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Café da Mónica

Como num banco de jardim, curiosamente por estas paragens este simples equipamento urbano generalizou-se por todo o tipo de espaço muito para além do jardim, uma mesa de café é excelente para observar.

Valverde é uma aldeia bem próxima de Évora, junto a importantes instalações da universidade. Fui até lá com os alunos fazer um trabalho de campo. Uma tarde fantástica para retratar bem o país que somos. Ainda falta ver o que vai sair dos relatórios mas confesso que a expetativa não é grande. Certamente que o professor também tem responsabilidade na qualidade dos trabalhos mas essa é outra história.
Uma das razões porque Valverde foi escolhida respeita ao transporte que a universidade assegura através de autocarro. A primeira pedrada surgiu quando no autocarro só viajei eu e três alunos dos cerca de 20. Todos os outros deslocaram-se em viatura própria. Obviamente que se perdeu parte da coisa, alguns perderam-se, etc. Vale a pena comentar? Pese embora toda a preparação anterior, no terreno a nota dominante foi distanciamento face ao que estávamos ali a fazer. Na verdade, como quase sempre acontece, a cultura não é a do trabalho/aprendizagem mas sim o “fazer um exame para ter uma nota”. Depois do acompanhamento considerado necessário e suficiente refugiei-me intencionalmente no café da Mónica. Em Valverde, nesta matéria, a oferta é enorme pela proximidade da universidade e da procura que existe. Como num banco de jardim, curiosamente por estas paragens este simples equipamento urbano generalizou-se por todo o tipo de espaço muito para além do jardim, uma mesa de café é excelente para observar. A Mónica e a sua mãe são muito simpáticas. A meio da tarde os clientes não são muitos e, talvez por isso, a Mónica foi à sua vida montada na clássica pick-up que não é automóvel nem jeep e serve para tudo menos para aquilo que foi concebida; designadamente para ter uma utilização mais cara e desconfortável que um automóvel. Já repararam a quantidade de pick-ups que circulam nas nossas estradas longe da sua função? Com o avançar da tarde os clientes foram aumentando e a determinada altura a mãe da Mónica, na casa dos sessenta e alguns, tem um desabafo bem alto: “Ninguém vai a Évora comprar castanhas assadas?”. Bate-me forte. Uma multiplicidade de questões invadem-me, mas minhas respostas são claras e inequívocas. Resta-me uma pergunta: como pode Portugal ser diferente?
Carlos A. Cupeto
Universidade de Évora

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