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Dois pais com duas filhas emigrantes em Espanha e Reino Unido embora por motivos diferentes

Dois pais com duas filhas emigrantes em Espanha e Reino Unido embora por motivos diferentes

António José Lameiras, presidente da AREPA, e Paulo Caetano, vice-presidente da Câmara de Almeirim.

António José Lameiras adora conversar e não perde uma oportunidade de participar em programas de rádio ou televisão onde possa expor os seus pontos de vista. Paulo Caetano é menos falador e parece preferir ouvir o que os outros têm para dizer antes de lhes dizer alguma coisa. Dois estilos diferentes em mais uma conversa O MIRANTE.

O vice-presidente da Câmara de Almeirim geria uma agência bancária antes de ir para a política. António José Lameiras foi comercial de duas grandes empresas antes de ser fundador e presidente da AREPA - Associação Recreativa do Porto Alto. O primeiro tem memorizados no telemóvel mais de quatro mil e quinhentos contactos. O segundo tem para cima de mil e quinhentos.
Para se orientarem associam-lhes para além dos nomes, cargos, empresas, clubes, instituições, preferências clubísticas e outras designações. Dizem que resulta muito bem. Quanto a atenderem sempre quem lhes liga têm atitudes diferentes. António Lameiras garante que atende todos os telefonemas, sejam anónimos ou identificados e atende-os na hora. “Se por acaso não posso atender porque me esqueci do telemóvel no carro ou porque, como aconteceu há pouco durante esta conversa, estou ocupado, a primeira coisa que faço é devolver a chamada”, afirma.
Paulo Caetano não revela se é assim tão disponível mas tem muita experiência de atendimento de chamadas às tantas da madrugada. “Quando estava no banco fui acordado muitas vezes durante a noite por causa do alarme ter disparado e eu ter que o ir desligar. Agora é o meu presidente da câmara (Pedro Ribeiro) que me liga de vez em quando à uma ou duas da manhã porque está a trabalhar num assunto e quer trocar impressões. Eu já estou habituado e ele costuma dizer que liga porque sabe que eu estou acordado (risos)”.
O facto de os dois parceiros dos “Duetos” terem filhos no estrangeiro também contribui para que tenham os telemóveis ligados 24 sobre 24 horas e todos os dias do ano. Paulo Caetano tem a filha mais velha a estudar medicina em Barcelona, Espanha. António Lameiras tem uma filha a viver e trabalhar em Norwich, Inglaterra, cidade a norte de Londres.
O vice-presidente da Câmara de Almeirim apoiou a decisão da filha de ir estudar para o estrangeiro e está satisfeito. “As coisas estão a correr bem. Quando ela terminar a licenciatura e puder virá fazer o internato em Portugal, mas logo se verá. As coisas por aqui não estão ainda uma maravilha”, refere.
Conta que a jovem teve que estudar catalão porque as aulas são dadas naquela língua, ou não fosse Barcelona a capital da Catalunha. “Aprendeu bem e curiosamente quem tinha mais dificuldade com a língua até eram os jovens de outras zonas de Espanha que toda a vida falaram apenas espanhol (castelhano)”.
O presidente da AREPA está contente com a vida que a filha e o genro têm em Inglaterra e tem como ponto assente que eles não irão regressar a Portugal mas não esquece o motivo porque a filha está longe de si.
“A minha filha Sofia está em Norwich há dois anos. Tem agora 34 anos. Foi para lá trabalhar porque os nossos governantes não criaram condições para as pessoas terem um emprego decente. O que se passou neste 42 anos a seguir ao 25 de Abril foi uma fraude. Quem pode sobreviver com ordenados de 600 euros? Não sou defensor do regresso ao passado mas os nossos políticos são incompetentes”, acusa.
A ida para Inglaterra foi motivada pelo desemprego. O casal foi recebido inicialmente em casa de uma amiga que já estava em Norwich. “Arranjaram empregos rapidamente, já se meteram na compra de uma casa, um camião TIR levou tudo o que tinham na casa do Porto Alto que eu lhe tinha oferecido para Inglaterra e têm uma vida estável. Só não têm filhos porque não têm conseguido”, revela António Lameiras.
O presidente da Associação Recreativa do Porto Alto - AREPA é um grande conversador e gosta de dar a sua opinião sobre os mais variados assuntos. Já no fim da conversa conta que no dia anterior tinha tentado inscrever-se para entrar em directo num programa desportivo e acrescenta que durante anos participou telefonicamente em programas emitidos pela rádio Antena 1. “Eu usava o nome António Silva (primeiro e último nome), se calhar ouviram-me algumas vezes. Telefono sempre que o assunto me interessa. Às vezes consigo e outras não”, diz.
Paulo Caetano revela-se uma pessoa bem disposta mas prefere dar sempre passagem ao seu companheiro embora não pareça fazer isso para ter a última palavra. Após António José Lameiras ter falado sobre os refugiados recebidos em Portugal, lamentando que alguns tenham ido embora sem dizer nada, porque preferem ir para países como o Reino Unido onde os apoios sociais são maiores e mais vantajosos para “quem não quer fazer nada”, o vice-presidente da Câmara de Almeirim limita-se a contar que o seu colega vereador que acompanha uma família síria lhe disse que as pessoas estão integradas, que o homem começou a cortar cabelos para ganhar dinheiro e que gostava que ele tivesse êxito”.

Correr as ruas de Sabadel no Verão à hora da “siesta” e não encontrar vivalma

A filha mais velha de Paulo Caetano está a frequentar o 4º ano de Medicina em Barcelona e a capital da Catalunha tornou-se, compreensivelmente, uma das cidades estrangeiras mais visitadas pelo vice-presidente da Câmara de Almeirim. O autarca diz que vai lá com a esposa e a filha mais nova uma a duas vezes por ano e que gosta muito, mas lembra-se que o primeiro contacto com os hábitos e costumes foi um pouco estranho.
“Aconteceu quando fui pela primeira vez para matricular a minha filha. Chegámos a Barcelona a um domingo ao meio-dia. Era 31 de Agosto. Havia umas amigas dela que estudavam lá e que nos emprestaram a casa porque estavam a passar férias em Portugal. A casa era em Sabadel, nos arredores.
Chegámos a Sabadel a meio da tarde. Fartei-me de palmilhar ruas à procura de alguém a quem conseguisse perguntar onde ficava a rua que elas tinham indicado. Estava tudo fechado e não havia vivalma. Quando finalmente conseguimos dar com a casa e porque tínhamos acordado muito cedo para apanhar o avião, estávamos estafados e decidimos descansar.
Acordámos lá para as nove ou dez da noite e quando saímos foi um choque. Já me tinham dito que era assim mas uma coisa é contarem-nos e outra é vermos. As ruas que de tarde estavam desertas estavam apinhadas de pessoas. Pareciam formigas. Estava tudo aberto. Restaurantes, lojas, bares, cafés, esplanadas. Parecia hora de ponta”.

O vendedor que foi enganado pelos vigaristas dos “Armazéns Kwanza”

António José Lameiras trabalhou no sector comercial de duas grandes empresas do sector de tintas e sempre foi cauteloso com os clientes que tinha em carteira mas há sempre um dia em que algo corre mal.
A história já tem uns bons quarenta anos mas é exemplar. “A seguir ao 25 de Abril vieram aqui para Santarém os Armazéns Kwanza. Eram uns grandes armazéns que tinham tudo de tudo. E foi aí que eu fui enganado. Fizeram uma grande encomenda de produtos e eu todo satisfeito porque era uma compra astronómica. Para não ser enganado tomei todas as precauções e parecia não haver motivo para desconfianças e as informações bancárias eram excelentes. A firma foi fornecida e passados três dias a informação bancária já era péssima.”, conta António Lameiras.
Fui lá com um amigo falar com o empregado para saber quem é que estava por detrás daquilo e ameacei não me ir embora sem resolver o assunto mas não tive sorte. No dia seguinte voltei lá e entretanto começaram a chegar outros fornecedores que também tinham sido enganados. Eram de Leiria, das Caldas da Rainha, de Coimbra... O indivíduo barricou-se na loja e nós, para ele não se poder ir embora, furámos-lhe os pneus do carro. Foi um dia inteiro ali. Enquanto uns foram almoçar ficaram lá outros.
Acontece que passou a GNR e o homem bateu no vidro e disse que o queríamos matar. Os guardas lá o ajudaram a ir à bomba de gasolina arranjar os pneus e ele foi-se embora. Felizmente os indivíduos foram apanhados na semana seguinte. Já tinham os produtos nuns grandes armazéns ao pé de Torres Vedras. Fomos lá e conseguimos recuperar tudo”, conclui.

Dois pais com duas filhas emigrantes em Espanha e Reino Unido embora por motivos diferentes

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