“Nunca teremos uma sociedade justa sem competência e seriedade”
Ana Paula Lamancha, Advogada, Alverca do Ribatejo
A advogada Ana Paula Lamancha é um nome conhecido no concelho de Vila Franca de Xira pelo trabalho que tem desenvolvido com muitos moradores, no âmbito dos processos de reconversão dos bairros clandestinos (AUGI). Foi campeã nacional de ginástica acrobática, gosta de ler e de viajar.
Na minha juventude passei por diferentes locais e isso foi importante para o meu crescimento. Nasci em Lisboa, estudei por lá e em Coimbra e ainda passei por Marrocos quando acabei o 12º ano. Pela mão de uma cliente vim para Alverca, cidade onde tenho ficado. Sou advogada há 25 anos.
Tenho exercido a minha profissão muito solitariamente. Apesar de ser uma profissão bonita, é dura e difícil e é cada vez mais dura e difícil porque o mundo está mais complexo e vive-se um tempo de grande agressividade gerada pelo medo. As pessoas vivem com medo de tudo e por isso é mais difícil encontrarem o equilíbrio e a tranquilidade de que necessitam.
Cada vez me convenço mais de que não é nos tribunais que se resolvem a maior parte dos problemas. Há uma grande margem de manobra que pode ser usada na conciliação e na negociação. E é aí que às vezes se torna difícil destruir as barreiras do medo. A nossa missão, a advocacia, não é apenas gerir processos puros e duros. Por vezes sente-se muita inflexibilidade comportamental que torna mais difícil a resolução das situações.
Desde pequena que sonhava ter duas profissões, ou ser advogada ou assistente de bordo. Ainda concorri para a segunda mas não entrei por causa de um exame de inglês. Fui campeã nacional de ginástica acrobática durante cinco anos e fui o primeiro par misto campeão nacional do país. Treinava no Grupo Desportivo da Cimpor, que foi o clube que inaugurou a ginástica acrobática em Portugal. Ainda fui convidada para o Sporting mas onde ganhei as taças todas e os campeonatos de Portugal enquanto competi foi nos campeonatos de pares mistos seniores. Ter parado a competição foi uma decisão de vida que teve reflexos a nível profissional. Os meus pais foram para Marrocos e acompanhei-os, deixando de lado a ginástica.
Tenho um filho com 24 anos e não foi fácil ser mãe e advogada ao mesmo tempo. Felizmente tive muito apoio dos meus pais. Não sou viciada em trabalho mas durmo com ele porque não é fácil desligar. Estamos sempre a pensar nas melhores soluções para as diferentes situações.
Gosto de viajar, sobretudo na América Central e do Sul, Índia e África. A Europa não me seduz nada. Também ocupo os meus tempos livres a ler e a fazer ginástica, embora já não faça acrobática. Gosto de ler romances para me desligar um pouco de toda a pressão deste meio.
Alverca só não é uma cidade absolutamente desinteressante porque a Obriverca esteve cá. Tem sido uma terra esquecida. A rua onde estou é um exemplo disso. É uma terra sem identidade e parece-me que os presidentes que têm passado pela Junta não têm tomado conta disto. Fazia falta aqui em Alverca um centro de actividade cultural, porque a única coisa que havia era o cinema e fechou. A pouca actividade cultural que decorre em Alverca é levada a cabo pela Filarmónica.
Temos leis justas e um bom sistema judicial mas a forma como a justiça se materializa e se concretiza é que é importante. A justiça é feita por pessoas e se elas não forem justas no exercício da sua profissão as coisas não correm bem. Isso implica competência, seriedade, rigor e abertura para compreender tudo o que envolve um processo. Nunca teremos uma sociedade justa se as pessoas que a integram não reunirem estas competências.
A integralidade, responsabilidade e frontalidade são valores de que não abdico no meu dia-a-dia. Promover o respeito por nós e pelos outros. Se formos vaidosos com isso conseguimos fazer da advocacia uma profissão que permite um mundo melhor. Para além dos interesses isolados dos nossos clientes também estamos cá para desempenhar esse papel, fazer dos outros e de nós próprios melhores pessoas.