Respeite os limites da sua audição!
Odete Batista
O ruído é uma das principais preocupações dos tempos modernos. Pode ter definições diversas, tais como a de som aleatório composto por todas as frequências, e como a de qualquer som não desejável. Perturba a audição de forma insidiosa, na maioria dos casos, após vários anos de exposição.
Diversos estudos comprovam que o ruído afecta tanto o bem-estar físico como o bem-estar psicológico. Defende-se que o ruído age como agente de stress e como tal, pode ativar os diversos sistemas fisiológicos, que podem conduzir a alterações, como aumento da pressão sanguínea, do ritmo cardíaco e a vasoconstrição.
Sons suficientemente fortes podem causar danos nas estruturas sensoriais do ouvido interno e podem produzir uma perda auditiva, que não é reversível por qualquer tratamento médico-cirúrgico. As perdas auditivas associadas à exposição ao ruído, podem ocorrer em qualquer idade, sendo que os sons muito altos, mesmo de curta duração, como explosões podem produzir, de forma imediata, perdas auditivas severas e permanentes.
A interferência do ruído com a discriminação da fala, tem um impacto negativo, por exemplo, na concentração, fadiga, insegurança e falta de autoconfiança, irritação, mal-entendidos, diminuição das capacidades de trabalho, problemas nas relações humanas e um sem número de reacções ao stress muitas vezes acompanhadas de acufenos (zumbidos).
A relação entre a exposição ao ruído e a perda auditiva permanente foi muito bem estabelecida em diversos estudos sobre perda auditiva em ambientes industriais, quando a exposição é contínua e existe um aumento do nível de ruído, não só aumenta a perda auditiva nas frequências de teste específicas, como amplia a faixa de frequências lesadas. A surdez profissional é pois, uma das alterações mais preocupantes resultante da acção nociva do ruído. Qualquer indivíduo saudável deve efectuar um rastreio a partir dos 50 anos, sendo que aquele que está exposto a um ruído ambiente elevado do ponto de vista profissional deve fazer um exame auditivo periódico devendo ainda ser realizada a medição do ambiente acústico, quer do ponto de vista da frequência quer da intensidade do seu local de trabalho.
O ruído interfere com a comunicação entre as pessoas sendo por isso um dos fatores que leva os trabalhadores a não utilizarem as protecções auriculares. No entanto, se não existir prevenção é obvio que isso vai prejudicar a audição a médio/longo prazo.
Perante um caso de surdez irreversível a tecnologia de eleição utilizada para o processo de reabilitação auditiva são os dispositivos médicos (próteses auditivas), que nos permitem assim reabilitar todos os graus de perda de audição, seja esta mais ligeira ou total.
Um dos nossos objectivos é que todas as pessoas possam ouvir melhor e isso só por si representa um enorme progresso na saúde auditiva e na qualidade de vida de muitas pessoas.
Baixe o volume!
É um dos conselhos que damos regularmente àqueles que ouvem música com leitores de música portáteis. Com a crescente popularidade dos dispositivos multifunções, como o iPhone, nunca foi tão fácil ouvir música durante as deslocações.
Relativamente aos avanços tecnológicos são inegáveis e importantes. Mas, quando usados inconvenientemente, podem causar impacto na audição. Os maiores adeptos dessas inovações e, portanto mais vulneráveis, são os jovens.
Aparentemente, existe uma genuína incompreensão dos riscos envolvidos, entre muitos utilizadores de leitores de música individuais. A perda de audição é algo que ocorre gradualmente, por isso, a maioria das pessoas não se apercebe dos danos que estão a causar a si próprias. Além disso, muitas pessoas, sobretudo os jovens, são indiferentes ao perigo, “sentem-se vulneráveis”, e “não estão motivados para agir de forma preventiva ou profiláctica”. A perda auditiva é um problema que atribuem à velhice por isso não lhes diz respeito!
Cerca de dez milhões de jovens correm o risco de ficar surdos devido ao uso abusivo de leitores portáteis MP3, número avançado pela Comissão Europeia.
O uso de auriculares para ouvir música pode provocar lesões auditivas permanentes, basta que sejam utilizados em volume demasiado alto, durante mais de meia hora por dia.
Existem formas de assegurar níveis de audição seguros que vão para além de baixar o volume. Uma das melhores implica limitar o ruído de fundo. Um ruído de fundo intenso, em locais como estações de comboio e ruas citadinas, fará com que aumente o volume do seu MP3. Para combater este problema pondere utilizar um par de auscultadores fechados em vez de uns abertos.
Diagnósticos precoces possibilitam processos de reabilitação auditiva mais eficazes, daí a importância de estudos direcionados para grupos de risco, nomeadamente para a população exposta a altas intensidades de ruído industrial. Também é extremamente importante alertar para um problema que afeta cada vez mais trabalhadores e, de alguma forma, tentar abrir caminho para uma área que precisa de ser melhorada e na qual o audiologista deve participar, programas de conservação auditiva.
Atualmente, o Decreto-lei 182/2006, prevê que os valores limites para uma exposição laboral de 8 horas é de 87dB (A) de média ponderada de exposição, menos 3dB (A) que a legislação anterior que datava de 1992.
Estabelecer os limites para o volume de som ouvido para cada indivíduo nem sempre é fácil. O melhor conselho é que sintam prazer, a ouvir música, apreciando a qualidade do som em detrimento da intensidade/volume.
* Audiologista na Audioteste