as pensões sociais, o subsídio de desemprego, entre muitas outras questões estruturantes, são tidas como adquiridas, faltando a noção de que foi a democracia constitucional que nos permitiu tais direitos fundamentais.Porém, é para mim mais importante, volvidos 40 anos, reflectir no que falhámos desde 1974 do que passarmos a vida a exaltar o 25 de Abril, agarrados às mudanças de então, esquecendo a necessária evolução e as mudanças que ainda nos faltam implementar.A grave crise que vivemos neste momento é uma consequência dos erros da democracia. A conjuntura actual, que alguns defendem como de “falta de democracia”, pode assemelhar-se a uma ditadura institucional, onde somos obrigados a seguir o inevitável guião de entidades internacionais, nossas credoras, fruto dos sucessivos erros de governação que foram alimentando a dívida pública, sem o cuidado da sustentabilidade das medidas, das políticas, numa lógica de “quem vier a seguir que feche a porta”.Impõe-se esse debate. Não precisamos de uma nova revolução nos termos em que foi feita em 74. Precisamos de uma revolução mas com recurso às armas da participação cívica. Precisamos rapidamente de concretizar a reforma do Estado, aproveitando para reformar também as mentalidades.Portugal ainda precisa de muitas revoluções sectoriais. Na justiça, na saúde, na educação, na segurança social e noutras áreas. E têm de ter um apoio abrangente, desprendido de tácticas eleitoralistas, de ideologias bacocas. Só assim conseguiremos reconstruir um país sustentável.Os partidos políticos, uma das maiores conquistas de Abril, têm também de evoluir, não podendo continuar numa caminhada fechada sobre si, por vezes até autista. Têm de fazer o “mea culpa” abrindo-se à sociedade, dando-se a conhecer, deixando de ver eleições internas como meios para atingir o poder pelo poder, trazendo para o seu seio os melhores, sem temer que os mais experientes e conhecedores possam fazer sombra aos que fazem dos partidos o seu modo de vida, dizendo sim, sem questionar. Os níveis de abstenção são reveladores das fragilidades da nossa democracia e da desacreditação na política.Em 74 quebraram-se fortes amarras. Mas a construção da democracia em Portugal ainda está longe de ter chegado ao fim. As correntes continuam a existir, mais fracas mas igualmente cerceadoras de um futuro melhor.

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