O campo do Tejo
“Em nenhum outro país europeu o mundo rural é tão importante como em Portugal. Não só mas também por isto, era importante que passássemos rapidamente à ação. As receitas estão sobejamente escritas, a inação e os erros do passado também. Vamos continuar à espera que os nossos parceiros europeus nos venham fazer aquilo que nos compete só a nós?”
Cork é uma média cidade no litoral do sul da Irlanda com cerca de 130 mil pessoas. Nunca lá estive mas deve viver-se bem em Cork. Vem isto a propósito desta cidade ter acolhido em 1996 e 2016 (5 e 6 de setembro) uma “Conferência europeia sobre o desenvolvimento rural” promovida por Phil Hogan, Comissário Europeu para a Agricultura e Desenvolvimento Rural. Seria interessante comparar as conclusões de 96 com as de 2016 e, sobretudo, avaliar resultados após 20 anos de trabalho – desde 96 até hoje. Não vamos por aí, pois a conclusão fundamental é bem conhecida de nós, portugueses: “aos costumes disse nada”. Afinal não somos assim tão diferentes dos povos mais a norte.
Esta Europa tem muito que se lhe diga e era muito bom que a porta aberta pelo Reino Unido (Brexit) servisse para alguma coisa. Sem muita conversa, o grande objetivo da Conferência foi (como) “viver melhor no mundo rural”. Naturalmente que um objetivo destes nos interessa imenso. Os habituais participantes (decisores políticos, ONG, membros da Academia e outras entidades) “discutiram primeiro ‘quais’ os desafios atuais e futuros que se colocam às áreas rurais, sugeriram depois ‘como‘ responder aos desafios através de políticas e medidas, e, por fim, fecharam a segunda edição da conferência com a nova Declaração de Cork 2016”. Quatro grandes temas: Emprego, Crescimento e Investimento; Ambiente, Clima e Água; Inovação Rural; e Viabilidade Rural motivaram os trabalhos. Tudo muito atual e oportuno.
No fim, o passo a passo para a ação mostra-se igualmente justo e correto: promover a prosperidade rural, reforçar as cadeias de valor rurais, investir na viabilidade e vitalidade rural, preservar o ambiente rural, gerir os recursos naturais, apoiar a ação climática, impulsionar o conhecimento e a inovação, valorizar a governança rural, dinamizar a implementação e simplificação das políticas, melhorar o desempenho e a prestação de contas.
Quem discorda da importância de tudo isto? Ninguém. Quem acredita que daqui efetivamente vai resultar alguma coisa que valha a pena? Ninguém. As boas exceções vão, certamente, compor os excelentes exemplos com que a Europa gosta de acenar e concluir com belíssimos relatórios.
Provavelmente (estou a ser comedido) em nenhum outro país europeu o mundo rural é tão importante como em Portugal. Não só mas também por isto, era importante que passássemos rapidamente à ação. As receitas estão sobejamente escritas, a inação e os erros do passado também. Vamos continuar à espera que os nossos parceiros europeus nos venham fazer aquilo que nos compete só a nós? A maioria das vezes, da casa deles não dão eles boa conta.
(Fonte: Newsletter A Minha Terra)
Carlos Cupeto – Universidade de Évora