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Boa e má vizinhança

A rixa entre vizinhos é um património nacional. É cultural. É tão verdade que as faces da moeda são extremadas; de um lado o “ódio de morte”, do outro, “o mais que família” – é assim que o português sente os seus vizinhos e para toda a vida. Isto é verdade não só no Portugal rural, onde as disputas pelas águas ou pela definição das extremas são clássicas e têm grande importância local, como está assegurado no meio urbano onde é comum acontecer em qualquer condomínio que se preze. Quase tudo serve para qualquer dos extremos. O resultado é muito a consequência da nossa atitude. Bem poderia estar de candeias às avessas com a minha querida vizinha reformada que escolhe as madrugadas para estar horas a gritar ao telefone, porque já ouve mal, e assim não se sentir tão só. Escolhi achar piada e ficar feliz por a saber ainda de saúde para estar ao telefone durante horas.Vem isto a propósito das lamas de suinicultura que vão parar ao “quintal” do vizinho em Abrantes como noticiou o O MIRANTE há umas semanas. Isto só por si é mau, mas é muito pior do que se possa supor e evidencia que às vezes, vezes demais, este país é um mau sítio para se viver. Desde logo porque duvido muito que o vizinho suinicultor seja suinicultor e mereça esse nome. Neste papel, esse senhor mancha todo um sector de gente honrada e responsável que não merece ser tratada desta maneira. Muito para além dos porcos cheirarem a porco, é incontornável, os suínos criam postos de trabalho, isto é, constituem riqueza e são suporte significativo da alimentação dos portugueses; posso garantir que há um setor empresarial em Portugal, estruturado e responsável. Depois, nesta história, fica muito mal a administração, sempre com as costas muito largas e a maioria das vezes sem capacidade de ação, designadamente pelo complexo novelo legislativo em que se move. Não se pense que faltam leis e regulamentos, antes pelo contrário, o que falta é quase tudo o resto. As boas técnicas e soluções são conhecidas, passam os anos e as oportunidades e tudo, ou quase, fica na gaveta das várias secretárias.Mas o pior, mesmo o pior, fica para o fim. O pior é a falta de um sistema de justiça: com todos os direitos que nos assistem, fazer uma participação significa um tempo infinito até à decisão e ainda por cima sem garantia de que se “faça justiça”. Coitados dos portugueses que necessitam da Justiça. Nesta matéria, no que me toca, desejo fortemente que nunca mais volte a necessitar da justiça portuguesa, Deus me livre de tamanho mal.Carlos A. Cupeto

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