Exposição em Coruche sobre o nascimento da democracia portuguesa
Mostra sobre os acontecimentos mais marcantes ocorridos entre 1974-1976
O comissário científico da exposição da Assembleia da República, Pacheco Pereira, participou na abertura da exposição que vai poder ser visitada até ao dia 1 de Maio.
Maria Inês tem 27 anos. Ainda não era nascida quando o anterior regime foi derrubado, a 25 de Abril de 1974, mas sabe o que aquele momento significou para o país. O pai contou-lhe muitas coisas que se passavam durante a ditadura e a alegria que sentiu quando aconteceu a revolução. “Ele disse-me que quando ligou o rádio e ouviu falar na revolução sentiu que a sua vida tinha mudado para sempre. Até essa altura o clima era de medo”, diz, enquanto lágrimas de emoção lhe escorrem pelo rosto. A jovem foi uma das muitas pessoas que marcaram presença na inauguração da exposição “O nascimento de uma Democracia 1974-1976”, que vai estar patente na galeria do Mercado Municipal de Coruche até 1 de Maio. A exposição pertence à Assembleia da República e foi organizada para assinalar os quarenta anos da revolução, tendo andado desde essa altura em digressão pelo país.José Pacheco Pereira, o comissário científico da exposição, também esteve em Coruche na tarde de sábado, 9 de Abril. A exposição total é composta por cerca de uma centena de cartazes políticos, de propaganda, de reacção, a grande maioria pertencente à colecção pessoal de Pacheco Pereira. No entanto, por questões de espaço a exposição em Coruche conta com cerca de 80 cartazes e painéis. O presidente da câmara , Francisco Oliveira (PS), que tinha onze anos em 1974 lembra-se de um clima de grande euforia em que as coisas eram vividas com grande intensidade, uma situação que contrasta com os tempos actuais. “Hoje em dia há pouca participação dos cidadãos na política activa e até em termos de participação cívica. Não devemos só contestar ou criticar o que está mal mas também sugerir situações que podem ser mudadas ou alteradas e é esse nível de participação que faz falta”, defende o autarca. A exposição que agora está em Coruche não é sobre o dia 25 de Abril mas sobre aquilo que o que se passou nesse dia permitiu que acontecesse. É, como explicou Pacheco Pereira, sobre o nascimento da democracia portuguesa no meio da turbulência de um país que saía de 48 anos de ditadura. Para retratar o nascimento da democracia a exposição começa por mostrar a diferença em relação ao que havia antes. Pelo tempo de acabar, da PIDE, da Censura, da União Nacional, da ditadura. Depois mostra a luta pelos direitos cívicos, de manifestação, de criação de partidos políticos, de falar e escrever livremente, de votar em liberdade. “O objectivo desta exposição é mostrar o rasto que no nosso olhar ficou desses tempos. Privilegia o que nos envolve, imagens e sons, valoriza o retorno ao passado pela recriação da sua paisagem”, refere Pacheco Pereira. Também presente na inauguração da exposição esteve Heraldo Bento, 88 anos, que recorda “sem saudade” os tempos que viveu em ditadura. “Não podíamos falar abertamente e desconfiávamos uns dos outros. Os tempos eram maus e havia muita fome”, conta. O antigo comerciante lembra os tempos de grande euforia e participação a seguir ao 25 de Abril e diz que só quem não viveu antes do 1974 é que não consegue perceber que “Portugal melhorou muito nas últimas décadas”.
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