Uma fábrica de atletas olímpicos chamada Clube de Natação de Rio Maior
Quando nasceu, em 1986, não havia uma piscina no concelho. Hoje tem um currículo invejável e já deu ao país vários atletas de topo, sobretudo na marcha atlética, disciplina rainha num clube que nasceu virado para a natação.
Em 30 anos de vida o Clube de Natação de Rio Maior (CNRM) arrecadou um manancial de troféus que em breve vão ter nova casa, a antiga escola primária de Freiria, a pouco menos de três quilómetros do complexo desportivo da cidade. A O MIRANTE, o presidente do clube aponta orgulhosamente um número: “eram mais de 1.600 há dois anos”. Muitos deles na modalidade do atletismo e na disciplina da marcha atlética, imagem de marca do clube e que lhe tem dado notoriedade aquém e além-fronteiras muito graças ao talento e vitórias de nomes como os de Susana Feitor, Inês Henriques, Vera Santos e os irmãos Sérgio e João Oliveira.
Nos próximos meses a escola vai ser restaurada, mas no complexo desportivo municipal continuará a existir um gabinete de apoio onde o CNRM promove seis modalidades: natação, atletismo, triatlo, hóquei em patins, patinagem artística e taekwondo.
Guilherme Gaboleiro é professor de Matemática na Escola Secundária de Rio Maior e aos 49 anos dirige um clube de grande reputação. Uma associação que surgiu de uma necessidade: em 1986 não existia uma piscina na cidade. E depois de viagens patrocinadas pela câmara para nadar nas Caldas da Rainha lá nasceu a primeira piscina com 25 metros. Em três décadas formou-se o complexo: pista de atletismo, piscina olímpica e o estádio que com a Escola Superior de Desporto fazem de Rio Maior a cidade do desporto.
O segredo é treinar muito e trabalhar bem
“Se o município tem visibilidade no desporto deve-o ao anterior presidente e aos resultados dos atletas”, afirma o dirigente. “O segredo é treinar muito e trabalhar bem e não há nenhum clube do distrito, e se calhar há poucos no país, que tenham tido sempre representação olímpica, mundial e europeia desde a sua fundação”, acrescenta. Guilherme diz que o clube “faz muito com pouco” e aponta a câmara como o grande parceiro em tempos de crise. “Tudo depende da visão estratégica”, diz, “se acham que é importante ter um complexo que dá visibilidade a atletas da terra nos clubes da terra ou não. E neste momento acho que não têm essa visão”.
Para além de destacar o atletas que todos os dias vêm de concelhos vizinhos treinar a Rio Maior, Guilherme diz que o trabalho feito na cidade deve ser reconhecido por quem decide. “Não podemos ter um regulamento municipal que diz que um atleta do Inatel é igual a um atleta de alto rendimento, há muito sacrifício. Se calhar era bom que os políticos fizessem uma semana com o horário igual ao dos miúdos de 12 anos: acordar às 5h00, estar numa piscina até às 8h00, trabalhar, sair do trabalho, treinar mais três horas, fazer ginásio, ir para casa e ter que estudar e fazer os trabalhos de casa”, sublinha.
Guilherme Gaboleiro é presidente do CNRM há cerca de oito anos e não sabe se continua a meses das eleições. As listas costumam ser compostas por pais de atletas que são a grande fatia dos sócios do clube, cerca de 100. “Não vou deixar morrer o projecto, mas se aparecer quem tenha capacidade de continuar, afasto-me”, admite.
Clube sem capacidade para manter atletas de topo
Seis atletas do CNRM estiveram em Jogos Olímpicos, na maioria na marcha atlética: Susana Feitor, Inês Henriques e os irmãos João e Sérgio Vieira. Os outros dois foram Carlos Nuno Calado (salto em comprimento) e Pedro Oliveira (natação). E há atletas formados no clube que foram transferidos para o Benfica ou o Sporting em ano olímpico.
As transferências têm pouco retorno para o clube, uma vez que quanto mais cedo forem transferidos menos há a receber pelos anos de formação e pelos resultados. “É um sentimento misto: perdemos atletas que formámos mas também é o reconhecimento do trabalho feito”, afirma Guilherme Gaboleiro.
“As condições desportivas são iguais porque quem vai para o Benfica ou para o Sporting acaba por treinar aqui - o clube só não tem receitas para os manter. Não sei quanto é que oferecem mas a câmara deveria criar condições para, pelo menos, poder concorrer com as propostas de forma a que fiquem no clube, apesar de saber que os atletas vivem disto”, admite.
Actualmente o CNRM mantém apenas uma atleta olímpica, Inês Henriques, que é conseguido através de um acordo entre o clube e a Desmor para atletas olímpicos. Porém o dirigente assegura há no clube muitos atletas promissores.