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“O jornalismo de proximidade é imprescindível nos nossos tempos”

“O jornalismo de proximidade é imprescindível nos nossos tempos”

Octávio dos Santos, jornalista e escritor de Alverca do Ribatejo, apresentou três das suas obras no Museu Municipal de Alverca e realçou a importância do jornalismo de proximidade que foi o pontapé de saída da sua carreira.

O

ctávio dos Santos, 52 anos, passou por vários meios nacionais, mas nunca perdeu a ligação à imprensa regional e manteve-se leitor assíduo de O MIRANTE. Além do jornalismo, já publicou vários livros de ficção científica, colectâneas de contos e poemas e ainda colaborações com outros autores. Três dessas obras – “Q – poemas de uma quimera”, “Luís António Verney e a cultura luso-brasileira do seu tempo” e a mais recente, “Nautas” - foram apresentadas no sábado, 7 de Outubro, no Museu Municipal de Alverca. Antes da sessão, o autor falou a
O MIRANTE da importância do jornalismo regional, de alguns dos episódios que mais o marcaram na profissão e da importância da leitura.

Quando é que despertou em si o “bichinho” da escrita? Comecei a escrever poemas aos 13 anos e até hoje já experimentei todos os géneros excepto teatro. Se a questão é transmitir ideias, reflectir e dar conta de algo que possa ser desconhecido, é só escolher o género e arriscar.

Como é que arriscou começar no jornalismo? Comecei no Notícias de Alverca em 1985 e estive lá dois anos, que foram muito intensos porque acompanhámos muitos assuntos não só na freguesia de Alverca como no concelho de Vila Franca de Xira, como o acidente ferroviário da Póvoa de Santa Iria e a luta pela manutenção do Museu do Ar, na sua totalidade, em Alverca.

O acidente na Póvoa de Santa Iria marcou-o? Sim, perdi lá amigos e outros ficaram marcados para sempre. Custou-me escrever sobre o que aconteceu. Conheci casos de pessoas que escaparam por pouco, ou porque costumavam ir na carruagem traseira e por alguma razão decidiram ir numa mais à frente e escaparam com alguns ferimentos, ou outros que costumavam apanhar o comboio e naquele dia não o fizeram.

O seu trabalho teve visibilidade fora de Alverca? Sim, acabou por ser o ponto de partida para, por exemplo, participar na criação do Boletim da Associação de Estudantes do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), onde estudei. Perceberam que já tinha experiência com a área da informação e convidaram-me. Depois pensei seguir Marketing, mas o Jornalismo acabou por vencer.

Passou por vários meios e colaborou com outros tantos a nível nacional e local. Como vê o papel da imprensa regional? É fundamental para quem quer saber o que se passa na sua terra, que muitas vezes não é coberta pelos órgãos nacionais. É fundamental saber as coisas ao pormenor, como foi o caso das autárquicas, em que se sabia exactamente quem tinha ganho e qual a evolução da abstenção em cada freguesia e concelho. E descubro muitas coisas na imprensa regional. O jornalismo de proximidade é imprescindível nos nossos tempos.

Leio O MIRANTE com regularidade e tenho de o saudar por um pormenor importante: por não se ter submetido ao novo Acordo Ortográfico, contra o qual me tenho batido. É algo vergonhoso e saúdo os vários jornais regionais que, ao contrário dos ditos nacionais mantêm o acordo antigo.

Como vê a evolução tecnológica a que o jornalismo tem assistido? Nem tudo é positivo, mas era inevitável. A multiplicidade de fontes e meios de informação é boa, mas por vezes leva a que o rigor seja menor. Já não se espera tanto. E as vozes mais experientes vão sendo afastadas, não porque não se adaptem às novas tecnologias mas porque é mais caro mantê-las.

Muitos jornais e revistas têm vindo a passar para o online. Isto é mau? Não. O online tem imensas vantagens, um grande alcance e permite a actualização constante dos assuntos. Consumimos cada vez mais informação em formato digital mas, ao contrário do que se dizia, os livros continuam a ter mais saída em papel do que em ebook.

Foi fácil para si publicar os livros de ficção, contos e poesia? Não. Andei anos a bater à porta de todas as editoras que conhecia, sem sorte alguma. É mais fácil nomear as editoras a que não fui. E quando escrevi o meu primeiro livro de contos, “Visões”, publicado em 2003, estava na altura na revista Comunicações e tinha na redacção alguém que também já estava a ser publicado por uma editora que hoje já não existe, a Hugin, e foi lá que publiquei esse livro.

Vários dos seus livros foram publicados por altura das efemérides que se relacionam com os enredos deles. Não é coincidência? Não, é de propósito. Por exemplo, participei numa colectânea de contos, “A República Nunca Existiu”, que imagina um Portugal onde nunca se deu o regicídio de D. Carlos I e a monarquia continuou a existir. A “História Alternativa” é um género muito popular no mercado estrangeiro, dentro da ficção científica e do fantástico. Cá ainda não se faz muito, mas essa antologia teve impacto entre 2008 e 2010, foi muito debatida.

Lê-se menos poesia do que prosa em Portugal? Sim, apesar de haver muita poesia e muitos poetas. A minha poesia é muito trabalhada, uso muito a rima e gosto de assegurar o máximo de impacto, escrever sempre sobre algo original.

Que género de livros prefere ler? Leio tudo! Mas dentro da ficção talvez prefira ficção científica. Curiosamente, mais que pela literatura, fui introduzido a esse género pelo cinema e pela música. Blade Runner e Aliens são alguns dos meus filmes preferidos.

A vivência ribatejana reflecte-se na sua obra? Sim, não tenho dúvidas de que enquanto autor e jornalista, viver perto do rio Tejo, saber o que ele significa e o que podemos retirar dele acaba por se reflectir naquilo que escrevo e penso. Tenho nos grandes autores do Neo-Realismo fontes de inspiração: Soeiro Pereira Gomes, Alves Redol, entre outros. Respeito muito este movimento literário porque reflectia as condições de vida do povo desta região.

As três obras mais recentes sintetizadas pelo autor

“Q - poemas de uma quimera” é a minha versão da História de Portugal aludindo a factos históricos e mitos, publicado em 2015 no dia em que se comemoram 500 anos da morte de Afonso de Albuquerque, grande figura do nosso concelho, 600 anos da conquista de Ceuta e 250 anos do nascimento de Bocage, que é uma das minhas personagens literárias e históricas preferidas.
Seguiu-se “Luís António Verney e a cultura luso-brasileira do seu tempo”, em 2016, mas a comemorar a efeméride em 2013 dos 300 anos do nascimento desta grande figura do Iluminismo português. O livro demorou a sair porque foi preciso compilar mais de trinta textos com os discursos dos oradores do colóquio que deu origem ao livro.
E o mais recente, “Nautas”, foi publicado este ano, em que se assinalam os 20 anos do Livro Verde da Sociedade de Informação, que era o grande plano de acção para a sociedade portuguesa do Estado para modernizar tecnologicamente o país, e reflecte aquilo que eu vivi na cobertura de uma série de iniciativas público-privadas nesse sentido.

“O jornalismo de proximidade é imprescindível nos nossos tempos”

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