“Ter um cão preso a uma corrente também é um mau trato”
Inês Magalhães é sócia-gerente do Hospital Veterinário de Santarém. É natural de Coimbra, onde se formou em medicina veterinária, mas tem construído a sua carreira profissional no Ribatejo, onde se sente bem apesar da integração não ter sido fácil.
Diz que tratar de animais é um prazer e detesta papelada. Nos tempos livres gosta de jogar ténis para descarregar o stress do dia-a-dia.
Inês Magalhães, sócia-gerente do Hospital Veterinário de Santarém, nasceu há 33 anos em Coimbra. Quando acabou o curso de veterinária em 2008, também em Coimbra, enviou currículos para vários sítios. Acabou por ir parar Alpiarça para fazer um estágio. A sua orientadora, Rita Calouro, gostou do seu trabalho e desafiou-a a entrar para o negócio que tinha idealizado. Em 2010 abriram o Hospital Veterinário de Santarém. O seu animal preferido é o cão e é dona de uma cadela com 15 anos.
A veterinária nunca tinha ouvido falar em Alpiarça nem fazia a menor ideia de onde ficava. Decidiu-se pelo Ribatejo por ter muita agricultura e muitos animais, portanto havia uma maior possibilidade de arranjar emprego. Hoje diz que é feliz no Ribatejo. No início a adaptação não foi fácil porque Santarém é muito diferente de Coimbra. A médica considera que não é fácil a integração para quem vem de fora. “As pessoas não estão de braços abertos para nos receber. Em Coimbra isso não acontece porque nos convidam logo para dentro de casa”, conta.
Quando era criança quis ser muita coisa entre elas cabeleireira. Mais tarde, já no liceu, percebeu que queria fazer algo relacionado com a medicina, mas como diz que é muito piegas, sempre achou que não tinha estômago para medicina humana, por isso, pensou que “com pessoas não ia correr bem”. Por outro lado sempre adorou animais e isso foi decisivo na sua opção.
Inês Magalhães e Rita Calouro abriram o Hospital Veterinário de Santarém em 2010. A veterinária passa grande parte da sua vida na clínica, fins-de-semana incluídos. O Hospital Veterinário de Santarém funciona 24 horas por dia durante 365 dias por ano. Diz que há dias que passa 12 horas seguidas no trabalho e mesmo quando está de folga não consegue desligar. “Na clínica partilhamos tudo”, refere.
Não consegue sair à porta e ignorar o que se está a passar no hospital. Há casos que estão pendentes, há os animais que estão internados. Costuma dizer que trabalha com alma. Já se foi mais abaixo quando alguns casos correm mal e não é possível salvar o animal. Agora já está mais habituada e conta a O MIRANTE que já criou defesas, “porque não há psicológico que aguente”.
Nos tempos livres gosta de jogar ténis para descarregar o stress do dia-a-dia. Diz que quando está no campo não pensa em mais nada e prefere treinar de manhã. Normalmente costuma ter 15 dias de férias para ir para a praia e “ao longo do ano vai aproveitando alguns fins-de-semana para fazer umas escapadinhas”.
Inês confessa que não gosta de ser gerente, detesta papelada e detesta contabilidade. Prefere “meter as mãos na massa” e dentro da clínica o trabalho que mais gosta é fazer cirurgias. Só é gerente porque “a vida assim o ditou”. Tem um orgulho imenso na equipa que conseguiu reunir com a sua sócia para que tudo corra em harmonia.
Inês Magalhães conta que com a crise as pessoas têm descurado alguns cuidados com os seus animais domésticos. “Quando os animais chegam à clínica já vêm em situações de urgência. Algumas situações são claramente de negligência durante vários meses e só vêm em último recurso, o que dificulta imenso o diagnóstico e também o trabalho do veterinário”, conta.
A veterinária considera que hoje em dia ter um animal é um luxo. “Algumas pessoas têm animais e à primeira dificuldade já estão a dizer mal da vida e a querer devolvê-lo. Isto demonstra uma falta de consciência enorme”. A médica considera que ter um animal é como ter um filho.
Já foi a corridas de toiros, mas não é aficionada. Respeita a tradição. Considera ser um tema bastante delicado. Não é a favor nem é contra, mas custa-lhe assistir a algumas situações que acontecem na arena. “A adrenalina atenua a dor mas claro que o animal sofre”, diz.
A lei que criminaliza os maus tratos a animais está bem pensada no entender de Inês Magalhães e tem que ser aplicada. Há situações de maus tratos a animais que as pessoas nem consideram serem maus tratos, como por exemplo ter um cão preso a uma corrente no fundo do quintal e achar que é normal. “Antigamente era assim e a minha avó também tinha, mas temos que mudar as mentalidades”, conclui.