É no santuário de Nossa Senhora do Castelo que enfrentamos os nossos medos e aflições
Célia Ramalho, vereadora na Câmara de Coruche, está há seis meses a trabalhar na organização das festas. Célia Ramalho é vereadora na Câmara Municipal de Coruche há seis anos, quando aceitou o convite para integrar as listas do PS às eleições autárquicas em 2009.
Aceitou o convite “sem pestanejar” e admite que se apaixonou pela gestão autárquica. O que lhe dá mais prazer e a motiva todos os dias é poder contribuir e decidir coisas estratégicas para o desenvolvimento da sua terra. Considera que esse é o grande desafio da vida autárquica. Começa a trabalhar na organização das Festas em Honra de Nossa Senhora do Castelo - que este ano decorrem de 13 a 18 de Agosto - seis meses antes. Um evento que considera ser um orgulho para todos os coruchenses. A autarca nasceu há 48 anos em Coruche e os seus pais sempre tiveram negócios no concelho. Nunca tira férias antes das Festas em Honra de Nossa Senhora do Castelo porque, admite, esta é uma altura de muita responsabilidade e tem que estar tudo pronto e nada pode falhar.
As festas de Nossa Senhora do Castelo são a manifestação mais importante do concelho? A maior parte de nós passa o ano inteiro a pensar nesses dias de festa. As festas de Nossa Senhora do Castelo são o melhor que há para os coruchenses. É o que lhes dá orgulho. O melhor que as pessoas de Coruche podem ouvir é elogiarem as festas de Nossa Senhora do Castelo.
O que faz com que esta seja a maior festa do concelho? Junta-se o facto de Agosto ser mês de férias, festas, calor, do regresso dos emigrantes, dos amigos e da família. Há uma grande mística que envolve as Festas do Castelo e que mobiliza toda a população. Estas festas são centenárias e há o hábito e a tradição de que cada coruchense receba em sua casa, ou nas tertúlias, muitos amigos, conhecidos e visitantes. São milhares de pessoas que nos visitam nesta altura do ano e nós temos orgulho nisso.
Que significado tem a celebração dos 500 anos da procissão em honra de Nossa Senhora? Há cinco séculos que as pessoas vêm, todos os anos, pedir protecção à Senhora do Castelo, nossa padroeira. Significa que existe um local, um ponto de elevação, em que os nossos olhos se viram para cima, para esse local de culto e de fé, que é a ermida de Nossa Senhora do Castelo. É lá que enfrentamos os nossos medos e aflições e fazemos as nossas preces. É esta fé e mística que faz com que esta romaria aconteça há já 500 anos. Somos um povo que tem muita devoção à nossa padroeira.
De que forma a festa marca a região? Atrevo-me a dizer que a romaria a Nossa Senhora do Castelo é das mais importantes, senão a mais importante, da região sul do Ribatejo. No cortejo também temos feito a inventariação de algumas zonas limítrofes que têm participado ao longo dos séculos na romaria, como, por exemplo, dos concelhos de Almeirim e Salvaterra de Magos. São pessoas que vinham de véspera para fazer as suas promessas à santa.
Quais são as primeiras memórias que guarda das Festas de Coruche? Ir vestida de anjinho à procissão com quatro ou cinco anos. Ir ao arraial da festa, onde hoje decorrem os concertos musicais, ir ao cortejo e à corrida de toiros no dia 17 de Agosto.
Alguma vez participou no cortejo etnográfico? Em criança participei algumas vezes. Na adolescência, fui vestida de noiva, com roupas antigas muito bonitas, que também correspondia ao traje de vestir para ir à vila ao domingo. Também me recordo de ir atrás dos carros do cortejo para ver se me davam algum rebuçado ou outro tipo de presente. Ainda hoje fazemos questão de manter essa tradição. Os meus filhos também já participaram no cortejo.
Enquanto vereadora já participou no cortejo? Houve um ano que tínhamos uma convidada para participar no cortejo. O problema é que, à última hora, ela não pôde aparecer para desfilar numa charrete na abertura do cortejo. Para não haver aquela falha trajei-me e substitui-a.
O cortejo etnográfico é organizado pela câmara municipal. Começa os preparativos com quanto tempo de antecedência? Quando terminamos uma edição começamos logo a tirar notas para o próximo ano. Cerca de seis meses antes das festas pensamos num tema, que é sempre diferente, e começamos a trabalhar nele.
A câmara dá um subsídio anual de 80 mil euros para as festas. Há retorno desse investimento? O concelho recebe milhares de visitantes durante o mês de Agosto. Só durante as Festas do Castelo são cerca de 30 mil pessoas. O retorno financeiro é muito maior que o subsídio anual. Estas festas são um orgulho para todos nós e isso é o motor de tudo. Os coruchenses gostam de receber e sabem receber muito bem.
Não faz sentido que entre Lisboa e Coruche só haja um autocarro por dia
Coruche tem conseguido tirar partido do facto de estar entre o Alentejo e o Ribatejo? Estamos próximos de várias capitais de distrito. Além disso, estamos próximos de um eixo que consideramos importante, que é Espanha e Lisboa. A boa rede de acessibilidades e auto-estradas aproxima-nos da capital e faz com que Coruche se torne uma atracção por ser diferente da área metropolitana de Lisboa. O facto de sermos o concelho mais a sul do distrito de Santarém faz com que as características da paisagem sejam muito idênticas ao Alentejo. Da gastronomia vamos buscar as melhores influências tanto do Ribatejo como do Alentejo.
O que faz falta no concelho de Coruche? Há uma série de acessibilidades, nomeadamente de ligação a Lisboa, que há vários anos foram projectadas e não saíram do papel. Faz falta uma nova ponte. A ligação ao IC3 seria muito importante. Faz falta uma rede de transportes rodoviários mas também faz falta uma rede de transportes ferroviários que já foi iniciado há uns anos mas que nos deixa ainda muito longe do ideal para trazer pessoas ao nosso concelho. Não faz sentido que entre Lisboa e Coruche só haja um autocarro por dia. Tem de existir uma resposta ao nível dos transportes colectivos.
A passagem dos municípios da Lezíria do Tejo para a Entidade de Turismo do Alentejo foi uma mais-valia? Ao princípio todos estranhámos a mudança mas as características da liderança da Entidade Regional de Turismo dizem-nos que foi uma escolha acertada. O facto de trabalharmos turisticamente, ao nível da promoção, com a zona territorial onde vamos buscar o dinheiro para os fundos comunitários faz com que tudo seja mais prático.
Tem sido fácil captar empresas para se instalarem em Coruche? Temos tido procura de empresas para conhecerem o concelho e a realidade é que a área empresarial de Coruche está lotada. Esta tem sido uma prioridade deste executivo.
O que é que Coruche tem de atractivo para as empresas? As boas acessibilidades mas também temos feito um grande trabalho de promoção territorial e de um território diferenciador. As empresas também procuram territórios que estejam ligados à área de negócios onde estão inseridos.
De que forma o estatuto de Capital Mundial da Cortiça tem ajudado no desenvolvimento do concelho? Deixamos de ser mais um concelho do Ribatejo e passamos a ser “Coruche - a capital da Cortiça”. Em muitos locais onde vamos dizem-nos que somos da terra da cortiça. É um conceito diferenciador e do ponto de vista promocional e turístico e isso representa desenvolvimento para o concelho.
Do ponto de vista financeiro também é benéfico? Se é de Coruche que se extrai oito por cento da cortiça a nível nacional, logo é uma actividade que tem um grande retorno económico para o concelho. Há uma grande probabilidade de qualquer matéria que seja feita com cortiça seja originária de Coruche. Cerca de 50% deste concelho é floresta e a árvore dominante é o sobreiro. Daí se percebe a enorme importância de sermos a Capital Mundial da Cortiça.
Em que medida o encerramento de serviços públicos tem prejudicado o concelho? Temos sentido o encerramento de serviços públicos em alguns pontos do concelho, como está a acontecer em todo o país. Sobretudo as zonas rurais ficam mais isoladas e mais desprotegidas. Não estamos numa zona que seja servida por uma zona de transportes, a toda a hora, por isso o encerramento de um serviço, de qualquer tipologia, nunca é um bem evidente para as pessoas.