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Distinto Manuel Serra d’Aire

Vem aí mais um Carnaval e com ele os habituais desfiles, cortejos e festanças afins que me deixam à beira da depressão. Não porque não goste de animação, de samba e de moçoilas de rijas e arrendondadas carnes a bambolearem-se em trajes menores. Gosto eu e gostam muitos, por isso é que as casas de alterne têm freguesia. O que me chateia no nosso Carnaval, é que por cá não há nada disso. As pobres raparigas que se atrevem a destapar as carnes candidatam-se a uma pneumonia e desfilam em pele de galinha, coisa que, pelo menos a mim, não desperta grande entusiasmo. E muitas delas têm tanto jeito para o samba como eu tenho para dançar o foxtrot.
Esta coisa de importarmos as tradições de outras bandas dá nisto. É como quererem pôr-me a acompanhar o cozido à portuguesa de domingo com vodca, como fazem os russos. À terceira garfada já estava KO e pronto para seguir na ambulância do INEM com uma indigestão alcoólica. E pior ainda é o Carnaval de Torres Vedras (provavelmente o preferido do Bloco de Esquerda), onde marjavantes de barba rija se mascaram de mulheres e dão asas à libertinagem durante alguns dias. Como diria o saudoso Diácono Remédios, não havia necessidade. Pior do que uma moça escanzelada e enregelada em maillot é um estivador trajado de licra ou o Freddy Mercury vestido de empregada doméstica. Longe vá o agoiro!
E já que falei no Diácono Remédios, aproveito para registar também a entrevista que o bispo de Leiria-Fátima deu, onde pede encarecidamente aos hoteleiros locais para não abusarem nos preços em ano de centenário das aparições de Fátima. Fico sempre sensibilizado, para não dizer comovido e com uma lagrimita no canto do olho, perante as exacerbadas manifestações de fé. E, pelos vistos, se há quem tenha fé é este bispo, que, por isso, é o homem certo no lugar certo. Ele acredita em milagres e alguns hoteleiros de Fátima de certeza que também, a ser verdade que já há quartos reservados para o 13 de Maio a mais de mil euros por noite. Abençoada Nossa Senhora! Abençoados Pastorinhos!
Manel se há características que aprecio nos portugueses são a criatividade, o rasgo e o sentido de oportunidade. Isto tudo somado dá aquele palavrão que hoje tanto se ouve, que é “empreendedorismo”. Ou, como se dizia antigamente, “olho para o negócio”, coisa em que, confesso, sou uma autêntica toupeira.
Vem tudo isto a propósito de uma informação curiosa que li algures. Os autarcas do Médio Tejo aproveitaram a anunciada desactivação da base aérea do Montijo, que será destinada à aviação civil, para proporem a sua transferência para a base de Tancos, que há muito tempo está praticamente às moscas. Os autarcas viram ali a tal janela de oportunidade e provaram que não andam a dormir, o que muito me apraz.
Mas ainda mais despertos mostraram estar uns arquitectos do Sardoal que conseguiram ver mais longe e, em meia dúzia de dias, apresentaram um projecto não para uma base aérea militar mas sim para um aeroporto civil em Tancos. E até já lhe deram nome e tudo: “Aeroporto do Tejo”. Claro que, infelizmente, tudo isto não passa de papel e é provável que daí nunca saia, como tantos outros projectos. Mas não foi assim também que Júlio Verne se tornou famoso e ganhou a vida?

Com esta reflexão me vou.
Saudações carnavalescas do
Serafim das Neves

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