Improvável
Uma conversa improvável entre um surfista e um homem de “sequêro” aconteceu no Circuito Mundial de Surf que decorreu em Cascais. Conheci o Nuno Mesquita pela mão do António José Correia, o fantástico presidente da Câmara de Peniche, reconhecido no mundo do surf. O Nuno é arquiteto e juntou a sua paixão às suas competências. Como sempre, mesmo no surf, o caminho não é uma rampa a descer, é sinuoso e tem dificuldades, mas só pode ter sucesso quando os ingredientes são os que o Nuno tem. Quando se junta paixão com competência o sucesso é incontornável mas dá trabalho. O Nuno fundou a AHUA (alaias/handplanes ) e juntou tudo o que há de bom para responder a uma necessidade de mercado. Ao que percebi, o percurso do Nuno, desde Porto Brandão à beira Tejo, mais do que fabricar pranchas, tem sido também criar mercado a partir da excelência do produto que estuda, desenha e fabrica. Senti ao longo da conversa que o projeto do Nuno pode estar à beira da “explosão” que bem justifica e merece. As mini-pranchas de mão para surfar que o Nuno fabrica em cortiça são um hino ao design e à beleza. Está lá tudo, mas tudo, o que Portugal tem de melhor. Confesso que aquele “pedaço de cortiça” me deixou maravilhado ao ponto de, um dia destes, esquecer o tal DNA da estepe alentejana e ir experimentar as handplanes mais portuguesas possível.Quando se fala do sucesso do surf e da riqueza que se cria à volta deste desporto, trata-se de muito mais que ondas e praia. Esta gente, como o Tó Zé e o Nuno, merecem que o país, mesmo o de “sequêro”, os estime, incentive e apoie. O entusiasmo e a competência do arquiteto empreendedor que tive o prazer de conhecer é uma lição para todos nós. Obviamente que cada uma daquelas bonitas pranchas encerra horas e horas de trabalho, muito suor, muito talento e risco. É bom que a generalidade do país compreenda que não há volta a dar sem estes ingredientes; sem trabalho e talento não há bons projetos que possam vingar. Do outro lado da moeda, o país tem que saber selecionar e apoiar em tempo útil todas as iniciativas que valham a pena. O risco e o esforço devem ser partilhados como forma de potenciar o sucesso. Ninguém dúvida que temos talento e competências de sobra; a maioria das vezes aquilo que nos falta é mesmo muito pouco, falta-nos país.Há uns tempos perguntei a um eminente empresário na área do turismo: “como foi possível este seu projeto ter falhado?” Respondeu-me: “o país é pequeno”, sei que a razão, infelizmente, está com o empresário. No que me toca resta-me a certeza que, como o empreendedorismo lhe corre nas veias, atrás de um falhanço nascerá algo pleno de sucesso.No início de um novo ciclo é imperioso que Portugal cresça, os nunos portugueses necessitam e merecem um país onde caibam.Carlos Cupeto
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