O papel do Psicólogo na Grande Idade
Monira Osman*
Mesmo aquando da entrada na Grande Idade o Ser Humano continua a desenvolver-se, adaptar-se, reajustando-se aos diversos desafios que a vida continua a colocar. Cabe ao psicólogo ajudar a tornar também esta etapa o mais confortável, saudável do ponto de vista emocional, ajudando-o a estruturar dentro de si estratégias e ferramentas para saber lidar o melhor possível com o processo de envelhecimento, aceitando-o como um processo natural, onde é importante reconhecer a necessidade da manutenção das boas faculdades físicas e mentais através da estimulação física e mental.
O envelhecimento é um processo universal, todavia, também biológico resultante da crescente vulnerabilidade e maior probabilidade de morrer; social uma vez que despedimo-nos de determinados papéis e assumimos outros de acordo com o meio onde estamos inseridos; psicológico definido pela auto-regulação do sujeito a nível da tomada de decisões, a forma como vive a velhice. De facto é verdade que ao longo deste processo vão surgindo vários indicadores que envolvem diversas transformações, quer a nível físico, emocional como social pelo que não faz muito sentido que ainda nos dias de hoje se estratifique uma sociedade apenas com base na idade cronológica do sujeito. O Homem é muito mais do que isto: podemos dizer que a sua idade é aferida pela idade cronológica, psicológica e social.
Tal como o conceito de envelhecimento e velhice são distintos e não têm necessariamente que ser vistos ou avaliados de forma negativa. Por partes: temos a noção biológica do desenvolvimento do ser humano cujo trajecto passa pela velhice e culmina com a morte. Por outro lado, temos a forma como cada sociedade encara, conceptualiza e preconiza esta fase no ciclo de vida do sujeito. A pretensão de considerar a ideia de envelhecimento como um processo universal advém do facto dele fazer parte do ciclo de vida natural do Homem, aliás, de qualquer ser vivo: nascer, crescer, morrer. Mantendo, no entanto em linha de conta que, apesar de tudo, cada uma destas fases são vividas de forma diferente, de acordo com o contexto social em que se inscrevem, pelo que se pode dizer que o significado social da velhice e todo o seu enquadramento social é determinado pelo quadro histórico em que se inscreve.
Assim sendo, o envelhecimento está associado à própria noção de Pessoa, o que varia de sociedade para sociedade, ou seja, cada cultura tem o “Seu” tipo de pessoa, logo, o “Seu” envelhecimento.
Como tudo, também as sociedades estão em constante devir e com isto, novas posturas se ganharam face ao envelhecimento: na nossa, por exemplo, melhoraram substancialmente o entendimento das necessidades e aceitação do idoso e do envelhecer. Toda uma máquina está montada e funcional, capaz de dar respostas das mais diversas naturezas ao idoso e dependente. Infelizmente ainda não capaz de abranger todos ou capaz de integrar todas as respostas sociais sem preconceitos e despojados de ideologias políticas.
O contributo do psicólogo foi, é, fulcral ao longo de toda esta viagem. As nossas funções estendem-se a vários níveis: em contexto clínico e hospitalar, nas respostas sociais como Estruturas Residenciais para Idosos e Dependentes, IPSS, Associações, Centros de Dia, UCCI’S, na formação de novos técnicos na área da anciania, no apoio e aconselhamento familiar nas relações conjugais, na doença e no luto.
A intervenção psicológica na Grande Idade representa um importante desafio à Psicologia. Implica estar pronto para assimilar as realidades do envelhecimento sob as mais diversas formas.
Ouvir, observar, interpretar, trabalhar, facilitar, orientar, encorajar e devolver é nossa responsabilidade e grande contributo para a questão do envelhecimento e dignificação da velhice.
* Diretora Técnica Lar e Repouso do Ribatejo, Psicóloga Centro Clínico SAS