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Isabel Pestana é uma artista do surrealismo

Isabel Pestana é uma artista do surrealismo

Exposição “Raízes da Vida” na Biblioteca Municipal da Chamusca até 17 de Julho

Pintora mostra parte da sua obra na terra natal. Lucros da venda de quadros revertem a favor da Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica, doença que vitimou a sua mãe há cinco anos.

“A minha mãe era o meu grande apoio e eu continuo a precisar muito dela”. É à mãe, Elizabeth, que a pintora Isabel Pestana dedica a exposição “Raízes da Vida” em exibição na Biblioteca Municipal Ruy Gomes da Silva, na Chamusca, até dia 17 de Julho.Elizabeth morreu aos 74 anos, vítima de esclerose lateral amiotrófica. “Sofreu muito e nunca se revoltou contra a doença. Acabou os seus dias em casa rodeada de todas as pessoas que gostavam dela”, recorda Isabel. Testemunha do sofrimento da mãe na luta contra esta doença que não tem cura, a pintora pretende reverter os lucros da venda dos quadros da exposição a favor da Associação Portuguesa de Esclerose Lateral Amiotrófica (APELA). “Encaro esta exposição como uma última missão para ficar em paz”, confessa.Patente até 17 de Julho, a exposição estabelece um paralelismo entre as raízes da vida de Isabel e as raízes do mundo, materializadas nas figuras de Adão e Eva. As 13 telas de técnica mista e acrílico, vão fazendo uma cronologia desde a criação do mundo e o espírito santo, passando pelos progenitores de Isabel, o milagre do seu nascimento, a infância, a representação abstracta de Isabel e dos dois filhos, as estações do ano, o cão de Isabel, a Chamusca, terminando na doença da mãe. Uma cadeira com raízes simboliza o lar.Para venda, a pintora de 50 anos terá também pequenos quadros e pinturas em diferentes materiais. A homenagem estende-se ao pai, Inácio Pestana, no qual ela tem muito orgulho por ter conseguido dar a volta por cima e não lhes ter deixado faltar nada após a falência da antiga fábrica do tomate, Spalil, que era propriedade da família há várias décadas. Natural da Chamusca, Isabel adora a sua terra e garante que é a mais bonita do Ribatejo. “A Chamusca para mim é tudo”, reconhece.“Sempre odiei dar aulas porque não estava a criar”Isabel Pestana é uma amante do surrealismo. Os desenhos disformes, as ligações improváveis e as raízes são imagens de marca nas criações onde não falta a cor azul, a sua preferida. “Eu vivo da cor e da forma e vejo as pessoas com cor”, explica. O gosto pela pintura surgiu desde muito pequenina. Lembra que todos achavam que os seus desenhos não passavam de rabiscos e a mãe era a única a acreditar no seu talento. “Tu chegas onde os outros chegam, basta quereres”, dizia-lhe tantas vezes.No liceu, Isabel seguiu a área de Letras, mas acabou por não terminar o ensino secundário e partiu para a capital à procura do seu sonho. Frequentou o curso de Design de Interiores e Equipamento Geral no Instituto de Arte, Design e Empresa (IADE) e garante que foram os melhores anos da sua vida. “Eu amei o IADE. Lá sentia que podia ser eu própria e deitar tudo cá para fora”, recorda.Depois do curso, voltou para a Chamusca e começou a dar aulas. Leccionou no Entroncamento e em Alcanena mas desistiu de ser professora. “Sempre odiei dar aulas porque não estava a criar”, explica. Neste momento, faz trabalhos de pintura decorativa em todo o tipo de materiais e dá aulas a crianças a partir dos quatro anos em sua casa, na Golegã, e a idosos no Centro Terapêutico Antiqua.Nos seus dias muito preenchidos, ainda arranja tempo para fazer voluntariado no canil municipal da Golegã. Em tempos, integrou a concelhia do CDS-PP mas diz não estar disponível para a política. Também não é uma fervorosa aficionada, apesar de considerar bonitas as tradições tauromáquicas.Um bebé-milagreIsabel Pestana nasceu a 5 de Julho de 1964. Numa altura em que ainda não existiam ecografias, Isabel foi gerada fora do útero materno sem ninguém dar por nada. “A minha mãe passou as passas do Algarve durante a minha gravidez. Tinha dores horríveis, cansaço, anemias”, conta. No dia do seu nascimento, quando iniciou a cesariana, o médico que estava a assistir ao parto fugiu horrorizado ao ver um pé de Isabel. “Foi um milagre termos sobrevivido as duas, porque eu andei basicamente nove meses a vaguear pelo corpo da minha mãe”, salienta. Agradecer à mãe pelo sofrimento que passou durante a sua gravidez é também um dos objectivos de Isabel com a exposição “Raízes da Vida”.
Isabel Pestana é uma artista do surrealismo

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