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As instituições não devem ser trampolim para outros cargos

As instituições não devem ser trampolim para outros cargos

Jorge Nogueira é o novo provedor da Misericórdia do Cartaxo

Foi jornalista, trabalhou num projecto empresarial ligado ao sector dos vinhos, tem um projecto empresarial na área da comunicação, foi presidente da concelhia do PSD do Cartaxo e agora é provedor da Santa Casa da Misericórdia do Cartaxo. Jorge Nogueira, a pouco mais de dois meses de fazer 50 anos, quer abrir mais a instituição à comunidade e continuar a trabalhar na sua sustentabilidade. Agora neste cargo garante que reduziu o altifalante da política. Considera que o Cartaxo merece experimentar outra governação política e acredita que um dia o PSD vai ganhar as eleições.

De jornalista para o sector dos vinhos, depois para a política e agora na Misericórdia. Tanta mudança deve-se a insatisfação natural? Envolvo-me em projectos. De vez em quando as pessoas fazem o favor de falar comigo e perguntar a minha opinião. E eu vou-me interessando, vou-me empenhando, vou participando, vou dando a minha opinião e às vezes dou por mim muito envolvido em determinadas coisas.
As coisas acontecem por acaso? Se me perguntassem em 2008 se iria ser presidente da Comissão Política do PSD do Cartaxo eu dizia que não. O certo é que fui passados uns anos. As coisas têm acontecido muito assim.
Como surge o envolvimento com a Misericórdia do Cartaxo? Entrei para a Santa Casa da Misericórdia do Cartaxo em 2006 a convite da engenheira Luísa Pato. Para ser sincero, não tinha bem a noção do que é que era esta instituição. Pertenci a uma mesa cujo provedor era o senhor Tomás Estêvão. Aprendi muito com ele, tal como depois com Luísa Pato.
A subida a provedor foi uma situação natural? A provedora Luísa Pato decidiu não continuar no cargo e nenhum de nós é pessoa de abandonar as coisas. Na altura já era vice-provedor e disse que não iria deixar que houvesse um vazio.
Ser provedor é um cargo meramente representativo… As regras e as responsabilidades exigidas a um provedor não são compatíveis com a ideia de que este cargo é meramente decorativo e quem pensar assim pode apanhar um valente susto.
O facto de ter sido jornalista abriu portas para a política e o reconhecimento social? A actividade de jornalista dá-nos uma vontade de procurar conhecer as coisas. O jornalismo, para além de nos dar uma visão diferente do mundo, porque nós quando estamos investidos desse papel temos um olhar diferente sobre as coisas, dá-nos também uma responsabilidade muito grande. Depois temos de saber comunicar de forma clara, objectiva, precisa. Isso ajuda, por exemplo, na política, nas actividades comerciais, nas instituições.
E o facto de ser militante e responsável de um partido também abre portas? Não sou um bom exemplo nisso. Gosto muito de política, de a analisar, de perceber os políticos. Sou militante do PSD desde 2009/2010. E a minha motivação para entrar na política teve a ver com questões que eram da minha terra, para tentar ajudar. O pertencer a um partido, no imaginário das pessoas, é um caminho para o sucesso. Estive desempregado, mesmo quando era presidente da concelhia, e não foi o PSD que me arranjou trabalho.
E resultou alguma coisa entrar para o PSD e ser presidente da concelhia? Foi uma experiência intensa num mandato em que preparámos as eleições autárquicas de 2013. Os resultados foram péssimos. Culpa minha, em primeiro lugar, mas a experiência ficou cá. A batalha que travámos, as ideias que tínhamos, aquilo que tentámos concretizar, são experiências que ninguém pode apagar e que guardo. Gosto muito de guardar, até o que corre mal.
O PSD não se consegue implementar ao ponto de vir a ganhar a câmara? Um dia destes ganha! O Cartaxo tem sido governado pelo Partido Socialista mas um dia destes isso acaba. Qualquer organização que seja sempre liderada pela mesma pessoa ou pelo mesmo grupo vai ter uma dificuldade acrescida num futuro próximo. O melhor que há para as organizações é haver um corte e corrigir coisas do passado. É uma infelicidade para o Cartaxo nunca ter experimentado uma governação com outros partidos.
Acha que um dia vai ser presidente de câmara? Neste momento não estou a fazer nada por isso. Sou presidente da assembleia da União de Freguesias do Cartaxo e Vale da Pinta, cargo que desempenho com muito gosto.
Estar numa instituição não lhe limita a intervenção política? Sinto que não posso ter a mesma amplitude de voz na política e enquanto provedor desta instituição. Não quero confundir nada, não quero que as pessoas se confundam, e não quero que pensem que me aproveito da Santa Casa. Estou a reduzir o volume do meu megafone político mas não o vou desligar porque quero participar na vida da comunidade.
Agora como provedor já não pode fazer muitas críticas ao poder local. Neste momento não tenho uma actividade partidária. Não estou em nenhum órgão partidário e baixei o altifalante da política.
Para não prejudicar a Misericórdia? Não quero que as pessoas confundam o provedor da Misericórdia com o presidente da assembleia de freguesia, com o militante social-democrata. Quem está na política tem que estar de corpo inteiro, tem que estar com uma atitude combativa. Neste momento a minha causa é a instituição, num compromisso que assumi até 2019. Não estou a utilizar a Santa Casa como trampolim para nada.

Uma instituição precisa de dialogar e ser sustentável

Quais vão ser os seus objectivos na Misericórdia do Cartaxo? Sentimos que esta instituição é conhecida e reconhecida no Cartaxo. Mas pouca gente a conhecia. Pouca gente sabia efectivamente o que andávamos a fazer. Um dos primeiros objectivos foi fazer tudo o que estivesse ao nosso alcance para abrir portas, para trazer pessoas à instituição. Fizemos em Maio um dia aberto e ficámos surpreendidos porque pessoas que tinham o dever de nos conhecer melhor ficaram encantadas com o número de utentes e com as instalações. Uma instituição grande como esta tem a obrigação de dialogar e dar mão a um conjunto de outras instituições, para criação de parcerias.
Como pretende continuar a abrir a instituição à comunidade? Em 2017 vão estar presentes três números: 70, 40 e 10. No próximo ano a Misericórdia do Cartaxo faz 70 anos, as instalações no Largo de São João fazem 40 anos e a Casa de Santa Cruz faz 10 anos. Queremos instituir um prémio para o melhor aluno, em princípio será do secundário, que concilie duas coisas: o bom aluno que ele é com algum trabalho que esses alunos possam fazer em relação a temas que andem à volta da terceira idade, da Misericórdia. Queremos também levar a cabo um debate, alargado, sobre coisas que nos preocupam muito, como a demografia e o envelhecimento da população, tendo em conta a escassez de recursos.
As misericórdias normalmente andam sempre a queixar-se das dificuldades. Aqui no Cartaxo não há esse problema? O orçamento da Misericórdia do Cartaxo é de 2,1 milhões de euros, sendo que a comparticipação do Estado é de 22 por cento. As nossas dificuldades são as de qualquer outra misericórdia. Há uma coisa que nos distancia de outras, que é a de tentarmos sempre ser sustentáveis. Se não olharmos sempre para os números, para o equilíbrio financeiro, não estamos em condições de amanhã ajudar aqueles que precisam. Este exercício é muito complicado quando se tem uma lista de espera de 300 pessoas. Vamos ter um problema dentro de pouco tempo, que é arranjar forma para que estas instituições consigam responder às carências que as pessoas têm.
Tem que encontrar novas respostas? Não temos condições físicas para receber as pessoas e é necessário levar o nosso apoio onde as pessoas estão. Por isso, também criámos agora, um apoio à distância, via telefone. A pessoa tem um aparelho que pode usar para em qualquer situação e contactar a instituição. Vamos começar a oferecer esse serviço aos nossos utentes de apoio domiciliário.
As misericórdias normalmente têm grande património. Também é o caso aqui no Cartaxo? Comparando com outras, somos uma misericórdia pequena, ou seja, temos poucos anos. Desse ponto de vista não temos património. O que temos são as doações, são os legados.
Gerir esse património é um problema ou uma vantagem? A nossa vocação, por exemplo, não é agrícola. Chegámos a ter muitas terras mas, há uns anos, o senhor Tomás Estevão teve a brilhante ideia de criar a Casa de Santa Cruz, que é o nosso equipamento privado para angariação de receitas.
A questão das instituições receberem património imobiliário não acaba por dar uma má imagem? As pessoas percebem que precisam de que alguém que cuide delas e que isso tem um custo. Um utente em média, por mês, custa 1100 euros, e todos sabemos o valor das reformas.
Mas apesar destas dificuldades isto é um bom negócio se for bem gerido? Como é que pode ser um bom negócio se todos os anos não há lucros. O nosso papel é de responsabilidade e de confiança. O Estado confia em nós e quer-nos como parceiros. Agora o que não queremos é andar a fazer coisas que o Estado diga que não quer.
Nos próximos anos há condições para mandar fazer novos equipamentos e alargar as respostas que já existem? Temos três necessidades muito urgentes. Queremos responder a mais gente no apoio domiciliário, e em outras áreas. E para isso precisamos fazer um alargamento da lavandaria e da cozinha. Temos também a ambição de aumentar o apoio que prestamos e melhorar as condições que implicam fazer obras, como por exemplo a construção de uma rampa para o primeiro andar.
Também não podem contar muito com a colaboração da câmara atendendo à situação financeira em que se encontra. Não somos muito de pedir mas aceitamos os contributos de todos. Queríamos muito fazer um parque dedicado aos maiores de 65 anos num terreno contíguo às instalações. Concorremos ao apoio do BPI no âmbito de um concurso. Precisávamos de um levantamento de custos e pedimos ajuda à câmara mas infelizmente não foi possível. Os prazos eram muito apertados. Recorremos a um privado. O projecto está orçado em 240 mil euros e vamos tentar não gastar um cêntimo da Misericórdia.
A Misericórdia também é um grande empregador do concelho. Temos cerca de 100 funcionários, que consomem cerca de metade do nosso orçamento, para respostas sociais que vão desde o lar, ao centro de dia, apoio domiciliário e residências. Criámos recentemente um serviço só de refeição. No total temos cerca de 200 utentes.

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