Pegadas de dinossáurios de Vale de Meios caíram no esquecimento
Jazida foi considerada de grande relevância científica mas tem estado desaproveitada
Há doze anos a descoberta, numa pedreira na zona serrana de Alcanede, foi classificada como de grande valor científico. Mas desde aí pouco foi feito para promover esse achado, que está sob a tutela do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros.
A jazida de pegadas de dinossáurios existente em Vale de Meios (Alcanede) é considerada de grande valor científico e foi mesmo classificada como bem de interesse concelhio pela Câmara Municipal de Santarém, em 2003. Mas até à data os sinais gravados na pedra atestando a passagem de dinossáurios por aquelas bandas não tiveram grande divulgação nem mereceram a atenção e o investimento das chamadas entidades competentes que tiveram, por exemplo, as pegadas encontradas na pedreira do Galinha (hoje monumento natural, situado no concelho de Ourém).Foi em Abril de 2003 que a Câmara de Santarém e o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros (PNSAC) levaram a comunicação social à zona serrana da freguesia de Alcanede, para dar a conhecer a jazida de pegadas de terópedes, dinossáurios carnívoros de grandes dimensões que andaram por ali há cerca de 175 milhões de anos. Uma dúzia de anos depois, o espaço encontra-se visitável, mas pouca gente sabe da sua existência, apesar de em Pé da Pedreira, a localidade mais próxima, existirem placas indicativas da existência da jazida de Vale de Meio. Junto à antiga pedreira, um painel informativo destaca a importância do local. Mas não há percursos marcados nem ninguém que possa orientar os visitantes. Na página do PNSAC na Internet também não conseguimos encontrar menções à jazida de Vale de Meios, pelo menos entre os denominados “pontos de interesse” a visitar na sua área de abrangência. Na página da Câmara de Santarém também não se vislumbra qualquer referência.Um achado único no paísOs primeiros indícios da jazida surgiram em 1998, numa zona de exploração de pedreiras de calçada conhecida como Vale de Meios, mas só com o avanço da extracção de pedra se teve noção da sua importância. Os estudos mais aprofundados, coordenados pelo paleontólogo Galopim de Carvalho, iniciaram-se em 2002, tendo sido elaborado um relatório que dava o achado, datado do Jurássico Médio, como único a nível nacional e mesmo da Península Ibérica. Na altura falou-se em avançar com o processo de classificação da jazida como monumento natural, o que até à data não se concretizou.Outra intenção ainda por concretizar era constituir em Vale de Meios um centro de interpretação simples e prático que fornecesse o máximo de informação científica e pedagógica sobre esses animais extintos há 65,5 milhões de anos.No entanto, o Regulamento do Plano de Ordenamento do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, publicado em Diário da República em 12 de Agosto de 2010, define claramente que “deve ser implementado um conjunto de acções que visem o ordenamento, requalificação e gestão do espaço com vista à valorização e conservação da jazida de Vale de Meios”. E acrescenta que “a Jazida de Icnitos de Dinossáurio de Vale de Meios deve acolher projectos de investigação científica e de educação ambiental com vista ao aprofundamento desta área de conhecimento e a sua divulgação”.Instituto da Conservação da Natureza não respondeContactado por O MIRANTE, o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que tutela o Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, não respondeu às questões colocadas por email há uma semana, conforme nos foi solicitado.Já a vereadora da Cultura da Câmara de Santarém, Susana Pita Soares (PSD), diz a O MIRANTE que os vestígios são visitáveis, mas reconhece que “não existe qualquer indicação dos percursos a efectuar e que permitiriam orientar os visitantes”. Acrescenta que, aquando da classificação da jazida pelo município, “foi criado no local, com a ajuda do proprietário da pedreira e do PNSAC, uma modesta construção onde deveria funcionar um centro interpretativo, com alguns percursos assinalados no local”. Mas nada disso está activo. Aliás, no dia em que O MIRANTE visitou o local, não se via lá vivalma. A autarca sublinha que se trata da “maior e mais significativa jazida com pegadas de terópodes do Jurássico Médio da Península Ibérica, estando em “excelente estado de conservação” e que, a nível mundial, “é uma das três principais jazidas com mais de mil pegadas de dinossáurios”. Adianta que é a única jazida no país onde é possível realizar estudos aprofundados sobre a paleoanatomia, locomoção e comportamento de terópodes, revelando ainda a existência de saurópodes nesta área durante o Jurássico Médio.
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