Festival Materiais Diversos é um exemplo de voluntarismo e envolvimento da comunidade
População de Minde colabora com a organização e dá alojamento aos artistas
Ana Maria Capaz apoia a iniciativa cultural desde a primeira edição e todos os anos acolhe em sua casa alguns dos intervenientes nos espectáculos. Este ano vai ser assim novamente.
Ana Maria Capaz, 52 anos, é voluntária do Festival Materiais Diversos (FMD) desde a primeira edição, uma iniciativa nascida na vila de Minde, no concelho de Alcanena, já lá vão sete anos. Todos os anos acolhe em sua casa artistas que actuam no festival.Uma das particularidades deste projecto cultural, e que contribui muito para o seu sucesso, é o apoio da população de Minde onde decorre grande parte dos espectáculos do FMD. Ana Maria Capaz conta que a iniciativa de envolver os moradores partiu de Tiago Guedes, director artístico do FMD durante as seis primeiras edições. “Ele pediu alojamento para os artistas. Como eu tenho uma casa grande e alguns filhos já não estão em casa aceitei. Todos os anos dou alojamento a artistas”, conta a bancária a O MIRANTE.As duas únicas condições que a voluntária impõe são dar alojamento a mulheres, por uma questão de afinidade, e não dar a chave de casa. Como Ana Maria vai ver muitos dos espectáculos, quando os “seus” hóspedes vão para casa ela também vai. Durante dois anos seguidos deu alojamento a uma artista italiana, de que não se recorda o nome mas “que falava bem português”. Trocaram números de telemóvel e endereço de email e ainda se corresponderam durante algum tempo mas o contacto entretanto foi-se perdendo. Ana Maria confessa que o único problema é o facto dos artistas a quem dá alojamento serem estrangeiros. “A maioria só fala inglês. A falar francês ainda me consigo desenrascar mas inglês tem que ser mais o meu marido a falar”, confessa.Ana Maria diz que os artistas que lhe “calham em sorte” não são esquisitos nem lhe dão trabalho. Atribui-lhes um quarto, dá-lhes toalhas e lençóis. Habitualmente oferece-lhes pequeno-almoço mas eles apenas querem dormida, preferindo comer em restaurantes locais, não dando quase trabalho nenhum a quem lhe cede a casa. Até hoje Ana Maria nunca teve más experiências. “São os organizadores do festival quem nos apresenta os artistas por isso tenho confiança nas pessoas a quem vou dar alojamento”, sublinha. Este ano já sabe que a coreógrafa portuguesa Vera Mantero vai ficar alojada em sua casa. Está a aguardar indicações se terá mais artistas em sua casa.Também os elementos que constituem a equipa da organização do festival, incluindo a directora artística, Elisabete Paiva, ficam em casa de habitantes da vila que lhes cedem o seu espaço durante algumas semanas. Ana Maria Capaz afirma que o FDM é “muito importante” para Minde, e para todo o concelho de Alcanena, porque mexe com a vila e sobretudo dinamiza a economia local. No entanto, considera que o certame é “incompreendido” sobretudo para alguma camada mais idosa da população. “As pessoas aderiram ao festival nos primeiros anos e algumas pessoas mais velhas chocaram-se com alguma cena de maior nudez ou algum palavrão e deixaram de visitar os espectáculos. Eu também gostei mais de umas coisas do que outras mas nunca desisti de ir ao festival”, sublinha a bancária.
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