Sufragista Manuel Serra d’Aire
Foi delirante a noite das últimas eleições legislativas e uma confusão pegada para os menos habituados a lidar com as coisas da política. Para já porque, a dada altura, parecia que toda a gente tinha ganho, o que, como é óbvio, deixa qualquer cidadão mais incauto mergulhado na confusão. Pois bem, para mim as coisas são claras como a água: o grande vencedor foi o PAN, mais conhecido por partido dos animais, que elegeu um animal racional como deputado para a Assembleia da República e promete muitas iniciativas parlamentares originais nos próximos tempos. Aliás, esta pode ser a antecâmara de uma nova era, em que a bicharada se aproximará, nos direitos e nos deveres, da espécie humana. Não me admirava nada que, daqui a uns tempos, as casotas dos cães ou as gaiolas da passarada comecem a pagar IMI. Ou que os gatos vadios, por exemplo, possam receber o Rendimento Social de Inserção. Ou que os cães de caça, com a velhice e o faro definitivamente perdido, comecem a auferir de uma pensão de invalidez. Esses tempos, pelos vistos, já estiveram mais longe.Não admira que tendo ganho o partido dos animais (e também os abstencionistas) não se tenha dado pelas habituais manifestações de regozijo pelas ruas do Ribatejo e do país. Caravanas (sem ou com camelos) nem vê-las. Embora tenha notado que o cão dos meus vizinhos do lado uivou mais do que habitual nessa madrugada.Ainda por falar em partido dos animais, só agora começo a relacionar a briga que envolveu cães e gatos em Torres Novas, que até causou danos colaterais em automóveis, com as questões da política partidária. Provavelmente eram duas facções locais do PAN em disputa por lugares ou mordomias, à semelhança do que acontece amiúde nos partidos que não são dos animais. O iconoclasta José Vilhena morreu e deixou definitivamente em descanso políticos, padres, prostitutas, banqueiros e outras reconhecidas classes profissionais que ele tanto caricaturou com o seu humor cortante e oportuno que não deixava ninguém de fora. Sorte dele que nunca se meteu com alguns políticos e advogados cá da terra, gente de mau humor e ainda pior poder de encaixe, pois o mais certo era ter passado a vida a subir a descer as escadas do tribunal a dizer mal da sua vida e da dos outros.Infelizmente, o homem que criou “pasquins abjectos” como “A Gaiola Aberta”, “O Fala Barato”, “O Cavaco” e “O Moralista” nunca se inspirou no Ribatejo. E que falta ele nos fez. Que desenharia e escreveria José Vilhena, por exemplo, da novela que envolve a presidente da Câmara de Tomar e o seu diligente chefe de gabinete e do silêncio sobre que se manteve sobre o concurso para contratação de um técnico de informática para a autarquia. Afinal o chefe de gabinete Luís Ferreira concorreu ao cargo, como confirmou finalmente Anabela Freitas, a sua patroa (no duplo sentido dado habitualmente ao termo). A oposição suspeita que o concurso aberto para esse lugar foi um fato feito à medida de Luís Ferreira, para garantir um emprego na autarquia, porque a política pode não durar sempre e trabalhar longe de casa é chato. E se efectivamente foi um fato feito à medida, só pode ser XXL...E por aqui me fico. Em homenagem ao PAN, despeço-me com um rugido do Serafim das Neves
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