Eunice Munõz no Sardoal elogia difusão do teatro na província com apoio das autarquias
Actriz que celebra 75 anos de carreira esteve pela primeira vez na vila ribatejana para ser homenageada.
A actriz Eunice Munõz, de 88 anos, e que recentemente assinalou 75 anos de carreira, esteve, no dia 21 de Janeiro, no Centro Cultural Gil Vicente, no Sardoal, para ser homenageada. O acto de agradecimento ocorreu antes de entrar em cena a peça “A Origem das Espécies” que o Teatro Nacional D. Maria II (TNDM) levou àquele palco no âmbito da Rede Eunice, um projecto de difusão de espectáculos produzidos e coproduzidos pelo TNDM que assume esta designação em homenagem à actriz.
Sem poder ter longas conversas, a actriz definiu o projecto de difusão de espectáculos que trouxe o teatro até ao Sardoal como uma “belíssima” iniciativa. Aliás como “todas as que este jovem trouxe para o Dona Maria”, referindo-se a Tiago Rodrigues, director artístico do TNDM como “um entusiasta. Um homem honesto que não está à procura de nada a não ser melhorar tudo”, afirmou, acrescentando o TNDM “muito bem entregue”.
Eunice vê com muito bons olhos as verbas gastas pelas autarquias para trazer o teatro até ao interior do país. “Tem de ser assim”, garante, acrescentando que “a província tem grande necessidade” de teatro. O público rural “acorre, quer, fica muito interessado... talvez até mais apaixonado” que o urbano, refere.
A saúde tem pregado algumas partidas a Eunice Munõz, o que não lhe retira a esperança de recuperação para voltar aos palcos. Ainda assim, na conversa com O MIRANTE, admitiu que nestes 75 anos “mudou muita coisa”, menos a sua vontade de ter o teatro sempre em primeiro lugar. “A representação tornou-se menos marcante” mas apesar de tudo “os grandes são sempre os grandes”, considera.
Eunice Munõz relembrou os mestres Maria Matos, Alves da Cunha, Assis Pacheco, “gente que tinha um lugar no teatro” e por isso mesmo eram professores no Conservatório, estimando a sua sabedoria como “muito boa” para a sua carreira. Contudo, é Francisco Ribeiro - “Ribeirinho” - que designa como “grande mestre” de toda a sua geração, por ser quem trazia “o bom gosto à representação, a grande delicadeza”. Ribeirinho definia então os actores como “pé na areia” numa analogia à falta de graciosidade. “Não sabem nem sequer sentar-se numa cadeira”, relembra a rir Eunice Munõz.
Mas, antes de todos eles e quem “colou o seu coração” ao dela, foi Amélia Rey Colaço, responsável pela estreia da jovem Eunice, de 13 anos, na peça “Vendaval” precisamente no palco do Teatro Nacional Dona Maria II. “Ensinou-me coisas muito importantes que têm servido toda a minha vida”, confessa.
Como nasceu no Alentejo, Eunice diz não ter ligações ao Ribatejo, a não ser as memórias ligadas à beleza da região e aos “homens extraordinários que são cavaleiros espantosos”, independentemente de não apreciar o espectáculo tradicional tauromáquico. “Sou muito do lado do touro”, ri.
Juntamente com o presidente da Câmara do Sardoal, Miguel Borges, um dos filhos da actriz e a presidente do TNDM, Cláudia Belchior, estiveram muitas pessoas na área externa do auditório do Centro Cultural Gil Vicente para aplaudir a grande senhora do teatro português e assistir à homenagem.