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Vila Franca de Xira tem de combater a atracção dos jovens pela capital

Vila Franca de Xira tem de combater a atracção dos jovens pela capital

Se a criação de emprego não for uma prioridade não há futuro para os jovens no concelho

Joana Branco Lopes, natural do concelho de Vila Franca de Xira, é desde Janeiro a nova presidente do Conselho Nacional de Juventude. Diz que Vila Franca de Xira sofre com o facto de ser uma cidade suburbana, um dormitório, e por isso tem muitos desafios pela frente. O principal é combater a atracção dos jovens pela capital Lisboa. “Emigrar não é mau desde que isso seja uma opção”, considera ainda a jovem.

A captação de empresas que gerem emprego no concelho de Vila Franca de Xira deve ser considerada uma prioridade para os decisores políticos e se nada for feito a curto prazo não há futuro para os jovens do concelho. A opinião é de Joana Branco Lopes, natural do concelho e nova presidente do Conselho Nacional de Juventude (CNJ), que se diz “triste” por ver partir os jovens da terra. Vila Franca de Xira sofre com o facto de ser uma cidade suburbana, dormitório, e tem de combater a atracção dos jovens pela capital, que está a menos de 20 minutos de distância. “Um jovem que está a procurar oportunidades, que quer descobrir coisas novas e ser produtor da sua própria cultura, infelizmente, tem de ir para fora do concelho. Vila Franca de Xira não tem oportunidades para os jovens e muitos ficam porque o preço das casas é mais barato do que Lisboa. Porque se tivessem capacidade de pagar renda em Lisboa sairiam”, lamenta a O MIRANTE. A presidente do CNJ lamenta que o movimento associativo juvenil na cidade não seja forte e que a oferta cultural seja “incipiente”, apesar dos bons investimentos feitos em equipamentos culturais, como a nova biblioteca e o Museu do Neo-Realismo. “Não diria que a cidade se encontra no interior profundo mas há ainda coisas a que os jovens não têm acesso. É gravíssimo para uma cidade como VFX não ter um cinema, por exemplo, quando em tempos até teve um IMAX”, regista. Joana nota que a cidade sede de concelho ainda é das melhores para os jovens viverem. “Alverca e Póvoa são dormitórios autênticos, são pouco aliciantes para os jovens”, refere. Um jovem que resida no concelho, quase de certeza, terá de sair para outro lugar para encontrar trabalho. A menos que consiga colocação na câmara municipal ou nas escolas. A nossa entrevistada sabe do que fala e ela própria passou pela agonizante situação da precariedade. Com 30 anos já passou por várias acções de voluntariado, no país e no estrangeiro, e assume desde Janeiro a presidência do CNJ, numa altura em que os desafios colocados aos jovens do país são ainda maiores por causa da crise económica.“Emigrar não é mau desde que isso seja uma opção”Diz que são necessários líderes com perspectivas alargadas e estratégias de olhar para o território e perceber quais são as mais-valias do concelho. “Não vale a pena continuar a querer fazer tudo. Os municípios que mais se têm posicionado e criado melhores condições de vida para os seus habitantes foram aqueles que definiram dois ou três eixos de orientação estratégica. As indústrias criativas, por exemplo. VFX tem de decidir no que é bom e apostar nisso. Se for o rio, então temos de apostar no rio. Mas os políticos ainda não decidiram”, diz.Joana Lopes lamenta que nem todos os jovens tenham acesso às mesmas oportunidades e nota que a emigração pode ser uma oportunidade de crescimento. “Emigrar não é mau desde que isso seja uma opção. Infelizmente nem sempre se vê isso. É preocupante e gritante ver o investimento que o Estado fez na qualificação de uma geração de jovens que agora se está a ir embora”, lamenta.Na opinião da responsável, os jovens hoje em dia sabem que cresceram em abundância mas que não vão viver com ela. “Os jovens hoje percebem que não precisam de ter dois carros e três casas”, e a maioria sabe que dificilmente terá o mesmo nível de rendimento dos pais. Associações não se souberam adaptarAs associações e colectividades não estão a conseguir captar jovens para os corpos gerentes porque o seu método de funcionamento parou no tempo. Na opinião de Joana Branco Lopes, a forma como estão organizadas as associações, do ponto de vista legal, torna-as cada vez menos cativantes para os jovens. “Uma assembleia-geral é importante do ponto de vista formal mas os jovens já não se revêem nessas burocracias. Hoje em dia temos um telemóvel que grava as conversas, enquanto que as associações ainda obrigam a fazer actas, por exemplo. É preciso repensar os modelos de governança e torná-los em modelos que façam sentido para os jovens se organizarem”, nota. A forma como o mercado de trabalho hoje funciona, com muitos jovens a trabalharem das 09h00 às 22h00 ou por turnos, também inviabiliza que estes se aproximem do associativismo e da política. Joana Lopes critica também a falta de jovens no parlamento e defende a criação de quotas para jovens, tal como já existe para as mulheres. Uma jovem de visão humanistaJoana Branco Lopes nasceu a 30 de Agosto de 1984 e é natural de São João dos Montes, tendo vivido nos Cotovios até aos cinco anos, idade em que foi morar com os pais para o Bom Retiro, Vila Franca de Xira. É licenciada em Ciências Políticas e Relações Internacionais pela Universidade Nova de Lisboa e fez um mestrado em estudos do desenvolvimento no ISCTE. Está desde os 14 anos ligada ao associativismo juvenil, tendo começado na presidência da associação de estudantes da Escola Vasco Moniz em Vila Franca de Xira. Começou a trabalhar aos 18 anos em programas ocupacionais e colónias de férias da Câmara de Vila Franca de Xira.Fez parte da associação juvenil vilafranquense, que já não existe, esteve dois anos na associação de estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, estudou um ano em Itália, começou a trabalhar numa Organização Não Governamental para o desenvolvimento e depois integrou a PAR - Respostas Sociais. Esteve dois meses e meio num projecto de voluntariado com jovens em Cabo Verde e chegou a presidente da direcção da PAR. Em Dezembro de 2013 a associação candidatou-se à presidência do Conselho Nacional de Juventude, que representa 38 associações de jovens do país e venceu o mandato de dois anos à frente do CNJ. Por uma questão de comodidade mudou-se para Lisboa e vai todos os dias de metro para o emprego. Todas as semanas vai a Vila Franca de Xira encontrar-se com a família. Gosta de música em português, bossa nova e cabo-verdiana. Foi recentemente ao cinema ver a transmissão em directo do espectáculo dos Monty Python. Tem 10 livros à cabeceira e o último que leu foi “A máquina de fazer espanhóis” de Valter Hugo Mãe. Sonha viajar até à América Latina, é benfiquista e diz-se apartidária, tendo uma visão humanista onde os direitos humanos e a sustentabilidade são as principais bandeiras.É urgente haver formação prática nas faculdadesActualmente há muitos jovens licenciados mas poucos sabem trabalhar em profissões mais especializadas, como electricista, mecânico ou torneiro. É urgente, diz Joana Lopes, começar a haver formação prática nas faculdades que preencha essas necessidades de emprego. “A falta de profissões é um problema. Existe um distanciamento enorme entre a oferta e a procura. Hoje temos níveis cada vez mais elevados de habilitações mas não somos mais qualificados”, refere.Joana diz que os jovens devem licenciar-se e perseguir os seus sonhos, mas que não devem ficar sentados e agarrados à licenciatura a contar que ela lhes venha a valer um emprego. Até porque os jovens de hoje, defende, querem ter emprego durante toda a vida mas não querem um só emprego durante toda a vida. São ambiciosos, dinâmicos e curiosos. A principal luta é contra a precariedade, os salários de 500 euros e os falsos recibos verdes. “Precisamos que os empregadores cumpram a lei, que haja supervisão e fiscalização das empresas, que haja mais apoios e incentivos à contratação jovem e mais benefícios fiscais”, defende.Donos de casas desabitadas deviam ser obrigados a alugar a jovensOs jovens abandonam cada vez mais tarde a casa dos pais, para não perderem a cama, mesa e roupa lavada mas também porque os empregos são precários e as rendas demasiado altas. É a chamada geração canguru, que não sai da alçada dos pais. Um fenómeno que, diz Joana Branco Lopes, é preocupante. Diz que uma das formas de promover a emancipação jovem poderia passar por obrigar os proprietários de casas desabitadas a alugá-las a jovens a preços mais baixos. “Podia ser uma missão até do ponto de vista da solidariedade inter-geracional, os mais velhos que tenham património e possam ajudar, sendo solidários. Não queremos retirar direitos aos mais velhos, mas sim criar uma solidariedade e gestão destes recursos, que é fundamental”, opina.A tardia emancipação dos jovens traz também outros problemas. Como os do foro mental. Portugal já tem uma das maiores taxas da União Europeia de problemas de saúde mental juvenil, segundo a presidente do CNJ. “Até aos 35 anos os jovens têm uma incidência maior de ansiedade, fobia e depressão, associada ao actual momento do País”, refere Joana Lopes. As redes sociais, defende, são positivas por permitir o contacto entre os jovens embora admita que, em alguns casos, podem ser potenciadores de algum isolamento.
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