“Apanho todo o tipo de pessoas do outro lado do telefone”
Inês Forte, 29 anos, é operadora da central de operações e telecomunicações do quartel dos Bombeiros Voluntários de Alverca do Ribatejo.
“Bombeiros Voluntários de Alverca, bom dia!”. É desta forma, com a sua voz doce, que Inês Forte, 29 anos, residente em Alverca, atende as chamadas que chegam à central de operações e telecomunicações do quartel dos Bombeiros Voluntários de Alverca do Ribatejo (BVA). Sobre os seus ombros recai a responsabilidade de atender e encaminhar todas as chamadas e dar ordem de saída das equipas de socorro. Inês é uma dos quatro operadores da central e também voluntária nos bombeiros, tanto nas emergências médicas como e acidentes de viação ou outros incidentes da “Linha Branca”, a mais voltada para a saúde, ou da “Linha Vermelha”, termo usado para as viaturas de combate a incêndios urbanos e florestais.
Inês nasceu em Lisboa, a 19 de junho de 1988. Os pais são da Bobadela, concelho de Loures, mas mudaram-se para Alverca quando ela tinha três meses. Fez lá toda a escolaridade: do 1º ao 4º ano esteve na Escola do Brejo e do 5º ao 9º na Escola 2,3 Pedro Jacques de Magalhães. Não foi para o ensino secundário por não querer prolongar os estudos e porque os BVA, de que já fazia parte, começavam a conquistar-lhe cada vez mais tempo. “A minha ideia era trabalhar de dia e estudar à noite, o que entretanto não se concretizou”, confessa. Começou aos 16 anos a trabalhar nos supermercados Cooperativa, em Alverca, de onde saiu ao fim de um ano para passar para uma fábrica de produção de peças diversas em Samora Correia, concelho de Benavente. Esteve lá durante cerca de dois anos e saiu para ir permanentemente para os BVA.
Os Bombeiros foram sempre a sua prioridade na carreira. Juntou-se como voluntária aos 15 anos, inspirada por amigos que já faziam parte da corporação. No início sonhava tornar-se socorrista e foi com entusiasmo que frequentou as formações dos cadetes e estagiários. Aos fins-de-semana acompanhava os bombeiros mais velhos nas ambulâncias, algo que preocupava a mãe e a levava a impedi-la de ir nas noites de semana, dando a desculpa de que não queria que ela fosse cansada para a escola no dia seguinte. “Era uma forma de ela me manter longe do perigo. Eu ouvia a sirene a tocar e ficava nervosa em casa por não poder ir, porque era só atravessar a rua entre a minha casa e o quartel, mas a minha mãe não deixava”.
Ao chegar aos 18 anos passou a bombeira de 3ª e aos 19 recebeu o convite da direcção dos BVA para se tornar funcionária oficial e operadora da central de telecomunicações. “Ao início não fiquei muito contente com a ideia, porque uma rapariga de 18 anos não quer estar todo o dia fechada na sala da central a ver os colegas saírem para onde estava a acção”.
Ainda assim, aceitou e hoje é uma função que desempenha com orgulho, muito embora a leve a passar por alguns momentos tensos: “Apanho todo o tipo de pessoas do outro lado do telefone, em todos os níveis de stress. Algumas são simpáticas, outras tratam-nos mesmo muito mal porque estão fora de si e querem que enviemos logo uma ambulância e não compreendem que precisamos de fazer perguntas para recolhermos o máximo de informação possível sobre a situação que vamos encontrar. Por exemplo, se for um acidente de viação, é preciso saber quantas viaturas estão envolvidas, se são ligeiras ou pesadas e quantos passageiros levava cada uma para percebermos os meios que precisamos de enviar”.
Há nove anos como operadora da central dos BVA, Inês começou como operadora de reforço no Centro Distrital de Operações de Socorro de Lisboa (CDOS) o ano passado, ciente de que durante o seu turno, que dura oito horas, nenhuma viatura nem bombeiro sai do quartel sem o seu alerta prévio. Porém, se vive momentos de grande tensão também vive outros mais felizes: “Há pessoas que nos ligam aqui para a central para nos agradecerem pela ajuda que lhes demos, o que nos faz sentir muito bem e nos mostra como aquilo que fazemos é importante”.