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Editar livros de autores locais mesmo sem grande qualidade é preservar a memória colectiva

Editar livros de autores locais mesmo sem grande qualidade é preservar a memória colectiva

Presidente de Alpiarça, Mário Pereira (CDU), e presidente de Torres Novas, Pedro Ferreira (PS). Os dois convidados para a série de conversas a que demos o nome de “Duetos Improvisados entre pessoas que tocam sempre a mesma música” só costumam falar um com o outro nas reuniões do conselho de administração da empresa Águas do Ribatejo mas nutrem simpatia um pelo outro. Tiraram os casacos antes de começar e ficaram surpreendidos quando lhes anunciámos que já tinha passado uma hora.

O presidente da Câmara Municipal de Torres Novas, Pedro Ferreira (PS), e o presidente da Câmara de Alpiarça, Mário Pereira (CDU), apoiam a edição de livros de autores locais como forma de promover a cultura e de guardar registos da história dos seus concelhos.
Os dois autarcas conversaram durante uma hora na sede de O MIRANTE em Santarém, no âmbito da série de conversas a que foi dado o nome “Duetos improvisados entre pessoas que tocam sempre a mesma música” e a questão das edições locais foi um dos temas abordados.
“Apesar de Alpiarça ser um concelho pequeno tem um conjunto de pessoas que tem vindo a publicar com o apoio da câmara e da junta de freguesia livros de memórias e de vivências e algumas monografias. É uma área editorial importante porque faz o registo de uma memória colectiva que é importante que fique registada”, explica Mário Pereira.
Pedro Ferreira diz que está a ler um livro de um autor local. “É um senhor de oitenta e tal anos chamado José Duarte da Piedade. O livro tem um título muito interessante: ‘Escrevo para perceber as coisas’. E acrescenta. “Sobre estas edições, tenho uma história que mostra a ideia que tenho delas. Um dia apareceu-me uma senhora, infelizmente já falecida, que me pediu apoio para editar um livro. Nós temos uma equipa muito boa ligada às edições e à parte cultural e eu consultei-a. Embora me tenha sido dito que a obra não tinha grande qualidade, eu fui ao orçamento da acção social e editei-a, porque achei que era um incentivo importante”.
Mário Pereira concorda com a justificação dada. “A necessidade de divulgarmos o que é local acaba por se sobrepor por vezes à questão da qualidade. Se assim não fosse, ficávamos apenas pelos grandes escritores. O papel das autarquias é promover também esse desenvolvimento cultural”.
Os dois presidentes de câmara gostam muito de ler e de escrever. Pedro Ferreira tem pronta para editar uma história de ficção baseada numa aventura que ele próprio e uns amigos viveram, enquanto adolescentes e apaixonados pela espeleologia, nas grutas do Almonda. “É um livro para todas as idades mas ainda não arranjei coragem para o editar”, explica.
Mário Pereira confessa que chegou a ter alguns projectos de romances mas nada que fosse concretizado. “Eu era jovem e nem sequer dominava a técnica do romance. Entusiasmei-me mas à medida que fui descobrindo o mundo da literatura a sério fui-me convencendo que não tenho pedalada para aquilo. Editar um livro não é nada que se perspective a médio prazo. Gosto muito de escrever mas agora só textos relacionados com a minha actividade política. Não há tempo para mais”.
Apesar de estar numa conversa com um militante do PCP, o presidente da Câmara de Torres Novas não se inibe de, a certa altura, confidenciar que foi membro da Mocidade Portuguesa, uma instituição juvenil criada sob a égide do ditador Salazar. O cinto da farda até tinha na fivela o “ésse” da inicial do seu apelido.
“Sou católico praticante, andei pelos escuteiros e passei por quase tudo. Até pela Mocidade Portuguesa. Fui Arvorado Chefe de Castelo. Foi um irmão meu, infelizmente já falecido, que me meteu na organização. Lembro-me de desfilar num dia Primeiro de Dezembro (Dia da Restauração). Ia a tocar caixa. Já estava no segundo ano do ciclo preparatório. Aos sábados tínhamos instrução tipo militar”.
Mário Pereira, que é 17 anos mais novo, (tem 47 anos), diz que a Mocidade Portuguesa nunca teve expressão em Alpiarça e que mesmo o movimento escutista é uma moda relativamente recente. Refere que também não teve educação católica embora seja baptizado. “Não sou crente”.
Quem pensa que a barba do presidente da Câmara de Alpiarça tem origem em alguma inclinação política de esquerda, engana-se. Mário Pereira conta que a primeira vez que deixou crescer a barba foi aos 17 anos, quando jogava futebol, para parecer mais velho e para impor mais respeito. Depois seguiu-se um período de intermitências. Usava no Inverno e cortava no Verão. Passou a usar barba quando foi para a câmara porque a coisa que mais detesta de manhã é fazer a barba e não queria apresentar-se com ar desleixado. Quanto ao “bigodinho” de Pedro Ferreira, o dono diz que não se recorda porque o começou a usar mas diz que já foi há umas boas décadas.
De um modo geral os familiares dos presidentes apoiam-nos mas de uma forma crítica. Mário Pereira teve essa experiência recentemente no decorrer da Alpiagra - Feira Agrícola de Alpiarça. Pensava que tinha feito uma melhoria ao colocar os carrinhos de choque na zona central mas foi criticado pela filha e pelo filho, adolescentes, porque o local onde o divertimento funcionava antes era mais recatado. “Agora não temos privacidade” explicaram-lhe, numa alusão aos namoricos que decorriam longe dos olhares dos pais.

Uma experiência futebolística traumatizante

O presidente da Câmara de Torres Novas, Pedro Ferreira, nunca teve jeito para o desporto e ainda hoje está para saber por que é que, a certa altura, o incluíram na equipa de andebol da escola. Ao analisar a bizarra situação diz que a única explicação que encontra é a de não haver mais ninguém interessado em praticar aquela modalidade. Mesmo assim não se lembra de alguma vez ter rematado contra a sua própria baliza. Aliás, nem sequer se lembra se alguma vez fez um remate.
Com grande sentido de humor conta um episódio ocorrido, não no andebol mas numa ‘jogatana’ de futebol de salão. “Foi uma experiência traumatizante. Eu era suplente num jogo que decorria no velho campo do quintal do Zé Maria. A certa altura o guarda-redes aleijou-se e mandaram-me entrar para o lugar dele”, conta a rir.
“O Mateus, um velho amigo de escola, estava a jogar na outra equipa. A certa altura fez um remate tão forte que eu nem vi a bola. Nem quando ela entrou nem depois. Estava ainda meio desorientado à procura da rolha, quando ouvi uma voz a gozar comigo. ‘Ó patego, olha o balão’. Olhei para cima e a bola tinha ficado presa lá no alto entre a rede e a estrutura da baliza. Agora rio-me mas na altura não gostei nada”.

Os traumatismos das rivalidades futebolísticas

O presidente da Câmara de Alpiarça, Mário Pereira, jogou futebol no Águias de Alpiarça desde criança até sénior e lembra-se que, ao contrário do que acontece actualmente com muitos pais a pressionarem os filhos para serem, custe o que custar, estrelas da dimensão de Cristiano Ronaldo, muitas vezes teve que lutar, principalmente com os avós, para conseguir ir aos treinos. “Era uma pressão muito grande, para eu ficar em casa a estudar, principalmente quando estava a chover ou fazia muito frio”.
Agora é o contrário. “Hoje há situações extremamente exageradas por parte dos pais. Eu acompanho o meu miúdo que joga nos iniciados e noto isso. E às vezes também vou na onda. Também já me apanhei a exigir o que não devo”, reconhece. Mário Pereira também tem testemunhado conflitos entre pais de equipas adversárias e de pais com treinadores. “Há provocações, insultos e por vezes confrontos físicos. Mas, curiosamente, a maior parte dos miúdos são extremamente correctos”.
O autarca diz que na altura em que jogou os maiores conflitos eram entre jogadores. “Claro que havia terras onde mal chegávamos já estávamos a ser insultados mas dentro do campo era de mais. Lembro-me de um jogo em Samora Correia quando era júnior. Houve dois jogadores que andaram pegados o jogo todo e no fim houve uma sessão de murro e pontapé que envolveu as duas equipas e a GNR. Andei lá a tentar separar mas ainda sobrou qualquer coisa para mim”, conta.

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