
Uma loja que tem tudo e a que não faltam clientes
Na Drogaria Popular, em Alverca, é comum ver clientes à porta à espera para serem atendidos. Numa época em que o comércio tradicional vive momentos de agonia, e numa cidade onde não faltam os supermercados, esta loja é um caso exemplar de sucesso. Trabalho, dedicação, seriedade e competência são, segundo o proprietário, os segredos para a popularidade do estabelecimento.
É o sonho de qualquer comerciante: ter uma loja sempre cheia de clientes e mais uns quantos ainda que fazem fila à porta e esperam na rua para entrar. E percebe-se que seja um sonho, afinal não se vêem por aí lojas a abarrotar de clientes em cada esquina. Mas quem for a Alverca e entrar na rua Joaquim Sabino de Sousa pela zona onde fica a praça de táxis, se olhar para o seu lado esquerdo não pode deixar de reparar num grupinho de pessoas que ali se junta diariamente à porta de uma drogaria que também ali existe há muitos, muitos anos. Chama-se Drogaria Popular mas toda a gente conhece a casa pelo nome do proprietário, o senhor António. Se for dia útil e horário de expediente é garantido: o grupinho lá está à porta, sempre pessoas diferentes e sempre a horas diferentes, à espera de serem atendidas pelo Sr. António. E por que razão é assim? “Ora, porque aqui no Sr. António há de tudo! Aquilo que o senhor possa pensar que precisa ele tem de certeza absoluta”, garante D. Maria, uma cliente antiga e vizinha, curiosa com a nossa reportagem. “E depois a gente já está muito habituada ao modo dele, explica tudo muito bem explicado, é o jeito dele, não sei, é diferente… e tem tudo”. E no fundo está explicado: é assim a Drogaria Popular.“Eu tenho aqui na loja mais de dez mil itens, já o senhor vê, e sei onde está tudo, cada artigo está referenciado na minha cabeça, não é só no inventário”, conta António Romão, o proprietário da loja e figura sobejamente conhecida e estimada na terra pelo seu desempenho atrás daquele balcão, onde está há 50 anos. “Esta loja foi fundada no final dos anos 50. Vim para aqui em 1965 como empregado e em 1977 fiquei já por conta própria”, recorda, à conversa com O MIRANTE, acrescentando: “Isto é um negócio muito complexo, tem algumas particularidades especiais. Por exemplo às vezes estamos para aqui mais de meia hora para vender um artigo que custa 50 cêntimos, mas é assim mesmo, faz parte do negócio”, conta-nos, aproveitando a pausa para almoço, porque assim que se abrirem as portas já não há mais tempo para conversas: é sempre a aviar, literalmente.Instalado à entrada da loja está um contador de senhas, igual aos que se podem encontrar em qualquer repartição pública ou dos CTT, por exemplo. Quem chega tira a senha e espera que o seu número apareça no marcador electrónico. Como a casa é pequena e está muito cheia com a mercadoria mais variada que se possa imaginar, é frequente os clientes não caberem na loja e daí a tal fila que se pode ver na rua todos os dias. Mas lá dentro tudo corre o mais rápido que é possível. A despachar ao balcão estão habitualmente três pessoas: António, o seu filho Romeu e ainda um empregado, João, de momento ausente. No escritório está a filha, Ana, responsável “pela papelada”.António Romão tem o seu ritmo próprio, que se percebe resultar de anos e anos de prática a fazer a mesma coisa. Cada movimento é executado com a precisão de quem sabe exactamente o que está a fazer e nada o distrai do que tem em mãos. Há um cliente que precisa de 40 parafusos iguais a um que traz consigo e que poisa no balcão. “O senhor tem cá disto?”, pergunta. António tem, claro, não perde sequer tempo com a resposta, a sua mão vai direitinha à gaveta da prateleira onde sabe que está o artigo pedido e começa a contar, dois, quatro, seis... “Ó Sr. António, é só uma pergunta, pode ser?”, grita uma senhora lá do fundo da loja, longe do balcão onde António segue contando, oito, dez, doze. “Diga minha senhora”, dezoito, vinte, “Tem varões destes mas mais compridos?”, vinte e dois, vinte e quatro, “Ó minha senhora isso não é um varão, é um suporte de lâmpadas”, vinte e oito, trinta, “Oh, desculpe, parecia-me…”, trinta e quatro, trinta e seis, “Não faz mal, eu vou já ver e já se resolve, sim?”, trinta e oito e pronto, quarenta - está despachado o freguês dos parafusos: “Agora o número 27, quem é?”. E é assim o dia inteiro, todos os dias, a todas as horas.Na Drogaria Popular todo o espaço é precioso e não há um centímetro de parede que não seja usado como expositor dos mais variados artigos, ferragens, tintas, material eléctrico, pavimentos, telas, fechaduras, perfumaria, acessórios de canalização, cosméticos, chaves, ferramentas, comandos, enfim, tudo ou quase tudo em que se possa pensar o Sr. António tem, são os clientes quem o dizem. Quisemos saber qual é afinal o segredo para se conseguir uma fama destas, a todos os títulos, invejável. António Romão não perde tempo a responder: “O meu segredo é simples e pode-se contar a toda a gente, é a junção de quatro pontos fundamentais: trabalho, dedicação, seriedade e competência. Sempre trabalhei assim e pelos vistos deu resultado”.

Mais Notícias
A carregar...