No Lar da Fundação Padre Tobias são raros os residente que não têm visitas
Há um emigrante em França que só pode visitar uma tia quando vem a Portugal mas nunca falha e há o caso de duas irmãs que não se vêem porque estão em lares diferentes, a mais de cem quilómetros um do outro, mas de acordo com os responsáveis do Lar da Fundação Padre Tobias em Samora Correia, a maioria dos residentes recebe visitas, mesmo que possam ser muito espaçadas.
Só um dos sessenta e oito residentes do Lar da Terceira Idade da Fundação Padre Tobias, em Samora Correia, não recebe qualquer visita de familiares ou de amigos. A situação dura desde a sua ida para lá, encaminhado pela Segurança Social, já lá vão mais de três anos.
A situação foi relatada a O MIRANTE pela técnica Ana Lino, que acompanhou uma jornalista durante uma reportagem no local, cuja parte principal foi publicada na edição da semana passada, com o título “No Mundo Solidário e Humano da Fundação Padre Tobias”. Aquela funcionária não revelou dados sobre o caso para não violar a privacidade da pessoa mas disse que na base daquela situação excepcional está uma doença e o corte de relações com a família que é anterior à chegada ao Lar.
Há um ou outro residente de idade muito avançada e com graves problemas de saúde que também pode não receber visitas regulares porque os raros familiares residem longe, por exemplo, mas a maioria das pessoas são visitadas com mais ou menos frequência.
Albina Soares, de 94 anos, viúva e sem filhos, está a viver no Lar há quase cinco anos e é visitada, pelo menos uma vez por ano por um sobrinho que está emigrado em França. “Ele vem ver-me sempre que está em Portugal de férias, ou no Verão ou no Natal. E já me tem visitado de surpresa. Uma vez estava aqui sentada, olhei para a porta e ele estava a entrar. Nessas alturas eu fico muito contente”, conta.
Há também uma amiga que a visita de vez em quando mas infelizmente, não é visitada pela irmã, uma vez que ela também reside num lar mas a mais de 140 quilómetros de distância, em Pombal.
Ainda de acordo com as informações dadas por Ana Lino, a grande maioria dos idosos que reside no Lar da Fundação Padre Tobias, em Samora Correia, recebe visitas regulares de familiares ou de amigos e se alguns não são visitados mais amiúde é porque as famílias moram longe ou têm vidas demasiado ocupadas. Há também um ou outro caso de afastamento devido a conflitos familiares.
Entre os que recebem menos visitas encontra-se Rosa Serrano. Tem 91 anos e há seis que a filha, com quem vivia depois de enviuvar, a colocou no Lar por não poder continuar a cuidar dela devido aos seus próprios problemas de saúde. “Gostava mais de estar em casa da minha filha e ver os meus netos todos os dias, mas ela não me pode ter lá e também não sou infeliz aqui, sou muito bem tratada”, confessa Rosa, que, apesar de tudo, não está esquecida e continua a receber visitas da filha e dos netos, sempre que lhes é possível.
Patrocínia Pires, 89 anos, insere-se na situação da maioria dos residentes. O marido, que chegou a frequentar consigo o Centro de Dia e que estava inscrito na lista de espera para o Lar juntamente consigo, faleceu antes de abrirem vagas. Mas Patrocínia Pires não está sozinha, como ela própria conta. “É raro o dia em que um dos meus netos não me vêm cá visitar e não me leva a passear com ele”.
Objectos pessoais são permitidos mas animais de estimação não entram
Os residentes do Lar da Fundação Padre Tobias, em Samora Correia, estão autorizados a ter junto de si alguns utensílios que trazem de suas casas. É uma forma de minorar o facto de terem que abandonar as casas onde muitos viveram uma vida inteira, apesar de muitos dos quartos serem partilhados com outras pessoas.
Patrocínia Pires é uma das muitas residentes que trouxe consigo alguns objectos que a ajudam a sentir-se um pouco como em sua casa. “A colcha da cama, a televisão, as molduras e as fotografias, as almofadas e as figuras daquele altar que montei ali são minhas. Trouxe tudo da minha casa”, conta, sem se esquecer de apontar para a fotografia que tem sobre a cabeceira da cama, onde está ao lado do falecido marido.
O que não os utentes não podem ter consigo são animais de estimação. “Já tivemos um utente que quis trazer o animal de estimação mas acabou por compreender que não podíamos permitir aquela situação” conta a técnica Ana Lino.
Apesar de não permitir a presença de animais de estimação, a direcção do Lar está a tentar criar uma situação que também permita minorar essa ausência. “Sabemos como a relação com os animais de estimação é importante e gostávamos que os nossos utentes não tivessem de prescindir dela aquando para aqui vêm. A pensar nisso, o ano passado pedimos ao Canil de Benavente que trouxesse dois cães para passarem um dia a interagir com os idosos e eles adoraram. Também estamos em conversações para ver se é possível termos pelo menos um cão, que seria a nossa mascote”, refere a técnica destacada para acompanhar O MIRANTE.