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A vida dura do campo relembrada em Santarém
MEMÓRIA. Actividades de outros tempos foram recriadas em Santarém

A vida dura do campo relembrada em Santarém

Trabalhar de sol a sol a plantar arroz ou a malhar trigo foi o destino de muitos ribatejanos. Quadros representativos desses tempos foram recriados em Santarém por dois grupos etnográficos.

Trabalhar de sol a sol a plantar o arroz ou a malhar o trigo, almoçar o ‘caldo’ ou lavar a roupa no rio foram actividades que fizeram parte da vida rotineira de muitos ribatejanos. A vida dura no campo foi recriada pelo Rancho Folclórico do Granho, Salvaterra de Magos e pelo Rancho Folclórico da Ribeira de Santarém no sábado, 22 de Julho, na Praça Visconde Serra do Pilar, em Santarém, no âmbito do In.Tradição – Popular INATEL na Rua.
A reconstituição começou com a plantação do arroz, com os homens a arrancarem o arroz dos viveiros e a fazerem os ‘molhinhos’ para depois serem transportados para os canteiros e serem plantados pelas mulheres. Um trabalho que, à partida, parece fácil. Mas tanto António Bragança como Rosa Gaspar confirmam que era uma tarefa árdua, sobretudo porque, explica a reformada de 70 anos, “plantávamos com a lama até aos joelhos”. Um destino a que muitos não conseguiam fugir porque “naquele tempo era o que havia naquela zona e nós tínhamos de nos agarrar ao que havia pois era uma época muito difícil”.
Já António Bragança começou a trabalhar na plantação de arroz com apenas oito anos. Para o reformado, de 69 anos, “este trabalho era mais que duro”, pois trabalhava-se desde o nascer até ao pôr-do-sol, com pouco tempo para descansar.
Chegou a hora de almoçar. Homens e mulheres cozinham o ‘caldo’ com couves, batatas e um bocadinho de toucinho, de chouriço e de morcela. E porque só havia uma hora de paragem, tudo era posto ao lume para cozer em 30 minutos, para depois terem tempo de comer, lavarem a loiça e poderem ainda descansar. Mas não só de ‘caldo’ era composto o almoço. Havia também pão, azeitonas, queijo e o vinho para refrescar.
Entretanto aparecem três lavadeiras com um alguidar com roupa para lavar no rio. Uma tarefa que Francisca Gaspar, 72 anos, se lembra perfeitamente de ver a sua mãe fazer. Depois as peças eram colocadas a corar e algumas até “já iam para casa enxutas e dobradas para passar a ferro com as brasas”. Um momento que nunca esqueceu foi quando, um dia, foi com a mãe lavar a roupa e caiu ao rio. Valeu-lhe a mãe que a agarrou. A partir daí, “fiquei sempre sentada na pedra, a ver a minha mãe a lavar as roupas no rio”, conta.
Depois de uma tarefa destinada às mulheres, começa a malha do trigo por três homens às ordens de um capataz. Se a plantação de arroz era árdua, esta tarefa não era muito diferente. Manuel José Menino foi um dos muitos que trabalhou muitos anos a malhar o trigo. Um trabalho “bastante duro e totalmente manual” que exigia muitas horas para que o trigo ficasse bem malhado nas eiras.
O trabalho termina e o bailarico está pronto para começar. Enquanto as mulheres se juntam para conversar, os homens vão buscá-las para darem um ‘pezinho de dança’. Mas, como os momentos de pausa e de convívio também passavam pelos jogos tradicionais, homens e mulheres puderam mostrar os seus dotes no jogo do pião ou lançamento do ringue ou mesmo nas cordas de saltar. Tempos que já lá vão, mas que não se esquecem...

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