Retrospectiva 2016 | 02-03-2017 09:21

“Sempre tive vontade de contribuir para o bem de outros”

“Sempre tive vontade de contribuir para o bem de outros”

José Júlio da Cunha Faustino sempre sentiu motivação para ajudar os outros. Fez parte de várias direcções do CRIT desde 2005 e quando se preparava para se dedicar mais a algumas actividades pessoais por se ter reformado, foi-lhe lançado o desafio de presidir à instituição. O pouco tempo que tinha disponível foi completamente reduzido mas ele diz que aceitou estar onde está de livre vontade e porque continua a sentir-se realizado a fazer o que faz.

Qual é actualmente o projecto mais importante do Centro de Reabilitação e Integração Torrejano? O novo Lar Residencial. O que temos só tem capacidade para 24 utentes e está totalmente ocupado. Temos uma parceria para a construção de um novo com a Câmara Municipal de Alcanena. Temos os projectos feitos e aguardamos que abram as candidaturas do Portugal 2020. O maior desafio é conseguirmos financiamento. Gostaria que no final do meu mandato, em 2018, o novo Lar estivesse a funcionar.
Esse é um projecto aparentemente concretizável. Tem outro mais difícil de levar à prática? Há um outro que dificilmente será realizado neste mandato que é a criação de um Lar para os idosos da área da deficiência.
E qual é o vosso desafio diário? Prestar um serviço de qualidade em todas as valências. Queremos os utentes satisfeitos com o serviço que prestamos. Aderimos há alguns anos a um programa de certificação de qualidade e conseguimos muitas melhorias. Neste momento temos entre 500 a 600 clientes semanais. Não só os internos, mas também da comunidade em serviços de hidroterapia, hidroginástica ou fisioterapia.
Isso implica uma grande mobilização de meios. A principal preocupação é a sustentabilidade. Nela reside o futuro dos colaboradores e dos clientes. Uma vez que não somos subsidiados a 100% pelo Estado mas em cerca de 83% e temos de garantir o resto. O nosso orçamento ronda os dois milhões e quinhentos mil euros. Isso significa que anualmente temos que conseguir meio milhão de euros. Para isso, desenvolvemos várias actividades. Há dois anos lançámos a Gala Solidária que é realizada com a participação de artistas convidados e em Dezembro tivemos a loja de Natal com o espaço oferecido no Shopping de Torres Novas.
Agora a designação oficial de utentes é clientes, então pagam uma prestação? Sim. Há uma contribuição da parte da Segurança Social, no Centro de Actividades Ocupacionais, do IEFP, mas não é suficiente. Além de tudo o que angariamos ainda há as prestações familiares. No CAO, no Lar Residencial também é paga uma verba pelas famílias, em função do rendimento ‘per capita’.
Tem as contas equilibradas? Não devemos nada a ninguém. Apesar da crise não despedimos nenhum dos 106 colaboradores. Estamos tranquilos mas é importante continuar a garantir essa sustentabilidade.
Há mais projectos em curso? O CRIT é a entidade coordenadora do CLDS 3G (Contratos Locais de Desenvolvimento Social) em Torres Novas – Centro Local de Desenvolvimento Social - um projecto de três anos, co-financiado pelo PO ISE - Programa Operacional Inclusão Social e Emprego. Neste momento é o único projecto que temos fora das valências. Candidatamo-nos todos os anos a projectos do INR (Instituto Nacional para a Reabilitação). À medida que as candidaturas vão abrindo, vamos concorrendo.
O que representa o CRIT para o concelho de Torres Novas? A comunidade torrejana é que poderia dar resposta a essa pergunta. A ideia que temos é que as pessoas reconhecem a importância do CRIT para o concelho nas área da deficiência e do apoio a famílias carenciadas.
Conseguem dar resposta a todas as solicitações? Não. No Lar Residencial temos lista de espera. E no Centro de Actividades Ocupacionais, onde temos capacidade para 90 utentes mas apenas apoio da Segurança Social para 85 utentes, também temos lista de espera.
Enquanto cidadão que se interessa por questões sociais o que é que o motivou? Sempre me interessei por estas questões e sempre fui uma pessoa de acção. Se posso contribuir para o bem de outros, faço-o. Com o CRIT tive essa oportunidade de ajudar a resolver problemas. Dedico-me porque reconheço que é um bem a favor da comunidade.
Chegou ao CRIT em 2005 e o que fazia nessa época? Trabalhava na Portugal Telecom, reformei-me no ano seguinte. Nessa altura surgiu o convite. Fiquei com mais liberdade para poder apoiar a instituição e participei sempre nas várias direcções até que, por impossibilidade do então presidente que é actualmente presidente da Câmara Municipal de Torres Novas (Pedro Ferreira), assumi o cargo.
Aceitou de imediato? Tive de pensar muito bem. Inicialmente até recusei mas acabei por aceitar. As direcções são compostas por voluntários e não é fácil arranjar quem queira integrá-las. Na altura, embora me custasse muito porque tinha outros projectos, acabei por aceitar o cargo.
Que projectos ficaram para trás? São mais hobbies que quero manter. Quando me reformei pensei ter mais disponibilidade para eles e para acompanhar a minha esposa. Sendo presidente passo no CRIT muito mais horas do que passava quando era um simples elemento da direcção. É uma casa com muitos clientes, com muitos colaboradores, há sempre problemas a resolver, algumas dificuldades que têm de ser ultrapassadas que exigem bastante de nós.
Quando sair do CRIT o que gostaria de fazer? Vou ao ginásio, jogo golfe. Gosto de ler e tenho a minha bricolage em casa. Estou a preparar um terreno para ter uma horta biológica. E depois tenho as minhas netas que quando aparecem estou sempre de serviço. Também gosto de viajar. Quase todos os anos fazia uma viagem ao estrangeiro. Interrompi isso mas quero recomeçar e tenho alguns países que gostaria de visitar. O outro sonho é de criança. Gostava de um dia conduzir um camião. O meu pai tinha uma camioneta e deixava-me pegar no volante. Mas falta-me a carta de pesados.
Nos dias que correm acha que a solidariedade está a dar lugar à caridade? Acho que não. Há quem critique as cantinas sociais. Aqui no concelho, as famílias com necessidades alimentares são acompanhadas por mais que uma instituição e nós também temos uma cantina social. Alguns não concordam com este sistema, acham que é caridade, mas não vejo que seja retrocesso porque as pessoas precisam. Estamos a pensar reformular o sistema, provavelmente as cantinas vão acabar para dar lugar à entrega de géneros. Mas para aquelas pessoas sem abrigo, as cantinas vão continuar. É um acto de solidariedade que está a ser pago por todos os portugueses.
Qual a sua relação com as famílias dos clientes? Quem actua nessa área são as coordenadoras das valências que no princípio do ano fazem um plano individual para cada um e aí têm a participação não só do cliente mas também da família que participa no plano de actividades. Depois há os momentos de avaliação. O meu contacto, e conheço muitas famílias, acontece essencialmente nas festas.
E o ‘feedback’ que tem das coordenadoras vai em que sentido? Existe um grande envolvimento de um modo geral. Pode haver um caso ou outro de algum familiar insatisfeito, mas genericamente todos dizem muito bem do trabalho do CRIT.
Que novas exigências existem na gestão dos recursos humanos? Neste momento temos um quadro de pessoal que dá resposta a todas as valências que temos. Os critérios depende da área para onde vão trabalhar. Se possível ter experiência na área da deficiência.
Qual é o maior valor do CRIT? Precisamente os recursos humanos. Considero que temos bons técnicos e esse é o maior valor. Por muito que queiramos prestar um bom serviço se não tivermos bons recursos humanos não conseguimos.
Que marca gostava de deixar como presidente? Como gostaria de mais tarde ser recordado? Gostava de ser recordado como alguém que passou pela direcção do CRIT e lançou várias iniciativas inovadoras. Ao nível da motivação dos colaboradores instituímos em 2015 o Dia do Colaborador. A Gala Solidária surgiu do convite que foi feito ao Telmo Miranda para apadrinhar o CRIT. Também propus o subsídio de nascimento e começamos este ano. Demos o primeiro em Janeiro.

Apoio semanal a seiscentos cidadãos portadores de deficiência

O Centro de Reabilitação e Integração Torrejano, CRIT, recebeu a 1 de Outubro de 1978 as primeiras 25 crianças, oriundas de cerca de duas dezenas de lugares do concelho de Torres Novas. A sua evolução no apoio a cidadãos portadores de deficiência fez com que actualmente dê apoio semanal a seiscentos cidadãos de vários concelhos, através de uma equipa de cento e dez profissionais das mais diversas áreas, gerindo múltiplos projectos de índole social. Tem cerca de três mil associados e é considerada uma instituição de referência a nível da região.
O CRIT, que começou por dar apenas apoio a crianças, tendo sido formalmente constituído em Julho de 1997 como Centro de Recuperação Infantil Torrejano, funciona em instalações próprias, construídas de raiz na zona urbana da cidade. A instituição é uma das que mais pugna pela dignidade humana, contribuiu exemplarmente para fazer de Portugal um país moderno justo e solidário.
A instituição é actualmente presidida por José Júlio da Cunha Faustino. Antes dele foi presidida, desde a sua fundação, pelo actual presidente da Câmara Municipal de Torres Novas, Pedro Ferreira. Um dos projectos em andamento e que poderá estar concretizado antes do fim de 2018 é um novo Lar Residencial. A parceria do CRIT para o mesmo é com a Câmara Municipal de Alcanena.
O CRIT possui certificação de qualidade. Foi reconhecido como Pessoa Colectiva de Utilidade Pública em 1979, por despacho do então primeiro-ministro, Francisco Sá Carneiro e foi registado na Direcção Geral da Segurança Social como IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) em 1982. Observando os princípios da solidariedade tem como principal finalidade promover a adaptação do indivíduo à família e com esta à sociedade, visando sobretudo a sua educação, valorização e integração sócio profissional.
As respostas da instituição de Torres Novas são dadas através da valência sócio-educativa; Centro de Recursos para a Inclusão; Centro de Actividades Ocupacionais; Formação e Emprego; Lar Residencial; Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento Parental Torrejano; Rendimento Social de Inserção; Centro de Ocupação Juvenil; Actividades de Tempos Livres e Centro Comunitário.

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