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“Gosto muito de ser agente funerário e acho que nasci para isto”

“Gosto muito de ser agente funerário e acho que nasci para isto”

Ricardo Mendes, 33 anos, agente funerário, Tomar
Sou Humberto mas os meus amigos mais próximos sempre me trataram por Ricardo que é um nome de que gosto mais. Em criança nunca quis ter uma profissão e, em jeito de brincadeira, dizia que queria ser o Belmiro de Azevedo (risos). Um empresário de sucesso. O meu avô sempre teve escritórios e empresas. Via-o a lidar com dinheiro e cheques. Depois, à medida que vamos crescendo, caímos na realidade. Hoje já não se fazem “Belmiros de Azevedo”. Temos que crescer à medida do que a economia nos permite.Com 14 anos já vinha atender telefones na Funerária do meu avô. O negócio da morte sempre foi muito natural para mim. Lembro me de, numa ocasião, serem oito da noite e ainda estar sozinho na agência. Saí daqui e fui comer ao café “Tendinha” e disse que o meu avô, depois, pagava a conta. Tive uma infância normal embora não gostasse de jogar à bola, tal como os meus amigos. Os meus pais separaram-se quando eu tinha oito anos mas não sofri com isso também porque o meu avô não permitia que se notasse muito. Saí da escola com 17 anos para ir trabalhar para a loja de tecidos da minha mãe. Desisti da escola quando chumbei no 10.º ano pela segunda vez. Passei por várias escolas mas o antigo Colégio Nun’Alvares Pereira foi a escola da minha formação. Foi onde cresci durante os seis anos que ali passei. Quando cheguei, pedi transferência mas, passado uma semana, mudei de ideias. Quando desisti de estudar avisaram-me que me iria arrepender mas, até à data, não aconteceu. Uma das disciplinas obrigatórias que devia ser leccionada nas escolas era atendimento ao público. Garanto que havia mais educação por parte de todos, tanto de quem atende como de quem é atendido. O meu avô e a minha mãe são as minhas referências em termos de valores. Tenho muito orgulho em ser neto do Fernando Mendes. Uma das coisas que aprendi com ele foi estar de cabeça erguida em todo o lado. O meu avô e a minha mãe ensinaram-me tudo o que tenho de bom. Apesar de termos cada um o seu feitio. Tenho uma personalidade forte, sou difícil de dobrar. Tenho um Mercedes desde os meus 25 anos porque sempre vi o meu avô a conduzir um. Mas não foi dado, como muitas pessoas julgam. Tudo o que tenho foi comprado com o fruto do meu trabalho.Assumi a gestão da “Agência Funerária Fernando Mendes” com 29 anos. Foi em Setembro de 2010. Fiz uma formação como responsável técnico. Antes trabalhei 12 anos na loja da minha mãe e ainda passei pela Fábrica da “Renova” em Torres Novas para ganhar mais algum dinheiro. Vim tomar conta da agência porque o meu pai não pôde assumir por problemas de saúde e o meu meu avô também já não podia aqui estar devido à sua idade. Deste modo, ou fechávamos a agência ou deitavamos a mão. O mais gratificante é quando somos recomendados pelos outros, pela excelência do serviço que prestamos. Gosto muito de ser agente funerário. Para fazer este serviço ou se nasce ou não se nasce. Tenho a convicção que nasci para isto. Temos que ser sensíveis e, nos momentos complicados, manter a calma. Afinal, há sempre uma separação. Já me emocionei em cerimónias. O serviço que mais me custou foi a cerimónia fúnebre de uma criança. Não há fronteira entre o agente funerário e a pessoa. Prefiro trabalhar aqui do que andar a carregar tijolos, sem desprimor para quem trabalha nesse ramo. O ano passado já abrimos uma agência em Caxarias e, em Fevereiro deste ano, abrimos uma florista para complementar o negócio. Desde Dezembro do ano passado que conto com um sócio, Bruno Mendes, o que me dá outra liberdade. Quando surgiu a oportunidade comprei a agência. Aliás, nada do que tenho foi dado. Estou a pagar como qualquer outra pessoa que investe. Tratamos cada funeral como se fosse de um nosso ente querido. Habituei-me ao fato e gravata com facilidade.Quando me meto nos projectos é para ganhar porque não gosto de ficar mal visto. Já tive convites para integrar projectos mas não aceitei por falta de tempo. Se queremos ser bons, temos que nos rodear dos melhores. Aqui na agência faço questão que exista um bom ambiente. Se alguém está com má cara, falamos e tentamos resolver as coisas. Sou uma pessoa calma, que lida bem com o imprevisto e tento sempre encontrar a solução. Trabalho de 12 a 14 horas por dia mas, se me apetecer, a meio da tarde paro para beber café. Os meus empregados são cinco estrelas. Gosto muito de passear, de conduzir o meu carro, por vezes, sem destino. Gosto de ir à praia sozinho, de ouvir as ondas do mar. De dormir à beira-mar. De estar com os meus amigos que, por vezes, brincam comigo por ter esta actividade mas nada de ofensivo. Sou solteiro e não tenho filhos. Em casa conto com a ajuda da Cristina, que é a minha salvação (risos). Das tarefas domésticas só gosto de cozinhar. Sou capaz de passar um mês sem a ver mas as coisas aparecem feitas. Gosto muito de estar sozinho, em casa, no meu sofá a descansar. De viajar. O meu lema de vida é estar bem com a minha consciência e só ambiciono o mesmo que toda a gente: ser feliz.Elsa Ribeiro Gonçalves
“Gosto muito de ser agente funerário e acho que nasci para isto”

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