“Quando uma pessoa é simpática deixa-me feliz o dia inteiro”
Magda Magalhães trabalha na secretaria do Ateneu Artístico Cartaxense
Nasceu no Cartaxo, tirou contabilidade e secretariado, passou por uma mercearia e uma empresa de extracção de areia em Azambuja antes de começar a colaborar com a instituição que conta com cerca de 300 atletas. Magda Magalhães enaltece o trabalho do movimento associativo, que conhece por dentro.
Administrativa no Ateneu Artístico Cartaxense há 12 anos, Magda Magalhães, 43 anos, cedo começou a trabalhar. Nasceu e cresceu na periferia do Cartaxo e desde cedo que trabalhou no campo, em campanhas de tomate, vindimas ou até na apanha de caracóis. “E lucrei com os caracóis até aos meus 15 anos. Levantava-me às seis da manhã, com a minha mãe e umas primas, íamos com um balde e depois vendíamos à porta de casa. Apanhávamos 20/30 quilos por semana e até vinham pessoas de Lisboa para os comprar”, conta a O MIRANTE.
Na escola sempre gostou muito de números, pelo que seguir contabilidade foi um passo natural. E na impossibilidade de seguir para o ensino superior escolheu no 12.º ano secretariado e práticas administrativas. “Iria exigir um grande esforço financeiro dos meus pais e por isso nunca pensei nisso”, acrescenta.
Em pequena sonhava ser cabeleireira, mas hoje não se vê a exercer essa profissão. Aos 18 anos, após o percurso escolar no Cartaxo, esteve num escritório de contabilidade na cidade mas como não havia trabalho para mais um funcionário apenas esteve lá durante quatro meses. Pouco tempo depois surgiu uma experiência numa área diferente. “Estive numa mercearia no Cartaxo que para meu grande espanto adorei”, conta Magda, que pode aprofundar o gosto pelo contacto com o público.
Quando a mercearia passou para Azambuja Magda Magalhães seguiu-lhe as pisadas, tendo chegado a morar na vila por dois anos. Em Azambuja o estabelecimento não resultou e pouco tempo depois estava desempregada e com uma filha nas mãos. “Adorei viver na Azambuja mas sou sincera: tinha uma má impressão. Sempre ouvi dizer que era um dormitório e como sou agarrada às raízes ainda resisti um pouco. Conheci pessoas formidáveis e o ambiente era bom - isto há 20 anos. Mas o que mais estranhei foi a falta de vida em Azambuja. O Cartaxo era a ‘Las Vegas do Ribatejo’ e até num domingo havia muita vida na cidade, quando na Azambuja às 20h00 estava já tudo fechado”, sustenta. “Agora o Cartaxo está um pouco mais impessoal. Temos de nos modernizar - eu percebo - mas descaracterizaram bastante a cidade”, acrescenta.
Durante o ano em que esteve desempregada, Magda acompanhou o primeiro ano de vida da sua filha e depois de procurar novo trabalho entrou numa empresa de extracção de areia em Azambuja. Fazia o atendimento ao cliente e a facturação e depois de três anos na vila os escritórios mudaram-se para Muge, concelho de Salvaterra de Magos, onde esteve mais dois anos. “Gostei imenso, apesar de não perceber nada de areia. Mas sempre tive bom ambiente no trabalho, algo que percorre todos os empregos que tive”, destaca.
Ao fim de cinco anos começaram a surgir os problemas na empresa, que coincidiu com a entrada da filha para a escola, e por estar longe dela, Magda decidiu concorrer ao posto de funcionária administrativa para o Ateneu Artístico Cartaxense, onde entrou em 2004. “Diminuiu um pouco o salário mas compensou em qualidade de vida”, acrescenta.
No Ateneu já passou por várias direcções e a cada dois anos voltam sempre os nervos. “Houve um ano em que estava difícil surgir uma direcção. A assembleia foi em Janeiro e a direcção só entrou em Maio. Foi aí que me apercebi que se não houver direcção isto fecha - é a fragilidade do associativismo. E as responsabilidades dos directores são enormes, são cerca de 300 atletas que dependem da instituição”, afirma.
Ao longo dos anos viu muitos miúdos crescer e o que mais a alegra é o contacto com as pessoas. “Chateia-me a falta de educação, deixa-me o dia inteiro de mau humor. No entanto quando uma pessoa é simpática deixa-me feliz o dia inteiro”, diz a cartaxense.