Projecto artístico com doentes mentais em Santarém ajudou a diminuir estigma
Estudo realizado por docentes e alunos das Escolas Superiores de Gestão e de Saúde indica que o Incluir é uma aposta ganha.
Um estudo realizado no âmbito do projecto Incluir, do Departamento de Psiquiatria e Saúde do Hospital de Santarém, concluiu que as iniciativas realizadas no último ano na comunidade ajudaram a reduzir o estigma da doença mental.
O estudo, realizado por docentes e alunos das Escolas Superiores de Gestão e de Saúde do Instituto Politécnico de Santarém, tem por base 420 inquéritos realizados em Outubro de 2016, antes do início do projecto, e 420 realizados em Outubro deste ano, na fase final do “Incluir – Oficinas para Todos e Cada Um”, depois de um conjunto de iniciativas na comunidade realizadas com grupos inclusivos dinamizados por um artista plástico.
Carla Ferreira, enfermeira que integra a equipa responsável pelo projecto, disse à Lusa que os dados preliminares do estudo, apresentados recentemente em Santarém, demonstram que “o Incluir é um projecto ganho”, pois revelam “uma diminuição do estigma da doença mental” por parte da comunidade.
Carla Ferreira realçou que o projecto, com financiamento da Fundação EDP, permitiu a realização de dez oficinas em diferentes espaços da cidade e de seis exposições dos trabalhos desenvolvidos pelos dois grupos abrangidos, num total de três dezenas de pessoas.
Os grupos, orientados pelo artista plástico João Maria Ferreira, incluíram pessoas com doença mental, pessoas em risco de exclusão social e elementos da comunidade com vontade de aprender pintura.
A participação inclusiva e a visibilidade dada ao projecto, tanto pelas acções que decorreram em espaços públicos como pela difusão nos mais diversos meios de comunicação social, local, regional e nacional, ajudaram a uma “melhor aceitação” da doença mental, contribuindo para a redução do estigma de que estas pessoas são alvo. “Este é um tema pouco estudado a nível da psiquiatria, pelo que estes resultados são muito importantes”, disse Carla Ferreira à Lusa.
Os dados revelam, do primeiro para o segundo inquérito, uma redução das percentagens dos inquiridos que consideram que o doente mental deve ser internado (de 49% para 29%), que se declaram assustados (de 42% para 24%) ou que o acham perigoso (de 33% para 18%).
As oficinas artísticas realizadas ao longo do projecto visavam aferir se, potenciando as competências pessoais, relacionais e artísticas dos participantes, e consequente aceitação e reconhecimento do valor das pessoas com doença mental pela comunidade, ajudavam a minimizar o estigma e a exclusão social, salientou.