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De negócio em negócio conforme o vento soprava de feição

De negócio em negócio conforme o vento soprava de feição

Manuel Marques Francisco, gerente da Francicampo em Salvaterra de Magos. Tem setenta e dois anos de idade, dezassete dos quais passados em França, para onde emigrou para escapar ao Serviço Militar Obrigatório e à mobilização para a guerra do ultramar.

No regresso a Portugal, Manuel Marques Francisco começou por fazer agricultura na propriedade que tinha comprado mas nunca perdeu uma oportunidade de negócio. Comprou uma televisão alimentada por uma bateria devido a não haver electricidade e os pedidos foram tantos que abriu uma loja de electrodomésticos. Depois vendeu e instalou sistemas de rega. Mais tarde dedicou-se à compra e exportação de batata. Um acidente de trabalho impediu-o de continuar a tocar acordeão mas não o impediu de escrever e a escrita é a sua paixão.

Fui para França aos 17 anos para me livrar da guerra do ultramar e para tentar ganhar algum dinheiro. Estive lá com a minha mulher durante dezassete anos. Regressámos em 1975. Em França fui condutor de máquinas durante sete anos e depois fui encarregado de obras. Ganhava muito dinheiro mas tinha que trabalhar todos os dias e pelo menos dez horas por dia.
Quando vim para Salvaterra de Magos, como não havia energia eléctrica comprei uma televisão que era alimentada por uma bateria. As pessoas souberam e começaram a contactar-me para mandar vier televisões daquelas. Mandei vir uma, duas, três e isto transformou-se num negócio. Ao fim de um ano tinha montado uma loja de electrodomésticos. Tive a loja aberta durante vinte e nove anos ao mesmo tempo que fazia agricultura.
A electricidade acabou por chegar e lancei-me no negócio dos motores de rega eléctricos. Surgiu nessa altura a rega gota a gota e de aspersão e comecei a importar de Israel os chuveiros e o material necessário. Fazia-se uma canalização para rega num instante. O negócio da rega começou a ser mais lucrativo que o dos electrodomésticos. Qualquer pessoa que tivesse um pequeno terreno vinha cá comprar o sistema de rega. Ganhei muito dinheiro nessa altura.
Uma vez um cliente veio comprar uma antena parabólica e reparou que fazíamos produção de batata. Esse cliente tinha uma empresa que exportava produtos agrícolas para França. Os franceses tinham falta de batata entre os meses de Abril até Julho e então a batata portuguesa valia uma fortuna. Começámos a exportar batata para França e foi assim que nasceu a Francicampo. Chegámos a ultrapassar as três mil toneladas em 2002. Depois começámos a explorar também o mercado nacional.
Comecei a escrever em 2006 quando fui com a minha família a Campo Maior ver as ruas enfeitadas com flores. Decidi escrever sobre aquela visita para ficar em memória. Depois fui a uma gráfica aqui em Salvaterra de Magos e mandei imprimir o texto que não tinha mais do que uma dúzia de páginas e ofereci um exemplar a cada membro da família.
Em 2013 uma rapariga de Marinhais que tem um programa numa rádio aqui no concelho leu alguns poemas meus. Ligou-me a seguir ao programa e disse-me para guardar tudo o que tinha escrito que um dia ainda ia dar um livro. Acabei por o editar no ano seguinte.
Para mim o mais importante é a família. O dinheiro e tudo o resto não interessam. Devo muito à minha mulher que sempre foi uma mulher de trabalho, boa mãe e boa avó. Dediquei-lhe um livro que não foi publicado porque achei que era estar a expor a minha família.
Quando era mais novo gostava de tocar acordeão. Dava-me muito prazer tocar mas tive um acidente em França que quase me tirou dois dedos da mão direita. Fiquei sem sensibilidade naqueles dedos e nessa altura acabou-se o acordeão.
O que há de melhor no Ribatejo é a festa brava. Os ribatejanos não deviam deixar acabar as corridas de toiros como alguns querem. Há pessoas que não gostam e têm esse direito mas não têm o direito de proibir. Se acabarem as touradas acabam-se os toiros porque ninguém vai criar um animal durante quatro anos apenas para vender a carne.

De negócio em negócio conforme o vento soprava de feição

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