Nossa Senhora das Maravilhas promove o convívio entre gerações
Festas de Santos e Atalaia, no concelho de Santarém, são uma oportunidade para os jovens e os mais velhos se envolverem em prol de uma causa comum.
As festas de Santos e Atalaia, em honra de Nossa Senhora das Maravilhas, cumpriram mais uma vez o objectivo de reunir a população e forasteiros em animado convívio num programa que junta a celebração religiosa e a animação pagã com muita música, gastronomia e apontamentos vários. A Associação Recreativa de Melhoramentos de Santos organizou a festa, com um orçamento de cerca de vinte mil euros, que segundo o tesoureiro da associação, Óscar Prudêncio, é só para pagar a animação musical. As outras despesas são asseguradas pelo peditório pelas ruas da aldeia, venda de refeições e outras iniciativas que fazem parte dos festejos.
A festa de Santos conta com a ajuda dos jovens da aldeia que, como afiançam Inês Prudêncio, Beatriz Moringa, Edite Santos e Rafael Ganaipo, ajudam em toda a organização com gosto e orgulho. É a única altura do ano em que os mais novos e os mais velhos podem conviver em pleno, visto que as tarefas do dia a dia e os locais de trabalho longe da aldeia impedem o convívio entre todos, durante o ano.
A componente religiosa das festas em honra de Nossa Senhora das Maravilhas assume particular importância. E este ano ainda mais pelo facto de a missa e procissão terem sido presididas pelo padre Rúben de Figueiredo, um jovem natural de Achete mas com fortes raízes famliares em Santos. José Carlos Duarte, natural de Santos mas a viver em Alverca, confidenciou a O MIRANTE
que era um orgulho estar na sua terra e ver os jovens tão motivados para estes festejos.
José Carlos Duarte é o vice presidente da Associação Recreativa de Melhoramentos de Santos e apesar de residir fora todos os fins de semana vem para Santos, porque quer ajudar a sua terra a “ficar ainda mais linda para receber quem por cá passa”. E são muitos os peregrinos que ali passam em direcção a Fátima e Santiago de Compostela. José Carlos garante que vai continuar a motivar a população para fazer a recuperação de casas, edifícios públicos e propriedades agrícolas com o objectivo de tornar mais aprazível a sua terra e motivar mais jovens a fixarem-se na aldeia.
Os tradicionais bolos ferradura
Há tradições que ainda são o que eram, José Carlos Duarte lembrou que os bolos de noiva em forma de ferradura são únicos no país e é importante preservar esta tradição. A Associação Recreativa de Melhoramentos de Santos pretende que estes “bolos ferradura” típicos da aldeia de Santos possam ser certificados e tornarem-se imagem de marca da aldeia e da região. As tradicionais fogaças oferecidas pela população de Santos e Atalaia, para serem licitadas na festa, têm sempre os tradicionais bolos, que de acordo com José Duarte são os primeiros a ser licitados e arrematados por quem oferecer melhor preço.
A gastronomia da festa prima pela qualidade, assegurada por produtos da região comprados pelo vice-presidente, segundo indicação do cozinheiro de serviço, o chefe Correia, cozinheiro da Marinha de Guerra portuguesa, que acedeu ao convite para fazer os manjares na festa de Santos. Pratos de carne de porco à alentejana, bifinhos à chefe Correia ou posta de bacalhau à chefe cigano fizeram as delícias dos muitos comensais que encheram a sede da Associação Recreativa de Melhoramentos de Santos e de outros que encomendaram para levar para suas casas. Tudo isto a par dos tradicionais petiscos regionais, o chouriço assado, a morcela, os queijinhos da região, e tantos outros devidamente acompanhados pelo vinho da região.
A lenda de Nossa Senhora das Maravilhas
É com o nome de Nossa Senhora das Maravilhas que a mãe de Jesus é venerada, desde tempos imemoriais, na aldeia de Santos, concelho de Santarém. A tradição oral, transmitida de pais para filhos durante gerações, diz que a antiquíssima imagem de Maria, existente na actual capela de Santos, terá sido recolhida de uma ermida (capela construída num ermo), conhecida por ermida dos Peruzinhos, que existiu a nascente do povoado, ao cimo de um pequeno vale, à beira do antigo caminho que levava a Pernes, sítio ainda hoje designado por Vale Santos. Da ermida hoje apenas restam escombros.
Diz a lenda que uma jovem andaria ali, nas imediações da ermida, a pastorear umas ovelhas, chorosa e com fome porque em casa não havia que comer. Em tal situação, uma “senhora” a interpelou, procurando saber a razão do seu choro, tendo a mesma invocado a falta de pão em sua casa. A “senhora” ter-lhe-á dito que voltasse para casa, pois ali encontraria pão para matar a fome. A jovem assim fez e ali encontrou o pão que necessitava. Tal visão foi considerada, desde então, não se sabe quando, pelas pessoas como sendo a imagem de Nossa Senhora.
João Gil natural de Santos e residente em Queluz, um estudioso da história da sua terra, diz que também não se sabe quando foi construída, no pequeno povoado, a capela onde foi colocada aquela imagem, trazida inicialmente da ermida em ruínas ou da casa de algum particular onde esteve temporariamente guardada, com o nome de Nossa Senhora das Maravilhas.
Esta última capela existiu até à implantação da República. No seu lugar foi construída uma escola primária e residência do professor e família. Uma manifestação de que o regime republicano privilegiava a instrução em detrimento da religião.
Mais uma vez aquela imagem, e certamente algumas alfaias litúrgicas, foi guardada em casa de particulares até que o povo de Santos construísse uma nova capela, defronte da escola, o que veio a acontecer. Com a degradação do edifício escolar construído no início da República e a sua substituição por uma nova escola, na periferia da localidade, voltou a população a construir uma nova capela, a actual, no lugar da primitiva.