
Doente pede 750 mil euros de indemnização ao Hospital de Santarém por ter ficado cego
Administrador do hospital chegou a dizer que o doente não soube queixar-se ao médico
O habitante de Fazendas de Almeirim que ficou cego de um olho vai pedir uma indemnização de 750 mil euros ao Hospital Distrital de Santarém, que chegou a atirar culpas para o doente por entender que este é que devia chamar a atenção do médico para a gravidade da situação. O processo por falta de assistência, de especialistas e por não ter sido transferido atempadamente, entra esta semana na Instância Cível de Santarém, segundo confirma o advogado de Manuel João Rebelo, 35 anos. O tractorista ficou sem capacidade de trabalhar e nos últimos dois meses já foi sujeito a mais duas cirurgias para salvar o olho e evitar-se a colocação de uma prótese.
Recorde-se que Manuel João Rebelo recorreu às urgências com dores numa vista, depois de ter sentido uma pancada de um objecto quando andava a cavar na horta junto à sua casa. A situação ocorreu no dia 29 de Dezembro de 2015 e na altura não havia médico especialista em oftalmologia para ver o doente. O médico das urgências que o viu limitou-se a prescrever a lavagem da vista e colocação de um penso. Após cerca de 32 horas, Manuel começou a ter mais dores e a perder a visão, tendo voltado às urgências, altura em que, mais uma vez, não havia médico especialista disponível. Nessa altura foi de imediato enviado para o Hospital de S. José (Lisboa).
O que não foi visto em Santarém foi no S. José, que indica na nota de alta que o doente apresentava um corpo estranho metálico e “catarata traumática”. A administração do Hospital de Santarém, numa resposta à reclamação que o doente fez na altura, refere que este apresentava uma ligeira hemorragia do olho sem presença de qualquer corpo estranho. Para além das dores e da perda de qualidade de vida, o que mais revoltou Manuel foi a posição do Hospital de Santarém, que desde o início tem tentado descartar responsabilidades, ao ponto de lhe atribuir culpas.
“Se da primeira vez o doente se tivesse queixado da mesma forma que fez na segunda vez que recorreu às urgências, teria sido enviado para o hospital de referência em Lisboa”, disse o administrador do Hospital de Santarém, José Josué, quando O MIRANTE noticiou o caso em Março. Josué admitiu que o número de oftalmologistas é insuficiente e que não há assistência nesta área após as horas de expediente nem ao fim-de-semana mas considera que o doente foi bem atendido e que na altura, perante as suas indicações, o caso não parecia grave.

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