Luta interna no PS de Santarém começa com autarcas do PSD a assistir
Sessão de apresentação da candidatura de José Miguel Noras à concelhia socialista envolveu uma homenagem a autarcas que cessam o mandato, o que levou o presidente da câmara, Ricardo Gonçalves, a aceitar o convite para estar presente e a assistir, involuntariamente, a momentos da vida íntima do PS.
Vários militantes do PS de Santarém não esperaram que o pó asssentasse sobre a derrota de Rui Barreiro na noite eleitoral de domingo, 1 de Outubro, e a luta pela sua sucessão à frente da concelhia socialista começou logo na segunda-feira, quando José Miguel Noras convocou a comunicação social para assistir à “pré-apresentação” da sua candidatura à concelhia no dia seguinte, 3 de Outubro.
E o mínimo que se pode dizer é que Noras, que já foi líder da concelhia do PS e presidente da Câmara de Santarém entre 1992 e 2002, entre outros cargos autárquicos, encenou esmeradamente o seu regresso à política activa. Desde logo pela escolha do local, a Casa do Brasil, uma das suas obras de bandeira enquanto autarca; e também por englobar na mesma sessão uma homenagem - na pessoa do ainda presidente da assembleia municipal, António Pinto Correia (eleito pelo PSD) – aos autarcas do concelho que cessam funções, a que o presidente da câmara reeleito, Ricardo Gonçalves (PSD), também assistiu, não sem antes testemunhar alguns momentos da vida íntima do PS. Nomeadamente quando o vereador socialista António Carmo leu a mensagem da mandatária da candidatura de Noras, a deputada e ex-vereadora Idália Serrão, que terminou precisamente com um “Viva o PS!”.
Ricardo Gonçalves não escondeu algum desconforto com o arrastar da sessão e também por ser arrastado para uma guerra que não é dele, tendo deixado claro a O MIRANTE que esteve presente como convidado para a homenagem a Pinto Correia, sendo alheio ao alinhamento do programa seguido nessa tarde. Outro elemento do PSD na plateia foi Jorge Rodrigues, recentemente eleito vereador.
O presidente da câmara saíria após a homenagem aos autarcas - também personificada no presidente de junta, António João Henriques -, quando Noras se aprestava para apresentar formalmente a candidatura. Antes já tinha ouvido o empresário José Júlio Eloy ler uma nota biográfica do candidato, que levou mais de 15 minutos, e o advogado Joaquim Martinho da Silva, fundador do PS em Santarém, ler um texto de um dos livros de José Miguel Noras.
“Rui Barreiro já se devia ter demitido” da concelhia do PS
O agora candidato à liderança do PS/Santarém disse que, após a derrota de 1 de Outubro, Rui Barreiro já se devia ter demitido e que as eleições para a concelhia do PS já deviam estar marcadas. Admitiu que alguns “perdedores natos” o queiram defrontar na luta interna partidária e afirmou que o PS não pode ficar apático na oposição durante os próximos quatro anos, exortando os quatro vereadores eleitos pelo PS a assumirem os mandatos para que foram eleitos.
Sobre o resultado obtido nestas eleições autárquicas por Rui Barreiro e pelo PS, disse que já o esperava. Noras acha que Rui Barreiro “não tem qualquer condição” para continuar como presidente da concelhia do PS, mas defende que deve assumir o cargo de vereador, pela sua experiência e qualificações. “O facto de não ter tido os votos suficientes não o isenta de dar o seu contributo”, afirmou.
Na plateia encontravam-se alguns (poucos) militantes socialistas, como o vereador Sérgio Cardoso e o eleito da assembleia municipal Renato Bento, que ouviram ainda Noras dizer que o momento é de unir forças para que daqui a quatro anos o PS se possa apresentar com uma alternativa credível e ganhadora nas autárquicas.
E ficaram também recados para os futuros vereadores. Noras não quer uma oposição acomodada e diz que vai determinar que os vereadores trabalhem, que ajudem os outros. “Estou aqui lutando por Santarém. Entendo que não é altura de atirar pedras a quem quer que seja. Não é altura de rasgar, é tempo de coser. Não é tempo de destruir, é tempo de edificar”, disse.