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Vida de proximidade

É urgente que neste mercado global em guerra ajudemos com quem nos cruzamos na rua. Certamente que algum dia serei eu o ajudado. No limite, os meus problemas são os problemas do meu vizinho e o seu sucesso é o meu sucesso.

Como sabemos vivemos num mundo global sem escala e sem rosto, onde é fácil parecer sério e conveniente e não o ser. Não é possível e aceitável viajar para Londres por 30 euros ou comprar uma cadeira, feita do outro lado do mundo, provavelmente por uma criança, a dois euros; estas, como muitas outras, são enormes mentiras. Obviamente que isto vai acabar.
Por isto, e muito mais, sou um fervoroso adepto do local, o que chamo o valor do local, o up local; a terra onde vivemos, os seus recursos e saberes. Na verdade trata-se dos recursos e patrimónios da nossa terra, naturais e culturais, que todos conhecemos, vemos, apalpamos e cheiramos.
Uma das palavras-chave nesta “guerra” deixou de ser proximidade, parceria etc, e passou a ser cumplicidade. Este jornal, O MIRANTE,
é um excelente exemplo de cumplicidade com a região, muito mais que proximidade. Como alguns sabem, muito menos que os necessários, os tempos não são para menos, o desafio, às vezes pela sobrevivência, é enorme e só com cumplicidades, enormemente vantajosas para todas as partes, poderemos aspirar a mais e melhor riqueza.
Pratico à exaustão o conceito de “rede de proximidade cúmplice”, isto é, para além da minha família os meus elos mais fortes são os meus vizinhos. A fronteira de “vizinhança” pode abranger até pessoas que não conheço. Exemplifico: quando necessito de um par de calças ou de pneus no automóvel recorro a serviços locais. Esta é uma forma de cumplicidade. O que defendo é que cada um de nós pratique um modo de vida de proximidade cúmplice. As vantagens são muitas a começar pelas, quase infinitas, pessoais.
Em todas as terras os exemplos são muitos; é óbvio e muito conveniente que se assuma uma rede de economia de proximidade cúmplice. Sem complexos, tão clara quanto legítima e óbvia. No pacote de atores e elos incluo da base, cada um de nós, o cidadão anónimo de todos os dias, cujo valor e poder das escolhas é enorme, até aos próprios serviços públicos de cariz local ou regional.
Faço-me entender? É urgente que neste mercado global em guerra ajudemos com quem nos cruzamos na rua. Certamente que algum dia serei eu o ajudado. No limite, os meus problemas são os problemas do meu vizinho e o seu sucesso é o meu sucesso. O curioso é que, com alguma atenção, começamos a verificar que até as grandes marcas nacionais, ou mesmo com algum caracter global, começam a ajustar-se à tendência local de proximidade da procura. Ou alguém acredita que as grandes distribuidoras alimentares abrem mercearias de bairro por opção própria? Não, fazem-no porque são obrigadas a isso por todos nós.
A economia de proximidade cúmplice parece-nos tão natural e simples que custa saber que não é assumidamente praticada na generalidade. Nada nos falta para sermos mais ricos e felizes; basta olhar largo e valorizar e estimar o que temos perto; viver o local com responsabilidade e respeito.
Carlos A Cupeto – Universidade de Évora

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