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Ser boieiro é uma arte que Riachos sabe promover

Ser boieiro é uma arte que Riachos sabe promover

Com a mecanização da agricultura, são cada vez menos os que lidam com animais nos trabalhos do campo

Em Riachos já não há muitos boieiros pois os animais foram sendo substituídos pelas máquinas na agricultura. Mas nessa vila do concelho de Torres Novas os que existem não querem deixar morrer uma tradição que atravessa gerações e que vai sair à rua daqui a uns dias nas festas da Bênção do Gado. José Mendes, 87 anos e uma vida ligada ao campo, vai levar o Senhor Jesus dos Lavradores até à igreja, numa carroça puxada por uma junta de bois, no cortejo que atrai milhares de espectadores. O filho, Manuel Mendes, 56 anos, também boieiro, não esconde a emoção de partilhar esse momento com o progenitor. “Eu vou dar o corpo, ele vai dar a habilidade e os moços vão dar a presença”, diz emocionado.
Manuel Mendes e José Mendes são boieiros e fazem parte do Núcleo de Boieiros do Museu Agrícola de Riachos. Embora em Riachos já houvesse quem levasse os bois, é apenas durante os festejos da Bênção do Gado em 2000 que surge o Núcleo de Boieiros do Museu Agrícola. “Faz parte das tradições de Riachos, porque os bois, as juntas, o trabalho do campo tem tudo a ver com este museu”, refere Mafalda da Luz, directora do Museu Agrícola de Riachos.
As juntas de bois para a bênção do gado vêm de vários locais. Alguns bois vêm bem treinados e outros nem por isso. É aí que entram estes boieiros que têm estado a preparar o “amarelito” e o “castanhito” para os conduzirem no cortejo. José Mendes é a figura mor do grupo. Começou a trabalhar em pequeno com o pai e com um irmão numa quinta e cedo se habituou a lidar com os animais: “Foi logo assim que nasci, nunca fui bom para a escola, cheguei apenas à quarta classe”. Dos seus quatros irmãos, dois foram boieiros e os outros dois eram carpinteiros.
Aos 35 anos, José acabou por assumir as funções de jardineiro na Escola Maria Lamas em Torres Novas mas permaneceu sempre ligado à actividade agrícola. Continua orgulhoso a representar as tradições de Riachos embora lamente já não conseguir fazer o que fazia antes. Mas não desiste e vai contando com o apoio das gerações seguintes.
O filho Manuel começou aos 12 anos a aprender com um tio os trabalhos ligados à vida do campo. Um “castigo” do pai muito típico da época. Foi aí que aprendeu a engatar mulas, conduzir mulas, tratar de vacas, bezerros e bois. “Fiz um pouco de tudo”, refere.
Esta é uma tradição que na família Mendes vai passando de geração em geração. No próximo cortejo da Bênção do Gado vão quatro: José Mendes vai ter a seu lado o filho, uma neta e um bisneto para o ajudarem a levar o Senhor Jesus dos Lavradores.
David Carvalho, 16 anos, não tem qualquer ligação familiar, ou outra, com boieiros ao contrário da Rita Gomes, 26 anos, que partilha essa herança com o avô José Mendes e é uma entusiasta das tradições. David foi convidado para participar e aceitou porque gostou muito da ideia de trabalhar com animais. “Riachos é Riachos e estar a trabalhar com uma coisa que é da minha terra não tem palavras”, destaca o jovem.
Humberto Simões trabalha no campo e foi por iniciativa própria que se quis juntar ao grupo. “Gosto de andar no campo, ao sol e no meio da bicharada”. Adora estas tradições e não as quer ver cair. “Enquanto houver bois há boieiros”, conclui.

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