Retrospectiva 2016 | 02-03-2017 09:21

“As pessoas envolvem-se muito nas actividades mas pouco nas questões directivas”

“As pessoas envolvem-se muito nas actividades mas pouco nas questões directivas”

Dora Coutinho é a presidente da comissão administrativa, formada na sua maioria por mulheres, que gere a ARCAS – Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora. A colectividade é actualmente responsável pelos maiores eventos organizados naquela cidade do concelho de Benavente, incluindo as festas da cidade, o carnaval e o festival de gastronomia.

Porque motivo se começou a interessar pelo associativismo? Sou sócia da ARCAS desde a sua fundação mas desde 2008 que tenho passado por várias direcções e, mais tarde, pelas comissões administrativas que têm mantido a ARCAS de porta aberta. Esta comissão já dura há algum tempo e foi-se mantendo porque não quisemos deixar a colectividade num vazio. É um grande gozo organizar os eventos que organizamos todos os anos, onde se destaca a festa da cidade, o carnaval e o festival gastronómico. Eles ajudam a promover tanto a freguesia de Samora Correia como o concelho de Benavente. É um orgulho enorme sentir que estamos a promover a nossa cultura e as nossas tradições. A promover o espírito ribatejano.
São praticamente só mulheres na comissão. Têm um olhar diferente para os eventos que os homens não conseguiam ter? Apesar de serem mulheres a comandar os destinos da ARCAS neste momento há muitos e muitos homens que colaboram voluntariamente nos eventos. Sozinhas não conseguiríamos montar tudo porque requer imenso trabalho e felizmente a comunidade tem-nos apoiado muito. Os homens e as mulheres complementam-se. Uns sem os outros não fazem as coisas tão bem. Mas admito que nós mulheres temos outro sentido para estas questões da gastronomia, por exemplo. As mulheres também conseguem colocar em prática várias coisas ao mesmo tempo e são bastante dinâmicas.
Qual o principal valor que vos une? A amizade. Temos uma enorme amizade umas pelas outras e somos todas de Samora Correia. Temos uma grande vontade de fazer um pouco mais pela nossa terra e oferecer as nossas actividades à comunidade. A grande maioria das mulheres que está nesta equipa já extinguiu os limites do mandato. Temos pena de não podermos fazer mais. Mas a verdade é que às vezes, por muita vontade que haja, não se consegue fazer mais. Fizemos o que achámos que seria o melhor para a comunidade. Saímos de cabeça erguida e com trabalho feito. Ficam alguns sonhos por concretizar mas sem verba é impossível. Gostávamos, por exemplo, de dar uma nova dinâmica à festa de Samora Correia; de ter outros artistas com maior pujança nacional e de fazer outras actividades na parte taurina. Mas sem dinheiro é complicado.
Sentem que a comunidade reconhece o vosso esforço? Acreditamos que sim. Até porque o maior orgulho que levamos daqui é termos feito parte desta associação e termos feito com que as pessoas viessem até Samora Correia. Sentirmos o orgulho de ver as pessoas a gostar das nossas festas e a ajudar com isso a colocar Samora Correia no mapa.
Qual é o evento que acham mais difícil de organizar? Seguramente as festas de Samora Correia. Têm uma complexidade muito grande devido às diferentes situações que vão acontecendo ao longo da festa. Temos as entradas de toiros, picarias, corridas, a parte popular da festa com os ranchos e os concertos da Praça da República, os desfiles etnográficos e a noite da sardinha assada. É muito complexa e são cinco dias de loucura para quem organiza. Não se pára nesses dias e ficamos todos completamente esgotados. É a iniciativa que dá mais trabalho e implica maior sentido de responsabilidade mas é uma festa que vai ao encontro do que é o nosso passado, a nossa história e ao mesmo tempo permite vislumbrar o futuro.
A ARCAS está há muitos anos com uma comissão administrativa. Os sócios não querem saber da colectividade? É curioso porque na realidade as pessoas envolvem-se muito nas actividades mas muito pouco nas questões directivas. Podem não querer dar a cara e liderar mas quando se trata de ajudar nos eventos não falta gente. Somos uma associação que nunca pára o ano inteiro.
Se parassem... Seria uma grande perda para Samora e para a região. A associação dá uma enorme dinâmica à freguesia, não tenho dúvidas disso. Temos um movimento associativo bastante forte no concelho, não apenas nesta parte cultural como também na parte desportiva. É importante envolvermos as associações porque ao fazermos isso estamos a envolver as pessoas. Quando se trabalha com espírito abnegado e com amor à causa as coisas saem melhor. É importante envolver as pessoas nestas actividades.
O concelho de Benavente é uma terra de gente muito unida. Sentem isso no dia-a-dia da colectividade? Sim, Samora Correia e Benavente têm esta tradição do associativismo; das pessoas quererem fazer algo pela sua terra e dinamizá-la e isso é muito importante. Há um sentimento de partilha e envolvência pelas colectividades.
O associativismo organizado como há trinta ou quarenta anos deixou de existir? Não. Mas as pessoas às vezes têm algum medo da responsabilidade. A mensagem que deixo é para não terem medo de participar activamente também na gestão. Cada um de nós deve dar um pouco à comunidade e o associativismo é o melhor veículo para podermos dar um pouco de nós à sociedade. Se cada um abdicar um bocadinho do seu tempo disponível para dar à sociedade as coisas melhoram. E se há tanta gente a trabalhar nas iniciativas também pode haver nos órgãos directivos.
As festas não podem ser feitas por profissionais? Se o associativismo fosse pago não era associativismo. Não faz qualquer sentido ser pago. Perde-se o espírito de entreajuda e entrega. Hoje em dia as pessoas vivem uma vida mais atarefada e por vezes pode tornar-se difícil no fim de um dia de trabalho ainda vir despender tempo com as associações mas às vezes se deixarmos um pouco o sofá durante a noite e ao fim-de-semana e viermos encontrar um grupo de amigos para fazer algo em prol da terra isso é uma excelente motivação. Fazer parte das associações e dar um pouco de nós à nossa terra é fantástico.
Onde encontram motivação para abdicarem da vida pessoal em prol da comunidade? O grupo de trabalho tem de ser bom, tem de ser um grupo de pessoas que se dêem bem e sejam amigas porque vão estar muito tempo juntas. É o nosso caso. A motivação é chegarmos no final do trabalho, quando estamos cansados e exaustos, e vermos o resultado final. Vermos Samora Correia cheia de gente numa terça de carnaval ou nas noites da sardinha assada. Vermos as pessoas a aderirem aos eventos é a maior motivação que podemos ter. Sentir que estão a gostar e que há alegria.

Uma associação nascida para a rádio

A Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora (ARCAS) representa da melhor forma o espírito empreendedor da jovem cidade de Samora Correia que consegue ser moderna sem nunca rejeitar o seu passado e as suas tradições. O corso carnavalesco de Samora Correia, reconhecido como o maior e mais animado da região do ribatejo, é a iniciativa com maior projecção da colectividade, que nos últimos anos tem sido presidida por Dora Coutinho.
A ARCAS – Associação Recreativa e Cultural Amigos de Samora, de Samora Correia, concelho de Benavente, foi fundada a 10 de Abril de 1986 e é uma associação sem fins lucrativos vocacionada para a defesa dos costumes e tradições samorenses.
Fundada com o objectivo de concorrer a uma frequência de rádio na altura da criação das rádios locais, legalizando a Rádio Iris, estação emissora da localidade, evoluiu para o figurino actual graças à mobilização que gerou na comunidade e apostou na defesa dos costumes e tradições de Samora Correia.
Além de noites de fados, festas de passagem de ano e festas camperas, a ARCAS é conhecida sobretudo por três grandes eventos que, anualmente, atraem milhares de pessoas àquela cidade. São eles o carnaval de Samora, o festival de gastronomia da lezíria ribatejana (em Julho) e as festas em honra de Nossa Senhora da Oliveira e Nossa Senhora de Guadalupe.
Em 1992 a ARCAS foi reconhecida como instituição particular de solidariedade social e adquiriu o título de pessoa colectiva de utilidade pública. Em 2004, depois de estar em funcionamento há cinco anos, foi formalmente inaugurada a nova sede da associação com uma guarda de honra de campinos a cavalo e a fanfarra dos bombeiros voluntários. A sede, situada num pavilhão, alberga todo o espólio do carnaval e das festas, dispõe de vários gabinetes, sala de reuniões e um bar com cozinha, sendo um imóvel avaliado em mais de 250 mil euros e construído por iniciativa de um conjunto de voluntários e com o apoio da câmara municipal e da população local.
A actual comissão administrativa é composta sobretudo por mulheres com Teodora Coutinho na liderança. Mas integram o grupo também Emília Marujo, Esmeralda José, Liliana Parreirinha, Lucinda Martins, Rogério Justino, Vítor Parreirinha, Gabriel Tavares e Mário Almeida.

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