uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Empresas mais pequenas com capacidade de resposta mais rápida

Luís Mira Amaral evoca novo paradigma da economia portuguesa
Luís Mira Amaral, presidente da Comissão Executiva do Banco BIC Português, defende uma receita base para salvar o país de males maiores e explicou-a no decorrer do seminário empresarial “Crescer para Expandir: Oportunidades de Negócio, Inovação e Internacionalização – Angola, Brasil e Cabo Verde”, realizado no dia 23 de Junho no Centro de Congressos de Lisboa, organizado pela AIP em parceria com o Banco BIC e a SPI.“Há um novo paradigma que está a crescer na economia portuguesa: empresas mais pequenas com capacidade de resposta rápida, produção industrial flexível, design criativo e colaboradores qualificados. O que o Estado tem de fazer é diminuir os custos de contexto, a burocracia e criar as infra-estruturas ferroviárias e portuárias que não temos”, resumiu, perante as duas centenas de participantes. Para o antigo ministro da Indústria, “há motivos para ter esperança” a avaliar pela “dinâmica que se gerou com exportações, o aparecimento de novas empresas, os novos e fantásticos projectos lançados na agricultura e na agro-indústria por gente jovem que foi da cidade para o campo e injectou conhecimento”. No entanto há uma outra face da moeda. “O problema é que o peso da dívida pública é de tal forma grande que aquilo que de bom temos em Portugal só por si não consegue ultrapassar os constrangimentos que existem”, alertou.Em resposta a uma questão colocada pelo presidente da AIP, José Eduardo Carvalho, Mira Amaral afirmou que a economia portuguesa tem um conjunto de circunstâncias altamente favorável como petróleo barato, euro depreciado em relação ao dólar, taxas de juro historicamente baixas (devido ao BCE) e actual injecção maciça de fundos comunitários mas que apesar disso só vai crescer entre 1,5% e 1,8% do PIB devido à elevada despesa pública e a uma dívida pública e uma dívida privada muito elevadas. “A única forma de lançar a economia portuguesa será através do aumento das exportações. Estamos a exportar 40% do PIB. Um país da nossa dimensão devia exportar 60 a 70% do PIB no mínimo”, declarou, deixando uma sugestão para atingir tal objectivo. “Temos que nos voltar para o mercado norte-americano e para os mercados asiáticos. Os EUA são uma grande falha no nosso comércio externo. O problema é que os americanos não reconhecem qualidade aos nossos produtos. Os nossos produtos podem ter qualidade intrínseca mas o que interessa é que os clientes percebam essa qualidade para os comprarem. Conhecem os nossos produtos e as nossas marcas, nomeadamente os do sector agro-alimentar, mas não percebem a qualidade intrínseca. O calçado, por exemplo, já adoptou esta estratégia e está quase a atingir o preço praticado pelo calçado italiano. Portugal tem que fazer um esforço noutros segmentos nos EUA para mostrar que já tem tecnologia de qualidade e que pode vender com outro nível do que aquele que tem vendido até hoje”, disse.Bancos cada vez mais conservadores na abordagem do riscoAssunto na ordem do dia, o financiamento às empresas, levou José Eduardo Carvalho a colocar nova questão: “Os custos de financiamento desproporcionados que neste momento existem e o volume insuficiente de crédito podem ser apresentados como falhas de mercado que legitima e justifica o aparecimento de uma nova entidade financeira?”. Mira Amaral começou por dar conta da “confusão” que existe nesta matéria: “Há em Portugal, e também na Europa, o erro crasso de confundir o sistema financeiro com o sistema bancário. O sistema bancário, como é a nossa banca comercial, transforma um produto de capital garantido, como são os depósitos, em crédito. Logo, tem de ser um crédito com poucos riscos. Não tenham ilusões sobre esta matéria. A crescente regulamentação europeia, com a união bancária europeia, a supervisão do BCE sobre os bancos europeus e Basileia III colocam cada vez mais exigências na gestão do risco por parte dos bancos portugueses e europeus, os quais, por sua vez, vão ser cada vez mais conservadores na abordagem do risco”, explicou.O recurso ao sistema da garantia mútua para auxiliar as PME, “que ainda hoje funciona e que salvou muitas empresas” foi um dos instrumentos financeiros referidos pelo banqueiro ao reflectir sobre o tema: “Continuam a existir duas falhas de mercado que gostava que a nova instituição financeira viesse a resolver como sejam os fundos de capitalização para as empresas economicamente viáveis mas altamente endividadas e o facto de os depósitos com um máximo de dois anos de maturidade quando existem projectos de investimento que demoram cinco a dez anos. Estamos pouco adaptados para financiar esses projectos, logo há uma falta de adequação entre a maturidade do passivo e a maturidade do activo”.

Mais Notícias

    A carregar...