uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

O valor do lugar

Depois da devastação do fogo apenas ficou o mais intangível mas, talvez, o mais importante: a alma, o que só sente quem lá vive. Afortunadamente, esse pouco pode ser muito, é muito. Na verdade, este espaço de proximidade tem a força necessária para levantar a cabeça. O lugar, a nossa terra, a melhor do mundo, faz parte de nós, somos um. Este espaço geográfico a que chamamos lugar é muito mais que uma posição e uma situação geográfica, assume uma natureza relacional, a ideia de que existe uma relação entre o lugar e as coisas ou os indivíduos que aí se encontram.

Quando nada sobra resta o lugar. A alma do lugar, a identidade de cada lugar, os vizinhos de sempre, a nossa gente, os iguais. Dramaticamente, este é o quadro dos nossos lugares. Depois da devastação do fogo apenas ficou o mais intangível mas, talvez, o mais importante: a alma, o que só sente quem lá vive. Afortunadamente, esse pouco pode ser muito, é muito. Na verdade, este espaço de proximidade tem a força necessária para levantar a cabeça. O lugar, a nossa terra, a melhor do mundo, faz parte de nós, somos um. Este espaço geográfico a que chamamos lugar é muito mais que uma posição e uma situação geográfica, assume uma natureza relacional, a ideia de que existe uma relação entre o lugar e as coisas ou os indivíduos que aí se encontram. Se o espaço é infinito, o lugar é circunscrito, associado a um limite. O lugar remete para a segurança, a estabilidade. O lugar é menos abstrato que o espaço, sendo composto por um certo número de valores que cada indivíduo apropria. Por outro lado, o espaço é indiferenciado. Ou seja, quando um indivíduo pára ele tem a possibilidade de transformar o espaço em lugar. Esta reflexão foi inicialmente considerada pelos geógrafos anglo-saxónicos, como D. R. Sack e, mais tarde, reanalisada nos anos 1980 pelos geógrafos franceses que se interessaram pelas representações, nomeadamente respeitantes aos laços relacionais que se estabelecem entre os homens e o lugar. Os lugares não são pontos. Têm uma profundidade que os aproxima da noção de paisagem, isto porque a paisagem é o que se vê mas pode também ser posta em questão. O que é que a paisagem significa? O que é que este lugar significa? Para responder a estas questões é necessário apelar a dimensões religiosas, culturais, sociais, económicas, etc. E, felizmente, tudo isto temos em quantidade suficiente para mantermos a Esperança de um campo vivo e vivido. Assim seja.
Carlos A. Cupeto
Universidade de Évora

Mais Notícias

    A carregar...