Começaram a fazer o funeral do “Enterro do Galo da Chamusca”?
A tradição de na Quarta-Feira de Cinzas criticar na praça pública os episódios mais caricatos de uma comunidade e de zurzir à grande nos políticos e instituições de forma aberta, desinibida e cáustica tem resistido ao longo dos anos em muitas localidades de Portugal. Na Chamusca isso é feito no decurso de uma iniciativa denominada “Enterro do Galo”. O que é dito nessa altura, normalmente através de versos galhofeiros e fesceninos e exageradamente caricaturais, pode nem ser totalmente verdade, nem totalmente justo mas não é por acaso que se costuma dizer que no Carnaval ninguém leva a mal.
Tenho acompanhado ao longo dos anos muitas iniciativas deste tipo, assistindo a algumas delas e lendo e coleccionando recortes de imprensa relativos a outras. Este ano notei em relação à Chamusca que houve uma preocupação dos organizadores de fazer algo mais brando em relação aos políticos, nomeadamente ao presidente da câmara que acaba por ser elogiado em vez de zurzido (Quando forem votar/Lembrem-se do que se fez/Foram festas a bombar/E à vontade do freguês). Esta situação contrasta com anos anteriores em que o mesmo era ridicularizado sem contemplações, tal como a vice-presidente, sendo mesmo o “casalinho” designado pelos nomes do famoso casal, Shrek e Fiona, dos filmes de animação. Presumo que os oficiantes não quiseram afrontar o autarca, ou porque são seus amigos ou correligionários partidários, ou porque não estão percebem o espírito “politicamente incorrecto do Carnaval e do que ele simboliza como altura de excessos. Com esta postura reverente, domesticada e educadinha é fácil prever que o famoso “Enterro do Galo” da Chamusca venha a ter ele próprio um lindo enterro.
Luís Manuel Fortunato Flores