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Um “médico do povo” que ganhou o carinho da Póvoa de Santa Iria

Um “médico do povo” que ganhou o carinho da Póvoa de Santa Iria

Moradores recordam histórias de um homem à frente do seu tempo

Isidro Santos e Natércia Freire são um casal de vanguarda do seu tempo que fica para sempre vincado na memória da Póvoa de Santa Iria. Ela uma jornalista e poeta que se envolvia na vida da comunidade; ele um médico que nunca recusava ajudar quem precisava mesmo que fosse a meio da noite.

Um casal à frente do seu tempo que se envolvia na vida da comunidade da Póvoa de Santa Iria e que nunca recusava ajudar quem precisava. Eram assim Isidro Santos e Natércia Freire. Ele um médico incapaz de dizer não a quem o procurava e que, além do seu lado clínico, era também muito ligado ao associativismo, um conselheiro, um ombro amigo de quem precisava. Ela uma mulher de sensibilidade poética invulgar para o seu tempo.
A memória de ambos foi invocada este sábado, 18 de Novembro, durante o lançamento na biblioteca da cidade da fotobiografia de Natércia Freire, onde vários moradores deram o seu testemunho sobre a vida do casal. Isidro Santos, médico, nasceu em Benavente em 1911 e morreu em 2002. Era um homem em quem toda a gente confiava e para quem não havia horário. Atendia os doentes mesmo quando estes lhe batiam à janela do quarto durante a noite. Não seguia qualquer fé, dono de uma personalidade forte e gostava de praticar desporto. Fez o parto da primeira filha, Isabel.
Quando chegou à Póvoa o seu primeiro trabalho chegou-lhe de noite quando dormia. Foi a mulher, Natércia, quem lhe deu o empurrão para fora da cama. Ia de mota para acudir a quem precisava. Foi o primeiro médico a interessar-se pela vida dos operários das fábricas e a ir visitá-los. Tinha o hábito de jogar ténis, boxe e luta greco-romana. Uma avença com a antiga casa agrícola do Mouchão da Póvoa levava-o por diversas vezes àquela ilha do Tejo.
“Quando o chamavam ia de barco mas levava o fato de banho e, no regresso, vestia-o, punha a roupa num saco e vinha a nadar atrás do barco, do mouchão até à Póvoa”, recorda a filha, Isabel. Quando ia ao cinema, Isidro Santos dizia previamente à mulher em que fila e lugar estava sentado, para o caso de alguém precisar de ser atendido durante o filme. “Era outro tempo e a medicina mudou. Hoje a medicina é de sábios”, recorda Isabel.

Testemunhos de vidas salvas
Nos anos 50, Agripina Moreira viu a família ser devastada pela tuberculose. Valeu-lhe o médico Isidro. “Estavam sempre disponíveis para ajudar quem precisava. Era um tempo em que não havia centro de saúde e o doutor Isidro conhecia todos os dramas que se passavam. Eu e quase toda a minha família apanhámos tuberculose e graças a ele conseguimos ser encaminhados para tratamento. Tanto ele como Natércia foram pessoas ímpares”, recordou.
Quem também privou de perto com o casal foi António José. “O Isidro era o padrão de médico que já não existe. Abria sempre a porta a quem batia, excepto se estivesse a fazer trabalho na associação. Se assim fosse, a Natércia tomava nota do problema e reportava-lhe logo que ele chegasse. Era um homem que intercedia pelos seus doentes e nunca mais os largava. Éramos uma população carente, sem posses, que sabia que podia contar com ele”, recorda.
Também Avelino Amorim, que vivia perto da família, recorda um casal sem igual. “Salvou-me a vida e cá estou”, notou. Já no que toca à poesia, Isidro Santos era um “juiz independente” do trabalho de Natércia Freire. “Reservava o elogio para o momento certo”, confessa Isabel Corte-Real, a filha autora da autobiografia.
Já Natércia, quando não estava mergulhada na poesia, gostava de se envolver na comunidade. Nascida em Benavente, em 1919, escreveu “até fechar os olhos”, em 2004. Aos 20 anos já tinha publicado três livros. Esteve sempre muito ligada à conferência de São Vicente de Paulo, na Póvoa, e foi com a sua ajuda que se realizou um concerto de angariação de fundos para construir a igreja da terra, concerto onde participou, à época, Amália Rodrigues.

Uma vida em imagens

A fotobiografia de Natércia Freire foi apresentada pela autora, Isabel Corte-Real, filha da poeta, e da editora Aletheia de Zita Seabra. O grupo Poesia no Palácio leu poemas da obra de Natércia Freire. Para Isabel Corte-Real, a escrita e a organização da fotobiografia tiveram como princípio orientador a obra literária de Natércia Freire, as relações sociais, o seu espírito solidário e a sua fé.

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