Vítimas da legionella manifestaram-se à porta de fábrica de adubos do Forte da Casa
Ninguém da empresa se deslocou ao exterior para falar com os manifestantes. Uma centena de pessoas, afectadas pelo surto de legionella de Vila Franca de Xira, saiu à rua no sábado numa caminhada de protesto exigindo justiça ao Ministério Público.
Queixas à actuação da justiça, palavras de ordem contra as empresas poluidoras do ambiente e exigências de indemnizações foram as principais mensagens deixadas durante uma caminhada de protesto de vítimas do surto de legionella em Vila Franca de Xira realizada na tarde de sábado, 6 de Maio, à porta da fábrica da Adubos de Portugal (ADP) no Forte da Casa.
O protesto, organizado pela associação de apoio às vítimas do surto de legionella, contou com a mobilização de mais de uma centena de pessoas e os presidentes de Junta de Vialonga e da União de Freguesias da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa. O objectivo, explica o presidente da associação, Joaquim Ramos, é alertar a comunidade para o facto da maioria das vítimas ter ficado desamparada pela justiça e com sequelas para a vida.
“O que queremos é que se faça justiça e que a maioria das pessoas afectadas possa ter alguma compensação pelos prejuízos que teve”, explicou o responsável durante o protesto. A concentração mostrou também que a associação de vítimas está forte e a crescer. A associação, recorde-se, já informou que vai avançar em tribunal contra os autores do surto.
Recorde-se que dos mais de 400 casos de infecção, só em 73 o Ministério Público (MP) conseguiu estabelecer um nexo de causalidade entre as bactérias dos doentes e as torres de refrigeração da ADP. Também em apenas oito das 14 vítimas mortais essa relação foi estabelecida.
“A justiça deixou-nos a todos sem apoio, o que aconteceu com este surto é uma vergonha e é ainda maior vergonha estarmos à frente da empresa e nem uma palavra terem connosco”, lamenta Fernando Isidro, do Forte da Casa, que foi um dos afectados. “Estive 3 dias em Vila Franca de Xira e depois mandaram-me para o Hospital de Santa Maria em Lisboa onde estive internado uma semana. Desde esse tempo tive de deixar de praticar futsal porque não consigo correr, fico com dores no peito”, recorda a O MIRANTE. Para Fernando a justiça “foi cega e surda” para as vítimas.
Também Elisete Maria, de Vialonga, se mostrou descontente com a situação. “Íamos morrendo e o que a justiça nos diz é para ficarmos calmamente no sofá e esquecer o assunto. Não podemos esquecer isto. Ninguém aqui respirou a bactéria por vontade própria, fomos traídos”, critica.
José António Gomes, presidente da Junta de Vialonga, não hesitou em criticar a justiça dizendo que a actuação do Ministério Público classificou as vítimas da legionella em “vítimas de primeira e segunda” categoria. Um segundo protesto, ainda sem data marcada, está a ser preparado para ter lugar junto ao Tribunal de Vila Franca de Xira, nos serviços do Ministério Público.
Sete arguidos vão a julgamento
O MP, recorde-se, requereu o julgamento de sete arguidos envolvidos no surto de legionella de Novembro de 2014 pela prática de crimes de infracção de regras de construção e conservação e ofensas à integridade física por negligência, bem como duas empresas – a ADP (Adubos de Portugal) e a General Electric, que fazia o tratamento das águas dos circuitos de arrefecimento das torres da fábrica de adubos, pela prática do crime de infracção de regras de construção e conservação.